Escrito por Victor De Sepausy
A
Biblioteca Nacional de Israel publicou uma obra que documenta os 130 primeiros
anos dos tribunais da Inquisição portuguesa. E principalmente em Lisboa, onde
se enumeram os processos, a caça aos judeus que praticavam o rito no maior
sigilo, ou ainda os cristão-novos que não obedeciam às regras.
Historicamente,
é o rei Manuel I quem dá início às hostilidades a partir de março de 1497, ao
impor aos menores de todo o reino o batismo, o que provocou um verdadeiro caos,
pois uma parte dos judeus refugiou-se em Portugal, mais clemente que Espanha.
Quando
em 1531 Diogo da Silva se torna oficialmente inquisidor geral — ele já era
confessor do rei — a situação piora. De fato, os conversos — judeus convertidos
ao catolicismo à força — tentam escapar das diferentes medidas tomadas contra
eles. Apesar de sua denominação, Diogo não conhecerá a verdadeira extensão
autocrática de seu posto. É finalmente João II quem, em 1547, instituirá com
base no modelo espanhol uma verdadeira Inquisição.
As
sevícias serão tais que uma parte dos judeus cristão-novos preferirá fugir em
direção a Espanha, que eles haviam desertado pelos mesmos motivos de
perseguições. Mui inspirado por seu vizinho, o reino de Portugal foi então
prova duma extrema crueldade — o número exato de vítimas entre os judeus jamais
foi verdadeiramente conhecido. Mas quanto aos castigos, isto restou na memória.
Foi
somente 250 anos apos a sua criação que os processos inquisitoriais cessaram; e
a Inquisição somente foi abolida em 1821. Os auto de fé, que constam entre as
punições mais regularmente administradas — e definitivas... — restaram na
memória, e na obra que a biblioteca israelita agora publica.
O
manuscrito, que remonta ao século XVIII, documenta ainda numas 60 páginas os
130 primeiros anos da atividade inquisitoriais: processos, interrogatórios de
famílias inteiras, falsos testemunhos... Os elementos edificantes não faltam
na Memória de todos os autos de fé que se têm feito em Lisboa.
Ao
lado das datas e dos processos, aparecem os sermões pronunciados pelos padres,
os quais serviam então para edificação às massas cristãs, ao mesmo tempo que de
doutrinamento. Muitos desses sermões foram impressos e distribuídos em eventos.
Ademais,
os textos concentram-se sobre mulheres e homens acusados de heresia — judeus,
recentemente cristianizados, mas acusados de judaizar, de praticar o rito às
escondidas. No entanto, os motivos são legião: sodomia, bigamia, posse de
livros proibidos, sacrilégios...
Há outros elementos que ponteiam as tentativas de enganar os inquisidores: celebrar Yom Kippour em segredo, festejar a Páscoa tardia, dissimular as velas de «shabbat» entre as louças... As crianças de menos de 12 anos não eram admitidas nas cerimônias clandestinas, por temor de que elas revelassem o ocorrido a quem não correspondesse.
A obra publicada acha-se integralmente disponível nesta ligação.
[Traduzido por CLIN - fonte do original: www.actualitte.com]
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