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sábado, 19 de abril de 2025

« Chats sur ordonnance » : une thérapie féline pour l’âme

Syou Ishida, avec son roman « Chats sur ordonnance », nous invite à une expérience littéraire singulière, où les félins deviennent les thérapeutes de l’âme. Loin d’être une simple fiction animalière, ce livre explore avec finesse les liens complexes entre l’homme et l’animal, et interroge notre rapport à la souffrance et à la guérison.


Écrit par Karine Fléjo

Une clinique pas comme les autres

Au cœur de Kyôto, une clinique psychologique atypique voit le jour. Le Dr Nike y reçoit des patients de tous horizons, tous unis par un mal-être profond. Mais ici, pas de médicaments, pas de thérapies traditionnelles. Le traitement prescrit ? Des chats ! Chacun de ces félins, avec sa personnalité unique, va tisser un lien particulier avec son patient, l’aidant à surmonter ses difficultés.

Shûta, jeune homme victime de harcèlement au travail, Koga en proie à des difficultés de communication avec sa femme et sa fille ou encore Abino, une geisha inconsolable depuis la perte de son chat, tous vont trouver auprès de cette clinique pas comme les autres, un remède à leurs maux. Grâce à la compagnie des chats.

La thérapie animale

Chats sur ordonnance, publié par les éditions Albin Michel, s’inscrit dans le courant de la zoothérapie, qui explore les bienfaits de l’interaction avec les animaux sur la santé mentale. Plus précisément, les bienfaits des chats sur l’homme. Syou Ishida met en lumière la capacité des chats à apporter du réconfort, de la compagnie, à créer du lien et à favoriser l’expression des émotions.

Les personnages de « Chats sur ordonnance » sont souvent isolés, en proie au doute et à l’angoisse. Les chats deviennent alors des compagnons idéaux, leur permettant de renouer avec les autres et de retrouver un sens à leur vie. Le roman suggère que la guérison passe par l’acceptation de soi et de ses faiblesses. Les chats, avec leur indifférence apparente, poussent les personnages à se regarder en face et à lâcher prise.

C’est un roman d’une grande délicatesse, réconfortant comme un soleil de printemps, que nous offre Syou Ishida. L’auteur parvient à nous émouvoir tout en nous faisant sourire. Les descriptions des interactions entre les personnages et les chats sont particulièrement touchantes, et les dialogues sont souvent empreints d’une grande justesse psychologique.

Ce roman a le mérite de nous rappeler l’importance des liens que nous tissons avec les animaux, et de nous inviter à porter un nouveau regard sur nos compagnons à quatre pattes. Une ode à la vie, à l’amour et à l’espoir !

 

Informations pratiques

Chats sur ordonnance, Syou Ishida – éditions Albin Michel, octobre 2024 – 19,90€ – 315 pages

 

[Source : leschroniquesdekoryfee.wordpress.com]

sábado, 25 de janeiro de 2025

Biografia de um rei desumanizado e marcado pelo luxo religioso e o lixo da vida íntima

 D. João V é a nova investigação de Pedro Sena-Lino após ter redescoberto Marquês de Pombal. Um rei que a História nacional não esqueceu pelo luxo religioso e do lixo da vida íntima.

Depois da biografia sobre o marquês de Pombal, Pedro Sena Lino esclarece a história de um rei que marcou para sempre Portugal.

Escrito por João Céu e Silva

Após o sucesso da biografia do Marquês de Pombal, De quase nada a quase rei – Biografia de Sebastião José de Carvalho e Melo, publicada em 2020, Pedro Sena-Lino regressa com outra investigação, desta vez ao antecessor do rei D. José e a um dos monarcas mais exaltados da História nacional: El-Rei Eclipse – Biografia de D. João V. Quando se questiona o biógrafo sobre as principais dificuldades para retratar D. João V, pois foi sempre simplificado, também endeusado, e talvez em muito exagerado na sua abrangência enquanto rei, o autor não tem dúvidas e considera que este seu trabalho tem esse objetivo. Não sem antes reclamar que é um “biógrafo literário” e não o habitual autor deste género.

Aponta a sua intenção como a de “mapear a personalidade do biografado através da narrativa dos seus atos e do impacto das suas decisões e não decisões, bem como a dos eventos históricos”. Segue-se a esta cartografia, afirma, “a abertura de arcos de compreensão que depois outros poderão explorar”. Não é por acaso que explica o método utilizado: “Em Portugal, parece haver uma ocultação da esfera pessoal do político, que se é mais específica da monarquia não é exclusiva dela. O caso terá começado ou talvez se tenha complexificado com D. João V, que desenvolveu não apenas um sofisticado sistema de representação da autoridade real e da persona régia, mas inclusivamente formas diversificadas de estar presente e de se revelar: embuçado pela cidade fora, crescente à luz fértil das sombras; ou ainda embuçado mas dando a saber que estava presente, mas eclipsado, em lições públicas ou sessões solenes. Também saía de liteira, em atos menos públicos, ou a cavalo com pressa e garbo, ou ainda em coche em sublinhado majestático.”

