quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Beirão ou Nacional. Afinal qual é o licor de Portugal?

Licor Beirão quis tirar o Licor Nacional do mercado, mas Tribunal da Propriedade Intelectual não deixou


São ambos licores de ervas, e ambos portugueses, mas um defende que é mais português que o outro. A disputa acabou com o Tribunal da Propriedade Intelectual a decidir que nem um nem outro têm o exclusivo sobre os “valores nacionais” ou sobre a palavra “Portugal”: os dois podem ser igualmente patrióticos.

Em Maio de 2012, um novo licor de ervas entrou no mercado: o Licor Nacional. O Licor Beirão, que já estava nas prateleiras das mercearias portuguesas desde os anos 50, não gostou, e entendeu que o Licor Nacional, por ter “nacional no nome”, estava a copiar o seu célebre slogan “Licor Beirão, o licor de Portugal” e interpôs uma providência cautelar para que o novo licor da Caves da Montanha deixasse de ser fabricado, comercializado, engarrafado, distribuído e vendido. A guerra dos licores chegou ao Tribunal da Propriedade Intelectual, que a 31 de Janeiro decidiu: Beirão e Nacional são coisas diferentes e o Licor Beirão não se pode apropriar da expressão “Portugal”. Logo, o Licor Nacional pode continuar a ser vendido.

A J. Carraca Redondo, que fabrica o Licor Beirão, argumentava que os licores podiam ser confundidos pelos consumidores porque “a expressão “Licor Nacional” e a frase publicitária que integra a marca – “O Licor de Portugal” – são “ideográfica e foneticamente iguais”. Porém, o tribunal entendeu o contrário: não se verificava “semelhança gráfica, fonética ou outra que induza o consumidor médio de bebidas espirituosas em erro ou confusão entre as marcas ‘Licor Nacional’ e ‘Licor Beirão’, porquanto o conjunto que caracteriza os dois sinais é diferente entre si”. Enquanto o tribunal não decidiu, a Caves da Montanha foi obrigada a retirar o Licor Nacional das prateleiras dos hipermercados e a suspender todas as campanhas publicitárias, que coincidiram com a época de Natal.

Em tribunal ficou ainda provado que o produtor do Licor Beirão terá pressionado distribuidores para que não comercializassem o Licor Nacional e terá contactada a Olivedesportos em Agosto de 2012, para que lhe fosse concedida exclusividade na publicidade a licores na I Liga de Futebol Profissional – impedindo que o Licor Nacional usasse também aquele espaço para se promover.

“Licor Beirão, o licor de Portugal” foi precisamente uma das primeiras mensagens publicitárias que José Carranca Redondo – pai do actual sócio gerente da empresa, José Redondo – andou a espalhar pelas paredes e estradas do país, depois de ter investido todas as suas economias na compra da fábrica do licor. Mas não só o tribunal considerou que a palavra “Portugal” não podia ser exclusiva do Licor Beirão, e que não havia confusão fonética susceptível de se dizer que uma marca imitou a outra, como concluiu que afinal a Caves da Montanha nem queria que o seu licor de ervas se chamasse Nacional. Esta foi a segunda escolha: o primeiro pedido de registo foi como “Licor Tradicional Português”.

Além do mais, sustenta o tribunal, existem outras marcas no mercado que poderiam ser confundidas com o Licor Beirão e contra as quais a J. Carraca Redondo não interpôs qualquer providência cautelar, como a “Bago Beirão”, a “Beirão da Serra”, o “Licor de Leitão” ou o “Licor Murcão”.

E não era só o “Portugal” que desagradava à empresa que fabrica o Licor Beirão. A J. Carraca Redondo também não gostou que o rótulo do Nacional incluísse um galo de Barcelos (normalmente usado na publicidade do Beirão) ou a sua publicidade usasse slogans como “À nossa, Portugal!” O tribunal voltou a não concordar: as cores dos produtos são distintas, os rótulos diferentes, os formatos das garrafas diversos e o galo de Barcelos também não existe “para uso exclusivo” do Licor Beirão: pode ser partilhado.

Por Graciano Coutinho

[Fonte: blog.opovo.com.br/portugalsempassaporte]

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