segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O pacto com o diabo, Curitiba e a vida literária em um romance

Estreia de Diogo Rosas G., ‘Até você saber quem é’ se passa no Brasil dos anos 1990
A estreia de um jovem autor de Curitiba que se torna um best-seller improvável com um romance em parte escrito em português do século XVI. A vida literária brasileira na década de 1990. Uma tragédia de repercussão nacional. “Grande sertão: veredas”, de Guimarães Rosa, e o pacto com o diabo. Todos esses elementos estão costurados na trama de “Até você saber quem é” (Record), primeiro romance de Diogo Rosas G.

Rosas, que é diplomata, conta que sua ideia era fazer com que o protagonista, o escritor Daniel Hauptmann, saísse de sua cidade natal coberto de glória, mas de maneira inesperada e espetacular.

— De tudo que estava ao alcance de Daniel, talvez escrever um romance fosse o modo menos óbvio para atingir esse objetivo. Pareceu-me que, no contexto brasileiro, alguém ficar realmente rico e famoso com um livro de estreia introduzia um elemento fantástico na narrativa que casava bem com outros temas importantes para a história — diz Rosas.


Um desses temas é o pacto fáustico. Daniel afirma que o diabo nunca foi devidamente abordado na literatura brasileira.


Há uma ironia aí. O diabo está, sim, presente na nossa maior obra-prima, “Grande sertão: veredas”. A tensão entre a opinião de Daniel e essa realidade é um dos principais assuntos do livro. O “pacto fáustico” é um tema que sempre me fascinou. Infelizmente para Daniel Hauptmann, tudo indica que ele não aceitava relatos de segunda mão sobre esses assuntos — aponta o autor.

Assim como Daniel e o seu melhor amigo Roberto, protagonistas do livro, Rosas também é curitibano. A cidade está bastante presente no romance, seja como paisagem das andanças da dupla, seja como uma assombração. Daniel mantém uma relação tensa com Curitiba. É lá que ele escreve o seu best-seller, alimentado por visitas à Biblioteca Pública do Paraná, mas a cidade também o sufoca. Em meio ao fascínio nacional pela capital paranaense na década de 1990, o escritor repete: “Não há nada lá”. Rosas saiu de Curitiba há 15 anos e afirma que sua relação é medida pela memória:

— Curitiba era bastante segura e tinha excelentes linhas de ônibus. Meus amigos e eu atravessávamos a cidade a todas as horas do dia e da noite. Busquei transportar essas recordações para o romance, montando o cenário onde os personagens se movem. Enfim, cada um tem que tentar fazer o melhor com a Dublin que Deus lhe deu.



[Foto: Tatiana Faucz - fonte: www.oglobo.globo.com]

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