Acrescenta que a visão por vezes enviesada sobre D. João V já vem de trás, do seu próprio tempo: “O uso do primeiro jornal impresso português, também órgão oficial, Gazeta de Lisboa, para descrever as movimentações piedosas da família real, sobretudo da rainha, correndo entre devoções, reforçam-no. O que quero dizer aos leitores de hoje e de amanhã é que esta separação em várias camadas e esferas levou-nos a ver o homem em funções, o rei pelo brilho. Se esse eclipse do governante o escudou e elevou, rouba porém ao presente as portas da sua personalidade: desumanizou-o. Fomos e somos governados por homens e, antes que as máquinas o façam, urge compreender sem facilitismos as personalidades dos nossos líderes. Nunca vamos resolver problemas sistémicos de conceção, uso e abuso de poder, sem o fazer. Uma biografia de factos desenterra-o e revela-o: é o seu poder mas também o seu dever.”

Será este registo muito próprio a chave do sucesso da anterior biografia sobre o Marquês de Pombal, que já chegou a uma pouco habitual quinta edição neste género de obras. O autor reconhece que foi surpreendido pelo interesse despertado: “Tinha consciência da dimensão incomensurável do Marquês de Pombal na psique lusófona, reforçada pela minha condição de emigrante e vendo-o a partir de fora. Porém, o interesse do livro confirma a sede que o público lusófono tem de conhecer os seus dirigentes e os seus fantasmas.” Não descarta outra ajuda: “Alguns leitores referiram-me o cansaço de tantas biografias romanceadas, que é um híbrido onde um género assassina o outro, comparada com a clarificação que produz uma biografia documentada e factual. Fora esse aspeto, interessam-me muito mais os sucessos a que outros leitores e investigadores poderão aceder a partir das luzes que essa biografia pôde rasgar. O sucesso maior é aquele que uma biografia traz: o alargar de consciência, onde todo e qualquer progresso se funda.”

É impossível não fazer comparações entre a execução dos dois trabalhos e se a investigação para D. João V foi mais complexa do que para Pombal. Explica o processo: “Foi como escavar continuamente e tanto tempo no quase vazio, mas depois desenterrar um maremoto. Tive de parar a investigação ou em vez de a executar, ela executar-me-ia e a biografia ficaria inacabada.” Avança como a desenvolveu: “Centrei-me nos jornais impressos e manuscritos, nas cartas dos embaixadores, em descrições de viajantes, e nas poucas cartas pessoais do rei ou dos seus próximos. Passei igualmente grande parte do tempo a desbravar arquivos, sobretudo franceses e romanos, também ingleses e portugueses, claro, mas estes em menor medida que para a outra biografia. Dois incêndios no Paço da Ribeira e depois o Terramoto destruíram muitos documentos. Em tudo encontrava pequenas referências, sussurros, cacos, sombras entrevistas. Anotava tudo e esses ecos distantes voltavam a aparecer meses, anos depois, noutras referências. Juntas compunham um perfil em puzzle.” 

Uma das forças destas biografias está também nas fontes diplomáticas consultadas: “No caso das francesas, que foram em parte trabalhadas antes por alguns historiadores, fi-lo sistematicamente para períodos-chave do reinado; o mesmo se aplica às fontes do Arquivo Apostólico do Vaticano. Contudo, compulsei também fontes nunca antes trabalhadas em Portugal.” Entre essas fontes estão as cartas de D. Catarina e a viagem do marinheiro sueco Carl Tersmeden, que visitou Lisboa duas vezes na década de 1730 e chegou a conhecer o rei e a família real. Ambas irão dar frutos proximamente, garante: “Preparo uma edição crítica das primeiras e a descrição da viagem do segundo. Este, ao passear por Lisboa na década de 1730, causava espanto, pois Tersmeden, alto e louro, passa pelas ruas e provoca a loucura nas mulheres, que repetem «Jesus, Maria, José». O sueco foi ainda íntimo de vários nobres e do banqueiro do rei.” Um terceiro trabalho está ainda previsto: “Uma edição de narrativas de viagens a Portugal.”

