- Estudantes do Ciência sem Fronteiras reprovados em inglês começam a retornar ao país
- Bolsistas reclamam de desentrosamento entre governo brasileiro e instituição que gerencia o programa no Canadá
Por FERNANDO TADEU MORAES
Um grupo de estudantes brasileiros que foram selecionados
pelo programa federal Ciência sem Fronteiras para estudar no Canadá e
tiveram as bolsas cortadas começou a retornar nesta semana ao Brasil,
reclamando do tratamento recebido. Sem dinheiro, contam que foram orientados a
"racionar alimentos".
Luana Monteiro Leite, 27, e Rondinelly Guimarães, 23,
estavam entre os 80 estudantes do Ciência sem Fronteiras que estavam no Canadá -há mais 30 deles na Austrália-- e que foram chamados de volta ao
Brasil por não terem atingido o nível de proficiência no inglês, necessário para
serem aceitos pela universidade de sua escolha. Os estudantes começaram a
chegar no Brasil nesta semana.
Esses alunos foram selecionados pelo programa para cursar um
período de sua graduação em uma universidade de Portugal. Mas o edital foi
cancelado e eles foram transferidos para o Canadá, onde chegaram em setembro,
para realizar seus estudos.
Como o nível de inglês desses estudantes era insuficiente
para ingressar diretamente em uma universidade do Canadá, foi estabelecido,
inicialmente, que eles fariam um curso de inglês até janeiro, quando
realizariam testes. Os que não obtivessem a nota necessária continuariam o
curso e fariam novo teste em março ou abril.
Os estudantes contam que houve apenas o primeiro teste, em
meados de janeiro, e que aqueles que não obtiveram a nota tiveram a bolsa cortada
e receberam a ordem de voltar ao Brasil.
"No começo foi um sonho, mas, depois de todas as
injustiças, é como se tivéssemos recebido uma punhalada nas costas", diz
Luana.
O momento mais tenso ocorreu em dezembro de 2013, quando a
Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) atrasou por
quase um mês o pagamento das bolsas. Após relatarem dificuldades
financeiras, os estudantes receberam, em 4 de dezembro, um e-mail de Nathalí
Rosado, coordenadora do CBIE, órgão que gerencia o programa no Canadá, dizendo:
"Racionem a sua alimentação, mas não excessivamente (isto é, não cessem de
comer)". No mesmo e-mail, Rosado recomendou que os estudantes fossem ao
banco de roupas e alimentos da Universidade de Toronto para receberem
uma cesta de comida gratuita.
"Foi um período em que tivemos de racionar comida
mesmo", diz Rondinelly. Luana e Rondinelly recorreram ao banco de
alimentos mais de uma vez.
CRITÉRIO DE RETORNO
Ela conta que alunos da mesma turma que obtiveram notas
idênticas àqueles que estão voltando continuarão no Canadá, estudando inglês
até setembro.
Os estudantes questionam também a falta de critério para
decidir sobre quem ficaria ou voltaria. Documentos obtidos pela Folha mostram
dois resultados dos testes realizados em janeiro, uma aluna que obteve a nota
56 no teste TOEFL IBT foi convocada pela Capes para retornar, enquanto um aluno
que obteve a nota 45 no mesmo teste recebeu o aceite da Universidade de
Toronto. A Capes disse que não discute casos de alunos específicos.
Rondinelly e Luana dizem considerar o programa positivo,
apesar de tudo. "Mas não podemos ficar calados diante da falta de planejamento
e de compromisso", diz Rondinelly. Eles tentarão retomar a vida
universitária no Brasil, mas como o semestre letivo já iniciou há dois meses,
só devem conseguir retornas às aulas em agosto.
[Fonte: www.folha.com.br]
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