segunda-feira, 11 de setembro de 2017

«A minha rua», por Camané

Mudou muito a minha rua 
Quando o outono chegou 
Deixou de se ver a lua 
Todo o trânsito parou 

Muitas portas estão fechadas 
Já ninguém entra por elas 
Não há roupas penduradas 
Nem há cravos nas janelas 

Não há marujos na esquina 
De manhã não há mercado 
Nunca mais vi a varina 
A namorar com o soldado 

O padeiro foi-se embora 
Foi-se embora o professor
Na rua só passa agora 
O abade e o doutor 

O homem do realejo 
Nunca mais por lá passou 
O Tejo já não o vejo 
Um grande prédio o tapou 

O relógio da estação 
Marca as horas em atraso 
E o menino do pião 
Anda a brincar ao acaso 

A livraria fechou 
A tasca tem outro dono 
A minha rua mudou 
Quando chegou o outono 

Há quem diga ainda bem 
Está muito mais sossegada 
Não se vê quase ninguém 
E não se ouve quase nada 

Eu vou-lhes dando razão
Que lhes faça bom proveito 
E só espero pelo verão 
P`ra pôr a rua a meu jeito


[Letra: Manuel de Freitas]



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