Por Samuel Pessôa
Nossa sociedade já se beneficiou muito de imigrantes. Boa parte do
desenvolvimento do país das últimas décadas do século 19 até a primeira
metade do século 20 contou com o aporte de trabalhadores estrangeiros
que fizeram do Brasil sua terra.
Apesar de esses migrantes serem relativamente desqualificados para os
padrões educacionais médios atuais do mercado de trabalho brasileiro,
eram muito educados para os padrões do mercado brasileiro de trabalho à
época.
Em 1900, 7,3% da população brasileira era de imigrantes. Hoje os
imigrantes representam ridículo 0,3% da população. Adicionalmente,
metade dos imigrantes tem idade média acima de 60 anos.
Diversos países têm se beneficiado muito do ingresso de novos
trabalhadores por meio dos fluxos imigratórios. Por exemplo, a população
imigrante na Suíça, na Nova Zelândia, na Austrália e no Canadá
representa 22% aproximadamente da população total.
Em geral esses países se utilizam de programas educacionais para atrair
novos imigrantes. Os jovens vão aos países com o objetivo de fazer um
curso, muitas vezes de língua estrangeira, e acabam encontrando
oportunidades para lá se estabelecerem.
O Brasil deveria criar programas para estimular a imigração de mão de
obra qualificada. Além de contribuir para o crescimento do país, a maior
oferta de mão de obra qualificada contribuirá para minorar o problema
da elevada desigualdade de renda.
Inúmeros estudos nos últimos 30 anos, liderados pelos trabalhos
pioneiros de Ricardo Paes de Barros no início dos anos 1990,
documentaram que a elevada desigualdade educacional é o fator mais
importante para descrever a desigualdade de renda em nossa sociedade.
A imigração de mão de obra qualificada elevando a oferta de trabalho
qualificado contribui para reduzir a desigualdade de escolaridade e,
portanto, melhorar a desigualdade de renda.
A maior oferta de trabalhadores qualificados reduzirá a renda desse tipo
de trabalho e elevará a renda do trabalho desqualificado, contribuindo
para reduzir a desigualdade de renda.
A grande dificuldade é criarmos mecanismos institucionais que permitam a
absorção de trabalhadores estrangeiros com elevada qualificação.
Diferentemente do que ocorreu no fluxo imigratório anterior, quando o
maior nível de qualificação correspondia a profissionais de nível
técnico, hoje maior qualificação significa profissionais de nível
superior em profissões que requerem que o profissional seja credenciado
localmente.
Médicos têm que ser aprovados no Revalida, advogados terão que fazer o
exame da Ordem dos Advogados, engenheiros, obter a licença do Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia, e assim por diante.
A dificuldade é que a necessidade de credenciamento eleva muito o custo
da imigração, desestimulando a vinda do profissional. Por outro lado,
abrir mão completamente do credenciamento não parece ser legalmente
possível e provavelmente não é desejável.
É nesse sentido que vejo o programa Mais Médicos do Ministério da Saúde
com um bom projeto-piloto de um programa para estimular a imigração de
mão de obra qualificada.
O profissional estrangeiro que se candidatar ao programa é hospedado por
uma instituição pública de ensino superior. Sob a supervisão dessa
instituição desempenha a atividade. A instituição hospedeira auxilia o
profissional na adaptação ao país e supervisiona o profissional, como
ocorre na residência médica.
O profissional tem tempo de se adaptar, aprender a língua e se preparar
para a certificação. Após algum tempo, três anos, no caso do programa
Mais Médicos, e tendo sido aprovado na certificação, seria absorvido no
mercado de trabalho brasileiro com plenos direitos.
Nesse momento aparecerão divergências com o governo cubano.
Samuel de Abreu Pessôa
[Fonte: www.folha.com.br]
Texto excelente que analisa bem as vantagens da imigração e as exigências justas quanto ao credenciamento local dos profissionais. O que não pode haver é excesso de burocracia. Em alguns países estes mecanismos funcionam mais rápido e com maior transparência.Precisamos de conhecer os procedimentos.
ResponderEliminarO que não há duvida é que a mão de obra qualificada contribuirá para minorar o problema da elevada desigualdade de renda.
Saudações,
Margarida