A importância das fontes é realçada pelo prefaciador da biografia, o historiador José Eduardo Franco. Concorda o autor com o título do prefácio, A arte de fazer as fontes falarem? Pedro Sena-Lino começa por definir essa introdução como uma “generosidade” do historiador, a quem Portugal deve muito: “A obra completa do Padre António Vieira, a de Pombal em curso, e de outras séries. É nessa generosidade de visão e de largo intérprete que leio muito grato essas palavras. Como referiu Guilherme D'Oliveira Martins no lançamento do livro no Palácio do Marquês de Pombal em Oeiras." A seguir esmiúça o seu processo: "Eu vejo o meu trabalho um pouco como o de um artesão cirurgião. Ou se se preferir ser uma espécie de arqueólogo que entretece velhos tecidos, um arqueólogo tecelão que põe esses tecidos a falar, um pouco como Svetlana Alexievich. Se eu pudesse, nem uma vírgula minha acrescentaria a essa tapeçaria sinfónica de vozes de época e de historiadores. Sou um arqueólogo narrador; tendo a procurar fios que estão perdidos para estabelecer nexos, que na perspetiva da linha da vida do biografado ganham uma outra luz que não a perspetiva de um historiador focado noutros aspetos. Porém, redigo-o e reforço-o: não poderia escrever uma biografia destas sem o trabalho incansável e silencioso de centenas de historiadores. O que faço é desentranhar novas perspetivas.” Conclui: “A biografia é uma arte de serviço à consciência coletiva.”

Entre as doutrinas estabelecidas na nossa História sobre D. João V está a de ser a estrela mais brilhante da monarquia portuguesa e que eclipsou os seus antecessores e sucessores. Qual é a sua opinião após esta investigação? O biógrafo responde com o que queria acrescentar ao texto da contracapa do livro: “É um homem desmedidamente reduzido por amplificação.” Elabora um pouco mais: “Todas as reduções escondem algo: D. João lutou pela equivalência de Portugal às grandes potências europeias não apenas em Roma, mas no mais amplo raio da sua ação. A pompa de rei-sol - esse também um simplismo - é para reforçar a autoridade real e escorá-la a partir da religião. Se olharmos para os seus extraordinários embaixadores - D. Luís da Cunha, o Conde de Tarouca, Sebastião José -, e apenas para os seus dois homens de confiança - o secretário de Estado Diogo de Mendonça na primeira parte do reinado, e o Cardeal da Motta, sem título oficializado mas «ministro do Despacho» -, temos um sistema planetário de rara qualidade e preparação.”

Perto do fim do primeiro terço do livro, Pedro Sena-Lino refere que D. João V “queria edificar em livro de pedra uma visão do mundo”. Foi uma renovação da cidade de Lisboa, bem como em parte do país, pensada e reformista ou um devaneio, tal como será visto o seu legado mais polémico, o Convento de Mafra? Recusa a pergunta: “Não, de todo. El-rei arquiteto e edificador tinha uma visão da cidade. Para tal comprou, destruiu, alargou ruas, escarafunchou e descingiu o Paço da Ribeira e a Capela Patriarcal, tornada Basílica. Dividiu Lisboa a meio com a Patriarcal como centro, reforçada pela operática procissão do Corpo de Deus que reinventou, e que desse coração saía. O rei chegou a projetar um enorme palácio para a zona de Alcântara ou de Buenos Aires (Lapa). Quanto a Mafra, como refere António Filipe Pimentel no seu inigualável livro sobre o palácio-convento, Arquitetura e Poder, Mafra é uma conceção do país e do poder em pedra. O rei teve devaneios, emocionais sobretudo, como acontece aos homens que têm de amadurecer depressa. A decisão política é carteada pelas luzes da sua mãe e pelas escarpas do Duque de Cadaval e – uma dedução a que não me dei direito na biografia – uma recusa da imagem do pai, D. Pedro II. O que o rei fez em pedra corresponde a uma visão para o país. Faltaram-lhe energias, uma eficaz máquina burocrática e poder de execução.”

O que mais questionar em D. João V: emancipou-se do seu tempo e do atraso português ou apenas foi um gastador das riquezas vindas para o reino e que poderiam ter feito evoluir Portugal? Dá uma explicação biográfica: “É preciso ver que era um miúdo nascido para o trono mas que sobe em escadas de perdas sucessivas: a mãe aos 9, o pai aos 17, a tia Catarina (rainha de Inglaterra) aos 16; até a irmã Teresa com 7 anos (de quem seria próximo e que teria sido imperatriz). Somem-se às mortes de três irmãos em vida, também as de três filhos. Ou seja, D. João V tem uma consciência do precário tão sólida como a do ouro que vem do outro lado do oceano. É um rei que cresceu em perdas sobe ao trono sem familiares próximos que o guiem, com uma grande guerra europeia dentro do país, complexas e por vezes desorganizadas operações militares nas quais não tinha palavra a dizer. Foi de uma tremenda solidão, crescendo com o peso do mundo às costas. E com um irmão meio doido e violento, D. Francisco, que queria relevância e até o trono. Não podemos esquecer este primeiro obscurecimento, que impediu muitas reformas – e que durou os sete primeiros anos do seu reinado – e o último, da longa doença, de oito anos.”

