em Israel
O cantor e compositor David Broza, 59, adotou uma missão
que parece impossível: superar a divisão de israelenses e palestinos. Para
"construir pontes com a música", o artista israelense entoa há 37
anos canções sobre coexistência em projetos com colaboração palestina.
O mais recente deles é o
documentário "East Jerusalem, West Jerusalem", que será lançado
oficialmente no 15º Festival de Cinema de Woodstock, EUA, em 15 de outubro.
Dirigido pelos israelenses
Erez Miller e Henrique Cymerman, o filme documenta os oitos dias e noites de
execução do álbum homônimo, produzido em 2013 pelos norte-americanos Steve
Earle e Steve Greenberg e lançado em janeiro com 13 músicas.
Uma delas é a canção que dá
título à obra. Escrita em parceria com o rapper e produtor musical
haitiano-americano Wyclef Jean, ela faz referência à cidade cuja realidade se
divide entre o leste e o oeste.
Das duas regiões, Jerusalém
Oriental foi a escolhida por Broza como cenário do projeto. Praticamente
inexplorada pelos israelenses, a área de maioria árabe é reivindicada pela
Autoridade Palestina como capital de um eventual Estado após sua captura por
Israel na Guerra dos Seis Dias (1967).
"O filme é uma voz para
aqueles que participaram dessa experiência juntos, superando anos e anos de
desconexão", disse o cantor, em entrevista à Folha.
A frase se refere a artistas
como o rapper palestino Muhammad Mughrabi, a cantora árabe-israelense Mira Awad
e os músicos israelenses Gadi Seri e Yossi Sassi.
Para sair do papel, a
iniciativa também contou com a colaboração das duas culturas nos bastidores,
que trabalharam na mesa de som do estúdio, atrás das câmeras e na cozinha: um
chef palestino e outro israelense cozinhavam a comida que era compartilhada
depois das gravações.
Com o argumento de que a
cultura é um motor de mudanças sociais, Broza espera que o álbum e o
documentário inspirem outros israelenses e palestinos a aumentar sua interação
nas artes, que descreve como quase nula.
"Não espero que
repentinamente surjam 20 projetos, mas pelo menos um", afirma. "E que
as pessoas possam falar dele e sentir menos medo de se fazer ouvir."
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SEMENTE
A ideia para o projeto começou a ser cultivada por Broza após
1999, quando passou a frequentar em Jerusalém Oriental o estúdio do compositor
e produtor palestino Said Murad, com quem fez parcerias artísticas e
desenvolveu uma amizade.
"Said é a prova de que só é necessário dividir o caminho para
encontrar um irmão."
Embora "East Jerusalem, West Jerusalém" tenha sido feito
em seu estúdio, Murad não aparece no documentário nem no álbum, limitando sua
colaboração à coautoria da canção "Key to Memory".
Segundo Broza, o amigo teme retaliações por sua relação com um
israelense. "Há outros palestinos mencionados que querem lutar assim. Mas
como Said é respeitado por todos os eles, deseja ter mais segurança. Aceito
isso."
Para Broza, o tempo e processo histórico eventualmente levarão a
paz à região.
"Quando pessoas que acabam de chegar ao Oriente Médio
perguntam quando haverá paz, Said responde: 'Por que agora?'", relata,
lembrando que a Europa passou por séculos de guerra até a pacificação. "A
humanidade não conta os minutos", diz.
[Foto: Ilan Besor
– fonte: www.folha.com.br]
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