Conheça os tipos de saca-rolhas, a forma de usá-los e as situações em que eles são necessários
Por Arnaldo Grizzo e Eduardo Milan
Para muitos, o saca-rolhas ainda hoje é um instrumento que intimida, que inibe uma relação com o vinho. Mas já foi muito pior, quando havia apenas um tipo, aquele com a espiral de metal em um suporte básico no qual é preciso de técnica e força para retirar a rolha sem quebrá-la. Atualmente, porém, a indústria facilitou e muito a vida dos enófilos, criando saca-rolhas modernos em que simplesmente não se faz esforço algum para abrir uma garrafa.
A infinidade de modelos é incrível. Baseados em princípios de mecânica simples, como alavancas, eles possuem inúmeros designs, mas a finalidade é sempre a mesma: ajudá-lo a liberar o líquido cuidadosamente guardado por aquele vedante de cortiça. Atualmente, fala-se em seis tipos básicos: o tradicional, o de sommelier, o “borboleta”, o “coelho”, o de mesa, o elétrico, o de pinça e o de pressão. Apesar de teoricamente servirem para o mesmo fim, cada um pode servir para uma ocasião diferente. Mas, antes de entrar nesse ponto, vale conhecer um pouco da evolução dessa ferramenta.
Garrafas e cortiça
A história do saca-rolhas guarda relação íntima com a história das garrafas de vinho. De fato, na Antiguidade, os vinhos eram armazenados e transportados em ânforas de terracota. Por serem grandes, esses vasos dificultavam o serviço da bebida, tornando necessário o uso de um recipiente intermediário, normalmente jarras de argila ou de cerâmica. Quando os romanos inventaram a técnica de produzir garrafas de vidro soprado, elas também passaram a ser usadas com essa mesma finalidade.
Foi uma questão de tempo até que, no século XVII, o vidro passasse a ser produzido em quantidades comerciais, se tornasse bastante comum na Europa e as garrafas fossem usadas diretamente para armazenar vinhos, e não apenas para servi-lo.
As primeiras garrafas tinham o corpo em forma de globo e o pescoço mais longo e cônico. Mais tarde, o contorno das garrafas passou a lembrar o de uma cebola, mas, de todo modo, não havia um tamanho padrão para os pescoços, tampouco esses envases podiam ser guardados na horizontal. Assim, rolhas cônicas funcionavam satisfatoriamente como uma tampa, especialmente porque um pedaço delas permanecia para fora do topo da garrafa, fazendo com que fosse bastante fácil removê-las com as mãos.
Em meados do século XVII, as garrafas já haviam evoluído para um formato cilíndrico, podendo ser armazenadas horizontalmente – o que providenciava mais espaço nas adegas, já que podiam ser colocadas lado a lado. As rolhas tiveram que acompanhar essa mudança, passando a também ser cilíndricas e com diâmetro padrão. Obviamente, remover essas “novas rolhas” já não era tarefa tão simples e um artefato especial para abrir as garrafas precisou ser desenvolvido.
Os primeiros saca-rolhas
Não se sabe quando e quem fez o primeiro saca-rolhas, mas especula-se que se tratava de uma espécie de espiral de metal, semelhante a um dispositivo utilizado para limpar ou remover cargas não disparadas de canos de mosquetes. Possivelmente, a invenção é inglesa, por conta da tradição da cidra e da cerveja. De fato, a menção escrita mais antiga da qual se tem notícia é do agricultor britânico John Worlidge, em seu “Treatise on Cider”, de 1676, no qual se fala em “um parafuso de aço utilizado para remover as tampas das garrafas”.
A primeira patente de saca-rolhas foi registrada em 1795, na Inglaterra, pelo reverendo Samuel Henshall. Esse primeiro registro, porém, foi seguido por muitos outros, na França, Estados Unidos, Alemanha e Canadá, por exemplo.
Os modelos iniciais eram em forma de “T”, com uma espiral para ser introduzida na rolha e uma base de apoio a ser segurada para puxá-la. Mais tarde, já nos idos de 1850, surgiram os saca-rolhas de alavanca, que reduziram significativamente o esforço da extração da rolha. Em 1882, o alemão Karl Wienke desenvolveu um saca-rolhas usando uma espécie de cabo de faca como alavanca, que viria a ser conhecido como “o amigo do garçom”, ainda hoje um dos mais populares mundo afora e ferramenta essencial dos sommeliers.