Sobram quase trinta anos de reinado. Como os avalia? Desenha o perfil: “É quando o rei, com o apoio sereno e respeitador da mulher, e rodeado por competentíssimos ministros e embaixadores, se lançou em reformas. Era um rei de visão e de execução: as 518 toneladas de ouro do Brasil que aportaram a Lisboa - assim o garantem as fontes holandesas - não foram apenas para Roma e para igrejas ou freiras. O rei era um leitor incansável e fez bibliotecas imensas: as de Coimbra, a de Mafra, a das Necessidades e a do Paço. Juntando aos já existentes, desdobrou-se em compra de livros no estrangeiro, de que os franceses troçavam dizendo que os acumulava como um novo-rico, mas vinham reforçar o investimento em instituições, como a Academia Real da História, e ancoravam e ampliavam a nova geração de estudiosos que daí nasceu. É no seu reinado que se imprime o primeiro dicionário, de Bluteau. Enviou para Roma pintores e músicos; não apenas comprava obras, mas tentava lançar escola em Portugal.” Dá dois exemplos: “Creio que os eclipses no início e no fim do reinado e uma tendência para concentrar em si todo o poder decisório quebraram fluxos pré-iluministas que o futuro Marquês de Pombal veio explorar. Os fogos da Inquisição obnubilam ou até apagam a sua larga visão, o seu gesto multiplicador.”

Vale a pena voltar à anterior biografia e avaliar se o Marquês de Pombal foi o “sucessor” mais indicado para manter o espírito e a ação de mudança de D. João V? Para Pedro Sena-Lino, em “muitos aspetos, o filho mental de D. João V e de D. Maria Ana não é D. José mas Sebastião José, Marquês de Pombal. Aprendendo o custo da neutralidade e os desequilíbrios da balança comercial ao ver as frotas lusas chegar a Londres carregadas de moedas com a efígie de D. João V, e o mundo Habsburgo e também as reformas de Maria Theresa e Joseph II. O programa pombalino não caiu do céu, por mais que tenha sido enxurrado pelo Terramoto: as raízes são joaninas, e muito do modo de execução também”.

O que fica por contar sobre este rei é a pergunta final que se faz ao investigador. Resume: “Citando D. João V, «há infinito que fazer» ainda. Por ora, eu sentia que faltava uma biografia que visse o homem. Quem é ele para além do luxo e do lixo, do luxo religioso e pomposo e do lixo da sua vida íntima? É o filho de um homem velho, D. Pedro, que participou num golpe para depor o irmão rei e que casou com a cunhada. A mãe, uma duquesa alemã trazida por ser fértil, vai agarrar-se ao filho e educá-lo como um príncipe centro-europeu. Daí vem o orgulho do rei e a necessidade de cortar a página com os seus antecessores. Quis compreender isso. Quis também perceber o impacto do seu círculo íntimo na sua personalidade: da relação entre os pais, das linhas cruzadas com os irmãos. Porém, as figuras ainda obscuras dos infantes D. Francisco e D. Manuel, espelhos complexos do irmão, da mulher D. Maria Ana, e até do Duque de Cadaval - a chave sombria para o reinado de D. Pedro e para os primeiros difíceis anos de D. João V -, urgem ser exploradas e expandidas. Espero que esta biografia provoque muitas outras destas figuras e que iluminem este el-rei complexo, porque é disso que se trata. De gosto, de personalidade, de ação, D. João V é um diamante por lapidar e ainda estamos encadeados pela luz refletida do seu brilho para o vermos em toda a sua extensão.”


 

[Fonte: : www.dn.pt]

domingo, 24 de novembro de 2024

« La figure du fou » : un grain de folie au Louvre

 

Pour cette saison automnale, la ligne éditoriale du Louvre a choisi un thème singulier : le fou, bouffon du roi ou conteur dramatique. Nous nous retrouvons dans le hall Napoléon pour visiter cette curieuse exposition, en essayant de garder les pieds sur terre.

 


Écrit par Georgia Velasco

Réouverture en grande pompe

L’espace dédié aux expositions temporaires n’avait pas été utilisé depuis plus d’un an. Cet insoupçonné hall, situé sous l’accès à l’aile Sully, préparait en fin de compte une exposition de grande envergure.

 

Nous pénétrons dans des couloirs et des salles labyrinthiques dont on ne voit pas la fin. L’exposition est construite de manière chronologique : elle débute avec la représentation du fou à l’époque biblique, celui qui défie Dieu, pour aboutir à l’époque romantique, où le terme est utilisé plus largement.

Un terme polysémique 

Si, pendant longtemps, le terme « fou » désignait le bouffon du roi, il aura fallu du temps avant qu’il devienne un terme de vulgarisation psychiatrique. La narration s’arrête un peu avant la fin du XIXᵉ siècle, lorsque le « fou » n’est plus considéré comme un bêta ou un idiot, mais devient un personnage sensible et triste, incompris et rejeté de la société, à l’image de Quasimodo.

 

Cependant, on constate qu’il a toujours été marginalisé : c’est bien le point commun de toutes les représentations ; le fou est celui que l’on montre du doigt. La dimension psychique est apparue assez tard. Au Moyen Âge, on distinguait les fous « naturels », qui étaient en fait des personnes atteintes de handicap, et les fous « intelligents », ceux qui jouaient simplement le rôle de bouffon.

