Documentário ‘Eduardo Galeano Vagamundo’ homenageia o escritor uruguaio com personalidades como Ricardo Darín e Mia Couto
Escrito por MARINA ROSSI
“Escrever é a única coisa que eu consigo mais ou menos. Então não posso viver sem escrever. Porque além do mais, eu gosto. Para mim não é um suplício escrever. Escrever é uma festa”, disse Eduardo Galeano, em uma entrevista em outubro de 2009, no jardim de sua casa. Naquele dia, o escritor uruguaio falou de sua profissão, vida, seus livros, as histórias que contou e as pessoas que cruzaram seu caminho. A entrevista, gravada em preto e branco, foi o ponto de partida para a produção do documentário Eduardo Galeano Vagamundo, do diretor Felipe Nepomuceno, cuja estreia mundial ocorreu durante o 28º Cine Ceará, que acontece esta semana em Fortaleza.
O filme mescla trechos dessa entrevista com a leitura, por personalidades, de alguns de seus contos e crônicas latino-americanas. O ator argentino Ricardo Darín, o escritor moçambicano Mia Couto, o ator Paulo José, o artista plástico Francisco Brennand e o poeta Armando Freitas Filho são algumas delas.
Assim como a entrevista, as únicas cores usadas no filme são o preto, o branco e, vez ou outra, o vermelho. E por trás dessa escolha, há uma explicação. “Me lembra muito a escultura de Oscar Niemeyer no Memorial da América Latina, em São Paulo”, disse Nepomuceno após a exibição. “O vermelho é como uma veia”. Nepomuceno se refere à escultura de concreto em forma de mão, mas que também é o formato do bloco dos países latino americanos, com uma faixa vermelha em referência ao sangue escorrendo. Ou à obra de Galeano As veias abertas da América Latina. Ou aos dois.
As referências do documentário, porém, não têm como objetivo contar a história de vida do escritor, morto em abril de 2015, aos 74 anos. “Não tenho a pretensão de fazer um filme biográfico, sobre a vida dele”, disse o diretor. Talvez porque Nepomuceno fosse muito ligado ao escritor. Filho do jornalista Eric Nepomuceno, amigo de Galeano, Felipe cresceu muito próximo à família do escritor uruguaio. A proximidade inclusive fez com que uma das filhas de Galeano, Florência Hughes, estivesse presente na estreia. “Papai vivia a um metro e vinte de distância do chão”, metaforizou ela, no dia seguinte à exibição do filme, ao descrever a leveza e sintonia em que o pai vivia. “E gostava muito do silêncio”.
Não à toa, a ausência de som é parte do filme, que entre algumas frases - ou leituras - e outras, deixa uma lacuna para que o espectador possa assimilar o que acabou de ouvir. Algumas parecem vindas de bancos de imagem, mas, de fato, chamam à reflexão. De qualquer forma, o objetivo se cumpre: depois de ouvir Galeano em Eduardo Galeano Vagamundo, cujo nome já é uma homenagem a uma de suas obras, é muito provável que o espectador saia do cinema com vontade de ler todas as obras do escritor. Por enquanto, o filme não tem dada para estrear nos cinemas.
[Fonte: www.elpais.com]
Excelente post!
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