Por SYLVIA COLOMBO
Está achando a trama da misteriosa morte do promotor argentino Alberto Nisman muito complicada? Para quem perdeu o fio da meada do intrincado thriller político que tem deixado a Argentina insone e monotemática, eis que surgem duas cumbias para aliviar um pouco a tensão, sem deixar de fazer críticas e analogias com outros supostos crimes políticos do passado.
A primeira é “El Fiscal Nisman”, do compositor Mauro Lecornel, e apresenta-se como “uma canção em homenagem à alma do promotor Nisman, só ele sabe a verdade”.
A letra resume, com ironia, a trajetória daquele que estava investigando uma trama de “poder, dinheiro e corrupção” até que “misteriosamente, apareceu morto no chão do banheiro, bem no dia da declaração”. Da sentença no presente (“ele é Nisman”), passa rapidamente para o passado (“ele era Nisman”). E pede por investigação: “que se faça Justiça, isso pede a Argentina”. Intui, ainda, que o promotor deveria agora estar conversando com Jose Luis Cabezas (1961-1997), fotógrafo que revelou o rosto até então secreto de um famoso empresário com vínculos suspeitos com o governo Carlos Saúl Menem, e que foi encontrado morto, o corpo calcinado dentro de um carro. O caso Cabezas tem voltado à pauta nas últimas semanas, pelo novelesco e pela analogia com a situação atual. O tal empresário revelado pelo fotógrafo também morreria pouco depois, também misteriosamente. Nenhum dos dois casos foi solucionado até hoje.
A segunda é a mais escrachada e crítica, chama-se “Cumbia del Cerrajero”, e surgiu depois que o chaveiro Walter depôs e colocou em contradição o secretário de Segurança, Sergio Berni, dizendo que a porta do apartamento não estava, afinal, fechada com chave. A canção, canta a letra, “pôs fim ao relato do governo mentiroso” em “apenas um segundo”. Acusa também os meios de comunicação kirchneristas de tentar manchar a imagem de Walter, dizendo que era amigo, nos anos 70, do ditador Jorge Rafael Videla, e que participara de um “grupo de tarefas” (agentes da repressão). E pede: “Chega desta cumbia/ chega de chaveiros/ vamos sair às ruas/ para que não aconteça de novo”.
[Fonte: www.folha.com.br]
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