Une ronde d’œuvre sans fin

L’exposition présente un nombre impressionnant d’œuvres et d’archives, allant de la Bible latine du Xe siècle aux statues de la cathédrale de Strasbourg. Le travail des commissaires, qui ont mobilisé de nombreux écrits et détails, est extrêmement dense. On a toutefois un peu de mal à en voir le bout ; l’atmosphère est un peu surchargée, avec une scénographie pas toujours pratique.

 

La question de la maladie psychiatrique, que l’on aurait pu penser centrale, est complètement mise de côté. C’est un parti pris de la ligne éditoriale, certes, mais l’exposition se termine tout de même par le tableau de Tony Robert-Fleury, célèbre pour sa représentation du docteur Pinel à l’hôpital psychiatrique de la Salpêtrière, retirant les fers des patientes. C’est la seule évocation du monde psychiatrique de toute l’exposition ; s’y ajoutent également des mentions de Charles VI et de Jeanne la Folle.

 

Une rentrée réussie pour la nouvelle exposition temporaire, bien que le Louvre fidèle à lui même ne souhaite pas sortir du XIXe siècle.

 

Visuel : Jan Matejko, Stańczyk, 1862, Musée National de Varsovie

 

 

[Source : www.cult.news]

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Els dietaris de Mircea Cărtărescu, una contribució originalíssima i exemplar

L’antologia dels seus dietaris en català és la primera que s’ofereix dels quatre volums originals en romanès al públic de fora de Romania

                                                                         Mircea Cărtărescu

Escrit per D. Sam Abrams

Lleonard Muntaner, Editor celebra enguany 30 anys de la fundació de l’editorial, i com a novetat de Sant Jordi publica el volum Dietaris 1990-2017. Una tria de Mircea Cărtărescu, en traducció del romanès al català de Xavier Montoliu Pauli i pròleg de D. Sam Abrams, que el proper 15 d’abril a les 18.30 mantindrà una conversa amb Mircea Cărtărescu a la Biblioteca Jaume Fuster en el marc dels Diàlegs de Sant Jordi. Per cortesia de l’autor, us oferim uns fragments d’aquest pòrtic. 

Un fenomen que sovint no queda prou clar és el de les contribucions distintives o especials, o fins i tot úniques, que la cultura catalana ha fet a la literatura universal. A tall d’exemple, en citem alguns casos. Ramon Llull, a Llibre d’Amic i Amat (1276-1278), partint de la Bíblia, crea l’antecedent del poema en prosa modern. Cebrià de Montoliu, l’any 1909, porta a terme una de les primeríssimes traduccions de Fulles d’herba a llengües estrangeres. Amb Xabola, una novel·la escrita el 1941 i publicada el 1943, després retitulada Crist de 200.000 braços el 1974 en l’edició definitiva, Agustí Bartra és un dels fundadors de la literatura concentracionària a nivell internacional.

Ara, amb la publicació de l’esplèndida traducció d’aquesta tria dels dietaris de Mircea Cărtărescu, duta a terme per Xavier Montoliu Pauli amb extraordinària sensibilitat i encert, tenim un altre cas en què la literatura catalana duu a terme una iniciativa que la situa al capdavant de la literatura europea i internacional. En definitiva, el llibre que tenim a les mans és una veritable primícia, ja que, si no m’erro, només n’existeix una versió parcial al suec com a antecedent.

Fora de Romania, la idea que tenim de l’obra general de Cărtărescu correspon al que podríem anomenar, seguint la lliçó de Sigmund Freud, amb la psique humana representada a partir de la figura de l’iceberg, la part visible, el pinacle es dreça sobre el nivell de l’aigua del mar. Es tracta, naturalment, dels llibres de poemes, com Res; els llibres de relats, com Per què ens estimem les dones; les novel·les breus, com El ruletista o Travesti; les novel·les de gran escala, com Encegador o Solenoide; els assaigs, com Postmodernismul românesc; el periodisme i les traduccions de Charles Simic, Bob Dylan i Leonard Cohen, que acrediten Mircea Cărtărescu, inqüestionablement, com un dels autors fonamentals del panorama literari actual a nivell global. A més, a banda de ser un gegant literari, té la particularitat de ser un autor decisiu perquè està indicant el camí de sortida de l’atzucac de la postmodernitat, una particularitat que comparteix amb ben pocs dels seus contemporanis o coetanis.

                                                                          Mircea Cărtărescu

El dietari de Mircea Cărtărescu ocupa un lloc destacadíssim o capital en la producció general del nostre autor i, alhora, representa una autèntica singularitat en el terreny del memorialisme de tots els temps. Cărtărescu va encetar el seu dietari el 17 de setembre de 1973 quan tenia 17 anys i, des d’aquella llunyana data de l’adolescència, hi escriu de manera constant i assídua. Això significa que el 17 de setembre de l’any passat Cărtărescu va celebrar 50 anys de dietarista. I també significa que és la seva obra més extensa, una obra consubstancial a la seva vida, una obra oberta i continuada que només quedarà tancada o conclosa amb el seu decés.

