quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Ana Paula Laborinho: “As línguas são formas de afirmação de poder”

A presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua esteve de passagem pelo território como uma das oradoras do XII Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas. Na última sessão do encontro que terminou na passada sexta-feira discutiu-se o português no mundo e quais os desafios que esta língua enfrenta.

A afirmação do português como língua de ciência e de trabalho nas organizações internacionais e o universo potencial da intercompreensão entre as línguas espanhola e portuguesa foram os desafios levantados por Ana Paula Laborinho, na passada sexta-feira, no decorrer da sessão “O Português no Mundo”. “As línguas são formas de afirmação de poder, são formas também de se afirmar do ponto de vista dos negócios e por isso mesmo podemos dizer que as línguas seguem a rota dos negócios”, disse a presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, durante aquele que foi o último dia do XII Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas.
No contexto mundial, o idioma de Camões compõe atualmente um universo de 261 milhões de falantes e é a língua mais falada no hemisfério sul, a terceira nos negócios mundiais do petróleo e do gás e a quinta mais falada na Internet. Apesar destes indicadores e da “verdadeira política de língua” encetada pela República Popular da China, Ana Paula Laborinho, umas das responsáveis pela implementação do Instituto Português do Oriente em Macau, entende que “há dificuldades e há desafios”.
“Uma língua não será também uma grande língua internacional se não se afirmar do ponto de vista da ciência e da inovação”, considerou a presidente do Camões. De forma a que a língua portuguesa conquiste esta posição, a também professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa entende ser necessário estabelecer bases de dados científicos e preparar terminologias científicas em português. “É preciso que as questões da linguagem natural e da automatização passem também a ser trabalhadas em português”, rematou.
Uma das potencialidades apontadas pela presidente do Camões passa pelo aproveitamento da proximidade entre as línguas portuguesa e espanhola e a sua intercompreensão. “Forma-se uma comunidade de 700 milhões de falantes que se podem compreender também do ponto de vista dos negócios, da ciência, da inovação”, disse a académica, que apontou o “potencial muito grande” que daqui pode ser retirado.
Com a eleição de António Guterres como secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a académica considera que se criou uma “maior expectativa” quanto à língua portuguesa vir a tornar-se língua oficial do organismo. Contudo, Ana Paula Laborinho lembrou que o português “já é língua de trabalho em algumas agências da ONU, incluindo a UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura]”.
A PAISAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA EM TIMOR-LESTE E NA CHINA
O panorama do português no mundo foi também traçado por Benvida da Rosa Lemos Oliveira e Eugénia de Jesus das Neves, da Universidade Nacional de Timor Lorosa’e. As académicas timorenses retrataram a realidade linguística do seu país e apresentaram as políticas governamentais de reforço linguístico a par com a história da língua portuguesa em Timor-Leste.
Um elemento que surpreendeu as professoras foi a predominância da língua portuguesa na paisagem de Macau, por oposição ao que ocorre em Timor-Leste, onde se assiste a uma preponderância do indonésio, inglês e até chinês. Tais fatos apresentam-se contraditórios para as docentes, devido à entrada do português no seu país ser superior ao que já se fez em Macau em termos de promoção do idioma.
Por seu turno, Carlos Ascenso André, coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau, traçou o panorama do ensino do português na China com as suas conquistas, desafios e exigências. Ao reduzido número de professores alia-se o isolamento relativo das universidades e a ausência de meios e materiais. O académico entende ser necessário um apoio continuado na formação, produção de materiais destinados a docentes chineses, um maior diálogo entre as instituições e mais parcerias. “Numa palavra: apoio global, sistemático e regular”, concluiu.

[Fonte: pontofinalmacau.wordpress.com]

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