Como se sabe, o infinitivo é mesmo uma pedra no sapato de 101% dos falantes de português. Não há quem nunca tenha ficado em dúvida entre flexionar ou não flexionar o danado. Em palavras pobres, o infinitivo é o próprio verbo, do jeito que aparece no dicionário ("amar", "beijar", "sofrer", "partir" etc.).
O nó está
justamente na hora de flexionar (ou não) o infinitivo: "A virginal
oposição faz o possível para os desmemoriados brasileiros acreditarem que a
bandalheira no país começou com a chegada do PT ao poder" ou "A
virginal oposição faz o possível para os brasileiros acreditar que a
bandalheira no país começou com a chegada do PT ao poder"? Ou tanto faz?
Ou depende?
Nesses
exemplos, a decisão entre flexionar ou não flexionar o infinitivo não depende
de nada. O caso é clássico: o infinitivo tem sujeito próprio, diferente do
sujeito do verbo anterior. O verbo anterior é "faz", cujo sujeito é
"a virginal oposição". O sujeito do infinitivo é "os
desmemoriados brasileiros", portanto...
Portanto o
infinitivo deve concordar com o seu sujeito, sem choro nem vela: "A
virginal oposição faz o possível para os desmemoriados brasileiros acreditarem
que...".
Quando o
sujeito do infinitivo é igual ao do verbo da oração principal, a flexão (ou
não) do infinitivo depende do que se queira enfatizar. Vejamos estas duas
construções, ambas corretas e possíveis, mas não equivalentes: "Os
deslumbrados da situação fazem o possível para convencerem a população de que a
roubalheira na Petrobras é pura invenção"; "Os deslumbrados da
situação fazem o possível para convencer a população de que a roubalheira na
Petrobras é pura invenção".
O sujeito de
"fazem" é "os deslumbrados da situação", certo? E qual é o
sujeito de "convencer"? É o mesmo, não? Afinal, são eles que querem
convencer a população, certo? Aí entra em cena o que decide a questão: o que se
quer enfatizar?
Se a ênfase
recai sobre o processo expresso pelo infinitivo, nada de flexão: "Os
deslumbrados da situação fazem o possível para convencer...". Se a ênfase
recai sobre o agente do processo expresso pelo infinitivo, opta-se pela flexão:
"Os deslumbrados da situação fazem o possível para convencerem...".
Posto isso,
vamos a um título publicado anteontem num site: "Coreia do Norte diz ter
reduzido ogivas nucleares para caber em mísseis". Tomado ao pé da letra, o
título informa que a Coreia do Norte fez o que fez para caber em mísseis.
Sim, para
ela, Coreia do Norte, caber em mísseis. Essa Coreia é a daquele ridículo
tiranete, ótimo exemplo para os ridículos daqui que querem uma ditadura. Como
obviamente o que se queria informar era outra coisa (decerto queria informar-se
que o infame reduziu as ogivas para que elas coubessem nos mísseis), a
construção adequada seria outra: "Coreia do Norte diz ter reduzido ogivas
nucleares para caberem em mísseis". Talvez fosse melhor esta forma:
"Coreia do Norte diz ter reduzido ogivas nucleares para que coubessem em
mísseis". É isso.
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