En el marc dels Diàlegs de Sant Jordi, Biblioteques de Barcelona i Lleonard Muntaner, Editor han organitzat la conversa entre Mircea Cărtărescu i D. Sam Abrams a propòsit de la traducció en català dels Dietaris. L’acte tindrà lloc el proper dilluns 15 d’abril, a les 18.30 h, a la Biblioteca Jaume Fuster de Barcelona. Les inscripcions per assistir a l’acte s’han de dur a terme en aquest enllaç.

 

[Fotos: Cătălina Flămînzeanu - font: www.nuvol.com]

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Para devolver o desejo ao sexo e à política

Há um declínio geral nos afetos, no ativismo, no trabalho e até na procriação. Sob a solidão digital, o desejo perde o corpo do outro como lugar de descoberta e partilha. Como encontrar sua tessitura coletiva, para o amor reencontrar as ruas?

Escrito por Franco Berardi

Tradução: Maurício Ayer

Comecei a ler Félix Guattari em 1974. Eu estava em um quartel no sul da Itália quando o serviço militar era obrigatório para jovens de mente e corpo saudáveis, mas servir meu país rapidamente me entediou e eu estava procurando uma fuga quando um amigo sugeriu que eu lesse este filósofo francês que recomendava a loucura como fuga. Eu então li Une tombe pour Oedipe. Psychanalyse et Transversalité [Um túmulo para Édipo – Psicanálise e Transversalidade] publicado pela Bertani, e me inspirei nele para simular loucura. O coronel da clínica psiquiátrica me reconheceu como louco, então fui para casa.

A partir desse momento, passei a considerar Félix Guattari como um amigo cujas sugestões podem ajudar a escapar de qualquer caserna.

Em 1975, publiquei o primeiro número de um jornal chamado A/traverso, que traduzia conceitos esquizoanalíticos para a linguagem do movimento de estudantes e jovens trabalhadores chamado Autonomia.

Em 1976, com um grupo de amigos, comecei a transmitir na primeira estação de rádio gratuita italiana, a Rádio Alice. A polícia desligou o rádio durante os três dias de revolta estudantil de Bolonha após o assassinato de Francesco Lorusso.

O movimento de Bolonha de 1977 usou a frase “desejo de autonomia”, e o pequeno grupo de editores de rádio e revista se qualificava como “transversalistas”.

A referência ao pós-estruturalismo ficou explícita nas declarações públicas, nos panfletos, nos slogans da primavera de 1977.

Tínhamos lido o Anti-Édipo, não havíamos entendido muito, mas uma palavra nos impressionou: a palavra “desejo”.

Este ponto nós compreendemos bem: o motor do processo de subjetivação é o desejo. Temos que parar de pensar em termos de “sujeito”, temos que esquecer Hegel e toda a concepção de subjetividade como algo pré-embalado que bastaria organizar. Não há sujeito, há correntes de desejo que atravessam organismos que são ao mesmo tempo biológicos, sociais e sexuais. E conscientes, claro. Mas a consciência não é algo que possa ser considerado puro, indeterminado. A consciência não existe sem o trabalho incessante do inconsciente, deste laboratório que não é um teatro porque não representamos ali uma tragédia já escrita, mas uma tragédia atravessada por fluxos de desejo que escrevemos e reescrevemos constantemente.

Por outro lado, o conceito de desejo não pode ser reduzido a uma tensão sempre positiva. O conceito de desejo serve como chave para explicar as ondas de solidariedade social e as ondas de agressão, para explicar as explosões de raiva e o endurecimento da identidade.

Em suma, o desejo não é um bom menino feliz; ao contrário, ele pode contorcer-se, fechar-se sobre si mesmo e finalmente produzir efeitos de violência, destruição, barbárie.

O desejo não é um dado natural, mas uma intensidade que muda de acordo com as condições antropológicas, tecnológicas e sociais.

O desejo é o fator de intensidade na relação com o outro, mas essa intensidade pode ir em direções muito diferentes, até mesmo contraditórias.

Guattari também fala de ritornelos, para definir concatenações semióticas capazes de relacionar-se com o ambiente. O ritornelo é uma vibração cuja intensidade pode ser concatenada com a intensidade de tal ou tal sistema de signos, ou seja, de estímulos psicossemióticos.

O desejo é a percepção de um ritornelo que produzimos para captar as linhas de estímulo vindas do outro (um corpo, uma palavra, uma imagem, uma situação) e nos relacionarmos com essas linhas.

Da mesma forma, a vespa e a orquídea, duas entidades que nada têm a ver uma com a outra, podem produzir efeitos úteis uma para a outra.

