quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O estranho caso do detetive inglês nos Emirados Árabes

Feira Internacional de Sharjah começa amanhã


Imagine um país onde 85% da população é estrangeira, onde costumes ancestrais convivem com práticas modernas, onde barras de ouro saem de caixas eletrônicos, onde Lamborghinis convivem com camelos e o poder é exercido por um conselho supremo de sete governantes. Agora imagine que um destes governantes decida organizar uma feira de livros, e insista que ela seja internacional. Parece uma história das Mil e Uma Noites, mas este país e este governante existem. Trata-se dos Emirados Árabes Unidos e o governante é o sheik Sultanbin Mohamed Al Qasimi, soberano do emirado Sharjah, vizinho de Dubai. Foi assim que nasceu a Feira Internacional do Livro de Sharjah, cuja 32ª edição começa amanhã, 6/11, com a imprescindível presença do sheik. Em 2012, o evento contou com a participação de 110 editoras de 53 países, e com a visita de 160 mil súditos de Sua Alteza, como a população de Sharjah se refere a seu soberano.
 
E para tornar o evento internacional de fato, os organizadores iniciaram um interessante programa profissional em 2011, que agora se encontra em sua 3ª edição. Basicamente, cerca de 150 profissionais do livro de diversos países são convidados, com tudo pago, para participar de dois dias de seminários e negócios em Sharjah. E o nível dos convidados não perde em nada para outros eventos internacionais. Entre os participantes deste ano, estão profissionais do calibre de Jonathan Nowell, presidente da Nielsen Book, Riccardo Cavallero, diretor geral da divisão trade da Mondadori, Clare Somerville, diretora da Hachette Children’s, e o especialista em publicações digitais e colunista do PublishNews Michael Bhaskar. E como não poderia deixar de ser, o Brasil está bem representado com a presença de Lucas Travassos Telles, da Rocco, e Ana Paula Hisayama, da Companhia das Letras. O programa começou ontem, 4/11, e termina hoje. Entre os temas discutidos nos seis painéis, estavam pirataria, tradução, distribuição global e os desafios do mercado editorial da região após a Primavera Árabe.
 
Na mesa de ontem, em que se discutiu justamente os efeitos das manifestações populares no mundo árabe e de suas conquistas no mercado de livros, o editor saudita Mohamed Alfriah, diretor da editora Obeikan, de Riad, lembrou o aspecto positivo de que agora existe menos censura e mais liberdade de crítica, mas seus colegas egípcios, particularmente o editor Mohammed Hashem, da editora Merrit, lembraram que a Primavera Árabe também causou uma crise na venda e na produção de livros. “Nossa produção de 70 livros por ano caiu para 25 e a inquietação política faz com que todos fiquem esperando, até os escritores param de escrever”, destacou Hashem. “Mas eu não estou irritado com isto”, acrescentou o editor egípcio, lembrando os aspectos positivos do movimento que chacoalhou o mundo árabe.
 

Já nesta terça-feira, o tema de destaque foi a pirataria. E em um painel que juntou profissionais distintos, como o consultor austríaco Rüediger Wischenbart, a diretora geral da Agência Árabe Antipirataria Ola Khudair e o inusitado inspetor de polícia inglês Richard Fisher, a discussão teve como foco as ações que têm tido resultado na guerra contra a pirataria de livros, particularmente a pirataria digital. A divertida apresentação do detetive Fisher arrancou risos da plateia e mostrou um caminho de atuação interessante. Com base na lei britânica, a polícia de Londres pressionou as empresas de cartão de crédito e de pagamentos, como Visa, Mastercard, Paypal etc. a cooperar em suas investigações sob o risco de serem acusadas de facilitarem o crime dos piratas. Desta forma, a polícia inglesa passou a atacar os piratas em seu ponto mais fraco: o bolso. Ou seja, uma vez descoberto um site de livros piratas, os policiais cibernéticos desestruturam todo o sistema de recebimentos da iniciativa criminosa. O detetive Fisher esteve no Brasil recentemente para fazer a mesma palestra em um evento para polícia paulista. Mas ninguém riu. 

[Fonte: www.publishnews.com.br]
 

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