terça-feira, 15 de novembro de 2022

Alegria para o jantar



Título: Luís de Sttau Monteiro gastrónomo

Autora: ANA MARQUES PEREIRA

Editora (edição): edição de eutor: Ana Marques Pereira (setembro de 2022)

Cotação: 17/20

Recensão escrita por Paulo Moreiras 

Conhecido sobretudo pela sua dramaturgia, Luís de Sttau Monteiro (1926-1993) foi também um apaixonado pelas artes culinárias e pela gastronomia, tendo sido um dos pioneiros da crítica de restaurantes em Portugal.

Por volta dos dez anos, na Covilhã, Ana Marques Pereira (n. 1949) tomou conhecimento com a obra literária de Sttau Monteiro. Na época os seus livros eram considerados como proibidos: "Era nesse contexto que se integravam os livros de Sttau Monteiro, que fui comprando à medida que iam sendo publicados. Lia-os avidamente e com prazer".

Agora, com o livro Luís de Sttau Monteiro gastrónomo (320 págs.), a investigadora decidiu abordar "o seu papel como gastrónomo e crítico de restaurantes, faceta que foi tão importante na sua vida e obra, mas que tem passado ao lado daqueles que o conhecem e o apreciam como um dos maiores escritores do século XX."

Foi em 1959, na revista Almanaque, coordenada por José Cardoso Pires, que Luís de Sttau Monteiro começou a escrever sobre gastronomia e culinária, passando depois pelo "suplemento do Diário de Lisboa, em A Mosca; no semanário O Jornal, com artigos sob títulos diversos como GastronomiaGastromania ou Restaurantes, e por fim com a rubrica O Petisco publicada no jornal Se7e". Um percurso desde o final dos anos 50 até aos anos 90, quando "na época não era ainda habitual deparar com este tipo de matéria nos jornais ou revistas portuguesas."

Ao longo de todo este tempo, a maioria das suas críticas gastronómicas não eram assinadas, outras vezes utilizava pseudónimos — foi possível identificar 14 —, como por exemplo: Inspector Gourmet, Manuel Pedroso, Manuel Pedrosa, Fernando C. Malveia,  António Coutinho, Carlos R. Rodrigues ou Paulo Santana, sendo provável a existência de outros. Na opinião da investigadora, "não podemos excluir que esta diversidade de identificações tenha a ver com a sua má experiência anterior com a Censura e a perseguição pela PIDE."

De acordo com Ana Marques Pereira, "todo o percurso de escrita em Sttau Monteiro nos faz crer tratar-se de um interessado nas artes da cozinha". Era uma pessoa que não só gostava de cozinhar como de partilhar as refeições com os amigos e familiares. E isso encontra-se bem patente nos seus escritos, onde demonstrava um "conhecimento alargado da cozinha internacional", mas também se reconhecia "um interesse verdadeiro pela cozinha tradicional portuguesa".

Destaque para a sua passagem pela RTP, onde "Sttau Monteiro foi também autor de um programa de televisão destinado a dar a conhecer a culinária e doçaria tradicionais de Portugal, intitulado Caldo de Pedra", embora na ficha técnica seja indicado como autor o nome de Manuel Pedrosa, um dos muitos pseudónimos que Sttau Monteiro utilizava nas crónicas.

Um dos capítulos mais curiosos, e que muito valoriza este livro, é o dedicado aos cadernos dactilografados de Sttau Monteiro, que foram adquiridos por Ana Marques Pereira num alfarrabista. Um conjunto de apontamentos constituído por oito "arquivadores, com separadores, com letras ordenadas por ordem alfabética", que foram escritos pelo colunista e "que lhe serviram de base para algumas das afirmações que fazia nas crónicas publicadas nos vários jornais". Além disso, todos estes apontamentos serviam para "registar as bases para um Dicionário da História da Alimentação", projecto que nunca concretizou.

Por fim, uma nota para o capítulo com algumas das receitas escritas por Luís de Sttau Monteiro para o semanário Se7e. Das muitas receitas que fizeram parte da educação culinária de Ana Marques Pereira, a autora selecionou 23 receitas, tendo apenas por critério o seu gosto pessoal e "as dimensões das mesmas, aspecto que não podia ser descurado."

No actual panorama da investigação acerca da História da Alimentação em Portugal, este novo título de Ana Marques Pereira é uma verdadeira alegria. Não só resgata o trabalho de um escritor de qualidade, infelizmente muito esquecido, como compila alguns dos textos que dedicou à culinária e gastronomia e que revelam toda a sua verve. Chapeau!

 

[Fonte: www.paginaum.pt]

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