Argumento parecido foi usado por ele numa espécie de crônica publicada em O Globo em 1997 (e republicada no livro “O futuro do pensamento brasileiro”, do mesmo ano) em que diz:
Entre o fim da I Guerra e a ascensão de Hitler, ninguém foi mais excluído e discriminado que os alemães — e vejam só a porcaria que depois eles fizeram a pretexto de enderechar entuertos. Os judeus copiam na Palestina a meleca germânica, e os pretos já começam a bater no peito com demonstrações ostensivas de orgulho racial, nostálgicos talvez do tempo em que, faraós no Egito, desciam o chicote no lombo semita.
Não é completamente claro como esses textos podem ter sido escritos por alguém que, hoje, defende Israel com tanta obstinação. Mas o contexto político nos anos 1990 no Oriente Médio talvez ajude a explicar as críticas de Olavo. Se hoje a elite política israelense se aproxima da extrema-direita, entre 1992 e 1996, o país foi governado por primeiro-ministros de centro-esquerda que fizeram avanços reais nas negociações com a Palestina. O primeiro texto foi escrito poucos meses antes do assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin por um extremista que se opunha ao processo de paz com os palestinos. O segundo foi publicado durante o primeiro governo do linha-dura Benjamin Netanyahu – atual mandatário de Israel. Apesar de sua guinada conservadora, Netanyahu, à época da publicação do texto, dava continuidade às negociações.
O problema não é, claro, a crítica a governos de Israel, que já cometeram (e continuam cometendo) diversas violações aos direitos humanos de palestinos. Mas, de acordo com a Aliança, “fazer comparações entre políticas públicas israelenses e aquelas do nazismo” é um exemplo típico de antissemitismo. Por mais grave que possa ter sido a “meleca” a que Olavo se refere, ela é incomparável com o Holocausto. Procurada pelo Intercept, a Embaixada de Israel não se pronunciou sobre os escritos do ideólogo de Bolsonaro.
Ódio a judeus não é antissemitismo?
 
Para Olavo de Carvalho – que não respondeu aos pedidos de comentário do Intercept – tudo isso deve ser só um detalhe politicamente correto. No artigo de 1995, ele critica o que chama de “mania investigatória que busca sinais de antisemitismo [sic] por toda parte”. Segundo ele, tão repugnante quanto o antissemitismo é a “distorção” do termo para a “manipulação das consciências”. E então oferece sua própria definição:
É também absurdo rotular indiscriminadamente como ‘preconceito’ qualquer opinião contra os judeus. Preconceito é opinião pré-conceitual, impensada, irracional. Um homem pode perfeitamente chegar a conclusões desfavoráveis aos judeus por meio de reflexão, de pensamento conceitual, mesmo que falhe e se afaste da verdade. […] Antissemitismo, no rigor da palavra, não é […] uma vaga antipatia que não se traduza em atos discriminatórios, mas sim uma ideologia que, formal e explicitamente, combata a nação judaica como tal, visando ao seu enfraquecimento ou mesmo à sua extinção […].
Ou seja, a julgar por essa formulação bizarra, alguém pode odiar judeus e o judaísmo e ainda assim não ser antissemita. Desde que a pessoa não acredite numa ideologia formal e explícita de combate à “nação judaica”, e que a opinião seja baseada em “reflexões” que não se traduzam em “atos discriminatórios”, tudo bem. Como é óbvio, Olavo não tem razão.