Por uma reconfiguração do desejo

Trata-se, portanto, de problematizar o conceito de desejo no contexto da era atual, uma era que pode ser definida pela aceleração neoliberal e pela aceleração digital.

A economia neoliberal acelerou a taxa de exploração do trabalho, particularmente do trabalho cognitivo, a tecnologia digital conectiva acelerou o fluxo de informações e, portanto, intensificou ao extremo a taxa de estimulação semiótica que é ao mesmo tempo estimulação nervosa.

Essa dupla aceleração é a origem e a causa da intensificação da produtividade que possibilitou o aumento do lucro e a acumulação do capital, mas é também a origem e a causa da superexploração do organismo humano, especialmente do cérebro.

Temos, portanto, a tarefa de distinguir os efeitos que essa superexploração produziu sobre o equilíbrio psíquico e a sensibilidade dos seres humanos como indivíduos, mas sobretudo como coletividades.

Em particular, devemos refletir sobre a mutação que afetou o desejo, levando em consideração o trauma que a experiência da pandemia produziu na psique coletiva. O vírus pode ter sido disperso, a infecção pode ter sido curada, mas o trauma não desaparece da noite para o dia, ele faz o seu trabalho. E o trabalho do trauma se manifesta por uma espécie de sensibilização fóbica ao corpo do outro, em particular à pele, aos lábios, ao sexo.

Nas duas décadas do novo século, vários estudos mostraram que a sexualidade está mudando profundamente, e o choque viral apenas reforçou essa tendência, que está enraizada na transformação tecnoantropológica dos últimos trinta anos.

No livro I-Gen (Why Today’s Super-Connected Kids Are Growing Up Less Rebellious, More Tolerant, Less Happy-and Completely Unprepared for Adulthood-and What That Means for the Rest of Us ?) [I-Gen (Por que as crianças superconectadas de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes – e completamente despreparadas para a idade adulta – e o que isso significa para o resto de nós?)] (2017), Jean Twenge analisa a relação entre tecnologia conectiva e mudanças no comportamento psíquico e afetivo de gerações que se formaram em um ambiente digital e conectivamente tecnocognitivo.

Passei a definir os humanos que vieram ao mundo após a virada do século como a geração que aprendeu mais com uma máquina do que com a voz singular de um ser humano.

A meu ver, essa definição é útil para entender a profundidade da mutação que estamos analisando: sabemos desde Freud que o acesso à linguagem só pode ser compreendido a partir da dimensão afetiva.

O que acontece quando a voz singular da mãe (ou de outro ser humano, que seja) é substituída por uma máquina?

Não esqueçamos também o que Agamben escreve em linguagem e morte: a voz é o ponto de encontro entre a carne e os sentidos, entre o corpo e os sentidos. A filósofa feminista Luisa Muraro sugere que a aprendizagem do significado está ligada à confiança da criança em sua mãe. Acredito que uma palavra significa o que significa porque minha mãe me disse que ela estabeleceu uma relação entre o objeto percebido e um conceito que o significa.

O fundamento psíquico da atribuição de sentido assenta neste ato primordial de partilha afetiva, de coevolução cognitiva garantida pela vibração singular de uma voz, de um corpo, de uma sensibilidade.

O sentido do mundo é então substituído pela funcionalidade dos signos que permitem obter resultados operacionais, a partir da recepção e interpretação de signos desprovidos de profundidade afetiva e, portanto, de certeza íntima.

O conceito de precariedade mostra aqui seu significado psicológico e cognitivo como enfraquecimento e deserotização da relação com o mundo.

Trata-se do erotismo como intensidade carnal da experiência, e do desejo em sua relação (não exaustiva) com o erotismo.

Desejo e sexualidade

Geralmente associamos o desejo com a carne, com a sexualidade, com o corpo que se aproxima do outro corpo. Mas é preciso ressaltar que a esfera do desejo não pode ser reduzida à sua dimensão sexual, mesmo que essa implicação esteja inscrita na história, na antropologia e na psicanálise. O desejo não se identifica com a sexualidade e, de fato, pode-se muito bem conceber a sexualidade sem o desejo.

O conceito e a realidade do desejo não se limitam ao sexo, como mostra o conceito freudiano de sublimação, que diz respeito aos investimentos não diretamente sexuais do próprio desejo.

A pandemia completou um processo de dessexualização do desejo que se vinha preparando há muito tempo, pois a comunicação entre corpos conscientes e sencientes no espaço físico foi substituída pela troca de estímulos semióticos na ausência de um corpo. Essa desmaterialização da troca comunicacional não apagou o desejo, mas o transferiu para uma dimensão puramente semiótica (ou melhor, hipersemiótica). O desejo desenvolveu-se então numa direção não sexual, ou se quiserem, pós-sexual, que se manifestou na condição de isolamento que a pandemia tornou regular e quase institucionalizada. Todo o corpus teórico e prático da psicologia, da psicanálise e até da política deve ser reconsiderado porque a subjetividade foi irreversivelmente rompida e transformada.

