Trocando em Miúdos: Ao ser bombardeado por
mais de dezenas de mensagens publicitárias ao som de Pai, do Fábio
Júnior, parece difícil separar o que é apenas pieguice e o que é real.
Por Taiana Bubniak
Vitrines cheias de bigodes, charutos, lenços e camisas, pais
lendo jornal (quanto originalidade…) e, ao fundo, uma música sentimental
qualquer. Assim como no dia das mães,
o dos pais é data que conta com investimentos massivos em publicidade.
Aí esse mix de propagandas em demasia e mensagens bonitinhas, mas
ordinárias… não me deixa outra saída: é preciso problematizar.
Na nossa sociedade, conformou-se, ao longo dos anos, que é a mãe que
cuida dos filhos que faz junto com o pai. A mãe é responsável por
gestar, parir e amamentar (ok, essas tarefas são inalienáveis). Acontece
que todas as outras que vem em seguida também ficaram sob
responsabilidade das mulheres: fazer arrotar, dar comida, dar banho,
trocar fralda, vestir, desvestir, fazer dormir, acordar, brincar,
distrair, educar, brigar, cantar canções de ninar, ensinar a arrumar o
armário, ensinar que não pode puxar cabelo, morder, gritar.
E assim, nem era por maldade propriamente dita (sou compreensiva). É
mais porque as práticas culturais (machistas e patriarcais), ao longo da
conformação da sociedade como conhecemos, levaram-nos a esse cenário.
Nos últimos anos, vê-se uma movimentação, tanto de mulheres – que viram o
quanto estavam sobrecarregadas por algo que não era de responsabilidade
exclusiva delas – quanto de alguns pais – que se deram conta de que
precisam participar ativamente da vida dos filhos – para diminuir esse
déficit de participação parental.
É a chamada paternidade ativa, expressão que está em alta. Se eu acho
isso bom? Acho ótimo. Tem pais realmente preocupados em ocupar seu
espaço na casa e no coração dos filhos, garantir a divisão igualitária
de tarefas, participar da educação dos filhos. Esses pais entenderam que
não basta ser o “provedor financeiro” da casa, que esta não é sua única
função. Por dois motivos: a) as mulheres trabalham e ganham seu próprio
dinheiro; b) este papel é ridículo pois transfere toda a importância de
carinho e atenção para o dinheiro.
Um pai que assumiu esse papel e fala sobre isso na internet é o Thiago Queiroz, criador do blog Paizinho Vírgula. Ele, por exemplo, atua politicamente nesse sentido. Aliás, dá uma olhada lá nos textos e nos vídeos dele, são bem bacanas.
Acontece que essa movimentação (que é bem recente mesmo e é bem
pontual, está longe de ser unanimidade) acabou gerando um efeito
perverso. Pais têm de participar? Sim. Mas os pais que participam
minimamente acabam ganhando louros, prêmios e elogios, como se para ser
mãe você seguisse apenas uma obrigação e para ser pai ativo você estaria
tendo um grande ato de coragem. Ser pai presente e ativo é obrigação
também. Os pais fazem o mínimo, ficam “na média” e acham que já fizeram o
suficiente ou que “já tá bom”, contentando-se com o papel de
coadjuvante.
Esse efeito perverso também não
acontece por mal, propriamente dito. É um resquício ainda forte da nossa
criação, que ainda é machista e patriarcal. O pai dos meus filhos –
embora reconheça que lute contra a sua própria natureza – participa
ativamente da vida dos filhos. Dá banho, troca fraldas, etc etc. Já ouvi diversas vezes: “mas ele é um paizão!” ou a terrível variante:
“mas que sorte você tem, ele é ótimo pai”. Acontece que eu faço as
mesmas tarefas (além de ter feito as inalienáveis) e nunca recebi elogio
algum por isso.
Antes de que você me acuse de ser carente ou de querer receber
congratulações por ciúme: quero, na verdade, que a figura paterna seja
efetiva. Que os homens – e a sociedade – entendam que não fazem mais do que
a sua obrigação quando assumem os filhos, quando se responsabilizam por
eles e pela casa onde moram (sim, ainda são as mulheres que lavam a louça, a roupa e o chão,
na maioria das vezes). Quando pagam a pensão; quando buscam a criança
doente na escola; quando assumem a guarda compartilhada; quando passam a
noite cuidando do bebê; quando ficam com a cria no colo; quando
cozinham com os filhos agarrados nas pernas; quando têm que deixar de
fazer uma atividade que gostariam muito para prestar atenção nos filhos.
Quando fazem tudo isso e o que mais vier: não é mais do que a sua
obrigação.
Que os homens – e a sociedade – entendam que fazer um pouco só não
adianta nada. Que eles não precisam imitar as mães ou virar ~pães~
(expressam que une as palavras pai e mãe): eles precisam assumir seu
papel integralmente, sem preguiça, sem desculpa. Se você, pai, um dia
viu a mãe dos seus filhos fazendo algo e pensou: “mas só ela sabe fazer…
eu não sei”. Que tal aprender? Você sabia usar um smartphone em 2007?
Você sabia jogar Pokemon Go há um mês? Então dar banho no filho, trocar
fralda, vestir, brincar, ensinar, dar comida: também é questão de querer
aprender.
Pais precisam ser protagonistas e isso não significa disputar com as
mães, apenas dividir com elas as tarefas necessárias. Até que um dia a
expressão “amor de pai” – assim como é atualmente a locução “amor de
mãe” – signifique a dedicação, a entrega e a responsabilidade que um
filho merece.
[Fonte: www.aescotilha.com.br]
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