Feira Internacional de Sharjah começa amanhã
Imagine um país onde 85% da população é
estrangeira, onde costumes ancestrais convivem com práticas modernas,
onde barras de ouro saem de caixas eletrônicos, onde Lamborghinis
convivem com camelos e o poder é exercido por um conselho supremo de
sete governantes. Agora imagine que um destes governantes decida
organizar uma feira de livros, e insista que ela seja internacional.
Parece uma história das Mil e Uma Noites, mas este país e este
governante existem. Trata-se dos Emirados Árabes Unidos e o governante é
o sheik Sultanbin Mohamed Al Qasimi, soberano do emirado Sharjah,
vizinho de Dubai. Foi assim que nasceu a Feira Internacional do Livro de
Sharjah, cuja 32ª edição começa amanhã, 6/11, com a imprescindível
presença do sheik. Em 2012, o evento contou com a participação de 110
editoras de 53 países, e com a visita de 160 mil súditos de Sua Alteza,
como a população de Sharjah se refere a seu soberano.
E para tornar o evento internacional de fato, os organizadores
iniciaram um interessante programa profissional em 2011, que agora se
encontra em sua 3ª edição. Basicamente, cerca de 150 profissionais do
livro de diversos países são convidados, com tudo pago, para participar
de dois dias de seminários e negócios em Sharjah. E o nível dos
convidados não perde em nada para outros eventos internacionais. Entre
os participantes deste ano, estão profissionais do calibre de Jonathan
Nowell, presidente da Nielsen Book, Riccardo Cavallero, diretor geral da
divisão trade da Mondadori, Clare Somerville, diretora da Hachette
Children’s, e o especialista em publicações digitais e colunista do
PublishNews Michael Bhaskar. E como não poderia deixar de ser, o Brasil
está bem representado com a presença de Lucas Travassos Telles, da
Rocco, e Ana Paula Hisayama, da Companhia das Letras. O programa
começou ontem, 4/11, e termina hoje. Entre os temas discutidos nos seis
painéis, estavam pirataria, tradução, distribuição global e os desafios
do mercado editorial da região após a Primavera Árabe.
Na mesa de ontem, em que se discutiu justamente os efeitos das
manifestações populares no mundo árabe e de suas conquistas no mercado
de livros, o editor saudita Mohamed Alfriah, diretor da editora Obeikan,
de Riad, lembrou o aspecto positivo de que agora existe menos censura e
mais liberdade de crítica, mas seus colegas egípcios, particularmente o
editor Mohammed Hashem, da editora Merrit, lembraram que a Primavera
Árabe também causou uma crise na venda e na produção de livros. “Nossa
produção de 70 livros por ano caiu para 25 e a inquietação política faz
com que todos fiquem esperando, até os escritores param de escrever”,
destacou Hashem. “Mas eu não estou irritado com isto”, acrescentou o
editor egípcio, lembrando os aspectos positivos do movimento que
chacoalhou o mundo árabe.
Já nesta terça-feira, o tema de destaque foi a pirataria. E em um
painel que juntou profissionais distintos, como o consultor austríaco
Rüediger Wischenbart, a diretora geral da Agência Árabe Antipirataria
Ola Khudair e o inusitado inspetor de polícia inglês Richard Fisher, a
discussão teve como foco as ações que têm tido resultado na guerra
contra a pirataria de livros, particularmente a pirataria digital. A
divertida apresentação do detetive Fisher arrancou risos da plateia e
mostrou um caminho de atuação interessante. Com base na lei britânica, a
polícia de Londres pressionou as empresas de cartão de crédito e de
pagamentos, como Visa, Mastercard, Paypal etc. a cooperar em suas
investigações sob o risco de serem acusadas de facilitarem o crime dos
piratas. Desta forma, a polícia inglesa passou a atacar os piratas em
seu ponto mais fraco: o bolso. Ou seja, uma vez descoberto um site de
livros piratas, os policiais cibernéticos desestruturam todo o sistema
de recebimentos da iniciativa criminosa. O detetive Fisher esteve no
Brasil recentemente para fazer a mesma palestra em um evento para
polícia paulista. Mas ninguém riu.
[Fonte: www.publishnews.com.br]
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