sexta-feira, 6 de julho de 2018

Russa lança manual do futebol com traduções para o português

Livro traz posições, passes e até a legislação do futebol na língua do Brasil e de Portugal

A professora de português Alla Voronova se tornou fã de futebol após 'mergulho' na Copa das Confederações 

Publicado por Vivian Oswald 

A professora de português Alla Voronova é daqueles russos que nunca foram grandes fãs de futebol. Pelo menos até começar a entender de verdade o que se passava em campo. Tradutora e intérprete há anos, teve que, por dever de ofício, mergulhar neste mundo desconhecido durante a Copa das Confederações, que aconteceu na Rússia em 2017, em uma espécie de ensaio geral do que estava por vir na Copa do Mundo, quando desembarcariam no país 32 seleções nacionais, 738 jogadores e cerca de dois milhões de turistas. Foi assim que surgiu o livro "Portugalsky yazik v mire cporta" (A língua portuguesa no mundo do esporte), um manual de tradução com posições, passes e até a legislação do futebol em português do Brasil e de Portugal.

— Eu não sabia nada. E me dei conta de que esse manual não só ajudaria os tradutores, como os próprios estudantes do português interessados em ir a esses dois países. É uma maneira de fazer amigos, um bom tema de conversa com gente destes dois países apaixonados por futebol — conta. 

Mas se a paixão e o idioma são comuns, a professora russa descobriu que há várias nuances entre as duas variantes, que, se não forem observadas, podem dar curto-circuito. O gol, que no Brasil é o chute e as traves, em Portugal são "golo" e "baliza". 

Há outras coisas interessantes. Fazer a finta em português é a mesma coisa em russo, "delat fint" — diz. 

Alla aprendeu português na Universidade de Moscou, uma das mais reputadas do país, quando não havia internet na antiga URSS, e a única alternativa disponível eram as fitas k-7 que vinham de fora, algo que seus alunos de hoje possivelmente jamais terão visto. Não se podia viajar sem autorização expressa do regime naquela época, e muito poucos conseguiam esta proeza. 

Havia ainda os comunistas lusófonos que desembarcavam aos montes na Rússia para estudar. Estes últimos eram pegos para dar aulas aos estudantes dos cursos de línguas.

— Um dos professores brasileiros, que conheci pelo nome de Noé (pode ser um pseudônimo, como o de muitos comunistas que vieram parar na Rússia, ela admite), participa das colheitas de chá nos campos de trabalho dos estudantes, no verão, em Sochi. Nos divertíamos em português com ele, que nos ensinou umas cantigas de Natal — lembra-se. 

Seu primeiro contato com o português foi a visita de uma delegação de crianças de Angola, quando ela ainda era a líder dos "pioneers", como se chamavam as organizações da juventude comunista no primário. Ela tinha 12 anos. Pouco antes de entrar na universidade de Letras, o tio que estudava espanhol recomendou que, com a aproximação da URSS com os países da África, Portugal e até o Brasil, ela deveria optar por português, pois emprego não lhe faltaria. Na hora do vestibular, quase mudou para o espanhol, e hoje não se arrepende. Outro dia chamou a atenção de uma autoridade que traduzia para um jornalista brasileiro quando ele disse que todo mundo na Rússia deveria aprender inglês, no máximo espanhol. 

— Como assim? Há muito mais falantes de português! — ralhou. 

Alla, que durante a Copa já trabalhou para autoridades do futebol do Brasil e de Portugal, inclusive para as seleções, hoje não perde um jogo de futebol. Identifica um impedimento e conhece as regras do VAR. Torce pela Rússia, claro, mas não esconde certa preferência pelo Brasil.



[Foto da autora - fonte: www.oglobo.globo.com]

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