O psicanalista italiano Luigi Zoja publicou um livro sobre o esgotamento (e o desaparecimento tendencioso) do desejo (o título, na verdade, é O declínio do desejo). É um texto cheio de dados muito interessantes sobre a redução drástica da frequência do contato sexual e, em geral, do tempo dedicado ao contato, ao relacionamento presencial. Mas a hipótese central do livro (o desaparecimento do desejo) me parece questionável. Não é o desejo em si que desaparece, na minha opinião, mas sim a expressão sexualizada do desejo. A fenomenologia da afetividade contemporânea caracteriza-se cada vez mais por uma redução dramática do contato, do prazer e do relaxamento psíquico e físico que o contato pele a pele permite. Perde-se assim a confiança sensual, perde-se o sentimento de cumplicidade profunda que torna tolerável a vida social: o prazer da pele que reconhece o outro pelo tato, a sensualidade, o doce gozo da intimidade do olhar.

A geração que aprendeu mais palavras de uma máquina do que da voz de sua mãe, ou de outro ser humano, formou-se em um ambiente físico e psíquico cada vez mais intolerável.

Perversão do desejo e agressão contemporânea

A dessexualização na verdade corre o risco de transformar o desejo em um inferno de solidão e sofrimento esperando para ser expresso de uma forma ou de outra. A violência sem sentido que irrompe cada vez mais na forma de agressões armadas e mortíferas contra pessoas inocentes mais ou menos desconhecidas (os atentados em cadeia que se multiplicaram por toda parte desde Columbine em 1999, e dos quais os Estados Unidos são o principal teatro) é apenas a ponta do iceberg de um fenômeno que, no plano político, revira a história do nó como um todo. Como explicar a eleição de indivíduos como Donald Trump ou Jair Bolsonaro por metade do povo estadunidense ou brasileiro, senão como uma manifestação de desespero e autoaversão?

A eleição de um idiota ignorante que expressa abertamente visões racistas ou criminosas guarda profundas semelhanças (psicologicamente, mas também politicamente) com massacres que só podem ser explicados em termos de insanidade dolorosa, desejo suicida. O que continuamos a chamar de fascismo, nacionalismo ou racismo não pode mais ser explicado em termos políticos. A política é apenas o terreno espetacular em que esses movimentos se manifestam, mas a dinâmica da agressão social contemporânea quase nada tem a ver com os autoproclamados valores ideais do fascismo do século passado, com o nacionalismo dos séculos modernos. A retórica costuma ser semelhante, mas o conteúdo não é politicamente racional.

Só o discurso sobre o sofrimento, a humilhação, a solidão e o desespero pode dar conta do fenômeno que hoje caracteriza a maior parte da história do mundo na fase de esgotamento das energias nervosas e na expectativa de uma extinção que aparece cada vez mais como um horizonte inevitável.

A geração que é chamada com amarga ironia como a “última geração” (ou também a “geração zeta”), aquela que aprendeu mais palavras com uma máquina do que com a voz de sua mãe ou de outro ser humano, formou-se em um ambiente físico e psicológico cada vez mais intolerável. A comunicação desta geração desenvolveu-se quase exclusivamente num ambiente tecnoimersivo cuja coerência é puramente semiótica.

Estamos preparando-nos para vivenciar a própria extinção na forma de uma simulação imersiva. A produção midiática está cada vez mais saturada com os sinais desse desespero, que funcionam tanto como sintomas de um mal-estar, quanto como fatores de propagação de uma patologia: penso em filmes como Coringa e Parasita, mas também em séries da neotelevisão global Netflix: Squid Game e milhares de outros produtos similares.

O trauma viral da Covid apenas multiplicou o efeito hipersemiótico, mas as condições técnicas e culturais já existiam. Neste ponto, tudo o que podemos fazer é tentar entender essa mutação – e podemos defini-la como uma mutação dessexualizante que afeta o desejo.

O desejo não deixou de conduzir o processo de subjetivação coletiva, mas essa subjetivação agora se manifesta na forma de ansiedade, autoagressão ou às vezes agressão, porque não pode desabrochar e se expressar e se perverte em formas agressivas.

A dessexualização do desejo, cujos vestígios se encontram por toda a parte, traduz-se ao nível social numa desistorização das motivações da ação coletiva. Assistimos a um fenômeno massivo de desengajamento e deserção: abstenção majoritária da política, deserção da procriação, abandono do trabalho. Este fenômeno deve ser objeto de uma análise teórica (diagnóstico) que possibilite estratégias de ação discursiva e política (terapia) que atualmente nos faltam totalmente.

 

 

Franco Berardi, mais conhecido por Bifo, é um filósofo, escritor e agitador cultural italiano. Oriundo do movimento operaísta, foi professor secundário em Bolonha e sempre se interessou sobre a relação entre o movimento social anticapitalista e a comunicação independente.

[Imagem: Lucas Ninno - fonte: www.outraspalavras.net]