segunda-feira, 10 de abril de 2017

Quando você aprende a se divertir sozinho, lugar com muita gente incomoda

Escrito por Fábio Moon
É muito estranho para a maioria das pessoas a ideia de sair sozinho. Comer sozinho, beber sozinho, andar sozinho sem rumo, tudo isso é visto como sinal claro de solidão ou de excentricidade. Mais solidão que excentricidade, já que a maioria esmagadora de nós não é “cool”, nem tem “estilo” (assista ao vídeo na sequencia), embora nesses nossos tempos de obsessiva felicidade postada e da necessidade de celebrização de tudo, ninguém admita sem muita resistência a própria mediocridade cotidiana.
Contudo, existem pessoas que verdadeiramente gostam de passar algum tempo sozinhas e que sinceramente se divertem consigo mesmas. Mais que isso: em alguns momentos essas pessoas não querem a companhia de mais ninguém.


Quando você aprende a se divertir sozinho, lugar com muita gente incomoda

Fim de semana. O indivíduo resolve sair para comer. Sozinho.
Domingo à tarde. O sujeito resolve ir a um bar. Senta sozinho, abre um livro e pede uma cerveja.
Sábado à noite. A pessoa resolve não sair. Fica em casa para ver um filme e para cozinhar…para um.
Essas situações sempre geram incredulidade e surpresa, e provavelmente geram olhares de espanto e pena de garçons, ou risos diante de uma pessoa sentada num bar com um livro, ou ainda críticas a alguém que decide ficar em casa sozinho num sábado à noite. Facilmente esse alguém é chamado de solitário e esquisito.
Pode ser que nessas ocasiões não haja má intenção de quem olha torto, ou ri ou critica; essas pessoas simplesmente não entenderam nada. Ruim para elas.
Então mesmo possuindo ótimos amigos e gostando muito de sair com eles, a questão é que tem dias em que uma pessoa quer apenas a sua própria companhia; quer desfrutar apenas as suas próprias ideias, suas próprias bobeiras, bem como aproveitar um tempo para fazer uma autoanálise sobre os tropeços que tem dado na vida e sobre o que é preciso para erguer novamente sua própria espinha dorsal.
Uma das coisas interessantes que deságuam nisso é que todos os dias, vídeos, imagens e textos sobre autoestima são publicados à exaustão nas redes sociais. A quantidade é tanta que chega a um ponto em que tudo começa a ficar com uma cara de Augusto Argh Cury, o que te faz preferir um tratamento de canal a ver mais coisas desse tipo.
Mas quando você percebe que passar um tempo somente consigo mesmo é algo que lhe agrada ao ponto de você se arrumar e sair de casa só para isso, você percebe com muito espanto que algo daquela quantidade de coisas que leu/viu/pensou/ouviu, de alguma forma entrou na sua mente complicada e provocou alguma mudança que você sequer percebeu. É nesse dia que você descobre que gosta muito de si próprio, mesmo ainda tendo um caminhão de conflitos e encanações estacionado em sua garagem.
Então, seja qual for o motivo da saída solo, por si só ela é um indicador incrivelmente positivo, e mesmo que se saia sozinho para fazer uma autoanálise, isso não é sinal de tristeza.
Isso significa que a pessoa que tem disposição para sair de casa sozinha, aleatoriamente, está num estado de espírito muito melhor do que quem se recusa a sair sem companhia?
Negativo! Não há nada de especial nisso; é apenas diferente.
Consequência disso tudo é o desejo de calma, de sair sozinho para algum local sem aglomerações nem festança; e se houver algum evento, que seja num local em que ninguém te conheça.
Daí ao sair, ocorre que a pessoa chega ao lugar, vê que ele está tranquilo e acha ótimo. Ela se se acomoda e não dá muita importância à estranheza das pessoas ao seu redor, diante da sua figura equivocadamente vista como solitária por elas.
Está tudo indo muito bem, até que de repente o local fica cheio de gente, e isso era exatamente o que mais se temia.
É claro que quase todo mundo gosta de gente, gosta de ver e de conhecer pessoas novas, MAS NÃO NESSE DIA! Nesse ponto, você que está lendo já perguntou “mas se uma pessoa não quer ver muita gente, por que diabos sai de casa?”. Sim, a pergunta procede, mas é assim mesmo: a pessoa quer sair de casa, mas não quer ver muita gente. Conflitante? Sim; não, discordo!
Acontece que justamente nesse dia o que não se quer é ver um monte de gente fazendo selfies, reclamando do sinal da Tim/NOS/Movicel e praguejando porque não consegue fazer um check-in no Facebook.
Nesses momentos fica evidente que local com muita gente é ruim e uma boa saída é ter às mãos um bom par de fones de ouvido que o isole das outras pessoas, até porque é incômodo quando os outros compartilham sua privacidade contigo à força.
Mesmo que você tenha chegado primeiro ao lugar, você tem a impressão de que a turba que invadiu o local roubou sua privacidade, e começa a sentir que na verdade, você é que passou a ser o intruso a partir de agora. O seu momento pessoal tornou-se frágil diante da coletividade festiva, e infelizmente a questão numérica vai te vencer. Você pede a conta.
Na verdade não se trata de uma derrota. Talvez “desistência” seja um pouco menos impreciso, pois nesse caso, simplesmente o local mudou de configuração, e se antes ele tinha as condições ótimas para uma saída solo, agora ele ficou com cara de programa familiar ou quase uma balada, e você não saiu em busca disso. Logo, simplesmente o local deixou de ser interessante pois muita gente incomoda, e você só queria permanecer tranquilo na melhor companhia com a qual saiu de casa: você mesmo.
Se criar esse bem-estar consigo mesmo foi difícil, encontrar um outro lugar para desfrutar dele é a tarefa mais fácil do dia. Avante!
[Fonte: www.pensadoranonimo.com.br]

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