Tipos de saca-rolhas e seus usos
Tradicional
O saca-rolhas tradicional mantém o design das primeiras ferramentas feitas com a finalidade de retirar as rolhas das garrafas, com formato de “T”, sendo uma espiral metálica apoiada em algum material resistente. Seu mecanismo é simples, basta inserir a rosca na rolha e depois puxar. No entanto, por não ter uma alavanca, é preciso de força para extrair o vedante. Iniciantes devem evitar o modelo, pois sem a técnica necessária, a rolha pode quebrar.
Sommelier
Este é o modelo que está nas mãos de todos os garçons e sommeliers nos restaurantes, daí o nome. Ele mantém basicamente o mesmo formato do tradicional, porém com a adição de um suporte que forma uma alavanca para facilitar a retirada da rolha. Antes, essa alavanca tinha apenas uma base de apoio, hoje, a maioria deles vêm com dois estágios. Basta inserir a espiral na rolha (sem atravessá-la), ajustar o suporte no gargalo e fazer força usando a base apoiada como alavanca. É o abridor mais confiável de todos.
Borboleta
O saca-rolhas em formato de borboleta foi desenhado para ser ainda mais simples de usar. Teoricamente, basta posicionar a espiral sobre o gargalo e começar a girá-la para que ela seja inserida na rolha. Enquanto a espiral desce, os braços da ferramenta sobem. Assim que eles estiverem no alto, basta forçar para descê-los ao mesmo tempo. Isso vai remover o vedante com facilidade. O ponto desfavorável é que, às vezes, a ponta da espiral atravessa toda a rolha, deixando farelos no vinho. Cuidado ainda com o apoio, pois alguns modelos não se encaixam perfeitamente sobre os gargalos.
Coelho
O nome se deve às abas pelas quais se prende o gargalo do vinho, que lembram as orelhas de um coelho. Este é um dos abridores mais simples de usar. Basta prender “as orelhas” ao redor do gargalo, baixar a alavanca – que vai inserir a espiral na rolha – e puxá-la de volta para cima, quase sem fazer força. A rolha sai como num passe de mágica. Para tirar a rolha da espiral, basta repetir o movimento. Excelente modelo para iniciantes.
Saca-rolhas de mesa
O saca-rolhas de mesa usa o mesmo princípio do “coelho”, porém em um formato ainda maior. Posicione a garrafa, acione a alavanca para baixo e depois para cima e, voilà, a rolha saiu. Apesar de não ser portátil, causa uma grande impressão. Para quem é fã de acessórios de vinho.
Elétrico
Para quem não quer fazer força alguma, este é o modelo mais indicado. Um simples toque em um botão e ele faz tudo sozinho. Cuidado apenas com rolhas muito duras. Na mesma linha, há modelos “manuais”, em que se rosqueia a espiral até que a rolha saia. Vale lembrar que ambos atravessam a rolha e isso pode deixar farelos no vinho.
Pinça
Juntamente com o modelo tradicional, este talvez seja o mais complicado de usar, pois é preciso técnica apurada para encaixar suas abas na lateral da rolha sem permitir que ela escorregue para dentro do gargalo. No entanto, ele é indicado para abrir vinhos antigos cujas rolhas podem estar comprometidas e esfarelarem caso um abridor tradicional seja usado. Primeiramente, insere-se a haste maior entre a rolha e a lateral do gargalo, depois a menor, e fazendo um sutil “vai-e-vem”, elas ficam posicionadas corretamente. Para retirar, é preciso fazer um leve movimento de torção juntamente com o movimento para cima. Dessa forma, a rolha deve sair inteira, sem qualquer dano.
Pressão
Diferentemente dos outros modelos em que são usadas alavancas para retirar a rolha, neste usa-se outro princípio físico: a pressão do ar. Ao se inserir ar dentro da garrafa através de uma agulha, cria-se pressão e, dessa forma, a rolha é expelida para fora. Simples. Há modelos em que você mesmo bombeia o ar para dentro da garrafa e outros com dispositivos de injeção de ar comprimido. Esse tipo de abridor também é muito útil em vinhos antigos com rolhas que podem esfarelar, mas é preciso cuidado para inserir a agulha atravessando cuidadosamente a cortiça. Se houver muito espaço entre a rolha e a parede do gargalo, talvez esse saca-rolhas não funcione com perfeição, já que o ar vai escapar e não formar a pressão necessária para expelir a rolha. No modelos de ar comprimido, é necessário cuidado ao usar em garrafas antigas para não correr o risco de quebrá-las devido à pressão.
[Fonte: www.revistaadega.uol.com.br]
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