Por THALES
DE MENEZES
O jornalista Vitor Nuzzi diz
que uma frase repetida sobre Geraldo Vandré concentra três equívocos sobre o
cantor e compositor. "A frase é a que diz 'Vandré é um autor de músicas de
protesto que foi torturado e ficou louco'."
Primeiro: Vandré
começou na bossa nova, depois se afastou do gênero e partiu para muita pesquisa
sobre origens da música brasileira, principalmente moda de viola.
"Pra Não Dizer
que Não Falei das Flores", canção de 1968 que colocou seu nome entre
artistas perigosos para a ditadura, foi transformada em hino contra o regime,
mas seu apelo panfletário é somente uma parte da grande produção de Vandré nos
anos 1960.
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Segundo: não há provas de que Vandré
tenha sido torturado. Teria sido apenas detido e interrogado. O próprio artista
nunca confirmou essa lenda urbana.
Terceiro: Vandré não ficou louco na
volta do exílio. Hoje, aos 79 anos, é um homem que acrescentou a suas opiniões
radicais uma reclusão total.
O conhecimento sobre Vandré acumulado
por Nuzzi em oito anos de pesquisa foi alojado nas páginas da biografia não
autorizada "Uma Canção Interrompida".
O autor tentou falar com o artista, mas
este não quis colaborar. Então Nuzzi resolveu seguir assim mesmo, com cerca de
cem entrevistas.
Em 2007, quando tinha uma primeira
versão, ofereceu o livro a editoras. Umas nem responderam, outras propuseram
mudanças por um "ghost writer" –o que Nuzzi não aceitou– e duas foram
claras: não queriam nem sequer avaliar uma biografia não autorizada.
Na época, a questão das biografias era
debatida na imprensa, depois que Roberto Carlos conseguiu na Justiça que sua
biografia escrita por Paulo Cesar de Araújo fosse recolhida das livrarias.
Em 2013, com uma versão duas vezes
maior do que a primeira, o autor pagou pela publicação de cem exemplares, já
esgotados. "O número não tem nada de cabalístico, é o que deu para fazer
com meu orçamento", conta Nuzzi à Folha. O livro foi
distribuído gratuitamente para pessoas escolhidas por Nuzzi. "Mesmo sem a
comercialização da obra, ele poderia tentar uma ação judicial contra mim",
relata o jornalista, que diz, porém, não acreditar na hipótese.
Para o autor, o foco de seu livro é o
"não retorno" de Vandré. "Enquanto outros como Caetano Veloso e
Gilberto Gil retornaram ao país e seguiram carreira, ele não cantou mais."
Segundo o livro, na volta ao Brasil, em
73, Vandré concordou em largar a carreira e gravar entrevista de
"retratação" ao "Jornal Nacional" –que foi ao ar vigiada
por censores.
[Foto: Folhapress - fonte: www.folha.com.br]
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