quarta-feira, 10 de junho de 2015

Editoras recusam livro que exibe nova visão sobre Geraldo Vandré

Por THALES DE MENEZES 

O jornalista Vitor Nuzzi diz que uma frase repetida sobre Geraldo Vandré concentra três equívocos sobre o cantor e compositor. "A frase é a que diz 'Vandré é um autor de músicas de protesto que foi torturado e ficou louco'."

Primeiro: Vandré começou na bossa nova, depois se afastou do gênero e partiu para muita pesquisa sobre origens da música brasileira, principalmente moda de viola.

"Pra Não Dizer que Não Falei das Flores", canção de 1968 que colocou seu nome entre artistas perigosos para a ditadura, foi transformada em hino contra o regime, mas seu apelo panfletário é somente uma parte da grande produção de Vandré nos anos 1960.

Geraldo Vandré em foto de 25 de abril de 1968, em São Paulo

Segundo: não há provas de que Vandré tenha sido torturado. Teria sido apenas detido e interrogado. O próprio artista nunca confirmou essa lenda urbana.

Terceiro: Vandré não ficou louco na volta do exílio. Hoje, aos 79 anos, é um homem que acrescentou a suas opiniões radicais uma reclusão total.

O conhecimento sobre Vandré acumulado por Nuzzi em oito anos de pesquisa foi alojado nas páginas da biografia não autorizada "Uma Canção Interrompida".

O autor tentou falar com o artista, mas este não quis colaborar. Então Nuzzi resolveu seguir assim mesmo, com cerca de cem entrevistas.

Em 2007, quando tinha uma primeira versão, ofereceu o livro a editoras. Umas nem responderam, outras propuseram mudanças por um "ghost writer" –o que Nuzzi não aceitou– e duas foram claras: não queriam nem sequer avaliar uma biografia não autorizada.

Na época, a questão das biografias era debatida na imprensa, depois que Roberto Carlos conseguiu na Justiça que sua biografia escrita por Paulo Cesar de Araújo fosse recolhida das livrarias.

Em 2013, com uma versão duas vezes maior do que a primeira, o autor pagou pela publicação de cem exemplares, já esgotados. "O número não tem nada de cabalístico, é o que deu para fazer com meu orçamento", conta Nuzzi à Folha. O livro foi distribuído gratuitamente para pessoas escolhidas por Nuzzi. "Mesmo sem a comercialização da obra, ele poderia tentar uma ação judicial contra mim", relata o jornalista, que diz, porém, não acreditar na hipótese.

Para o autor, o foco de seu livro é o "não retorno" de Vandré. "Enquanto outros como Caetano Veloso e Gilberto Gil retornaram ao país e seguiram carreira, ele não cantou mais."

Segundo o livro, na volta ao Brasil, em 73, Vandré concordou em largar a carreira e gravar entrevista de "retratação" ao "Jornal Nacional" –que foi ao ar vigiada por censores. 

[Foto: Folhapress - fonte: www.folha.com.br]


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