segunda-feira, 21 de maio de 2012

Pequeno dicionário brasileiro da língua morta, de Alberto Villas


Se você acha que café com leite é só a bebida mais comum do mundo no café da manhã, ou que babado serve apenas para enfeitar a saia, é porque ainda não leu o Pequeno dicionário brasileiro da língua morta, o novo livro do jornalista Alberto Villas que a Globo Livros está lançando. Nele, é possível descobrir que café com leite tinha três significados: uma pessoa meio boba, que não fazia parte de nenhuma rodinha de amigos; o sujeito fácil, assim como o arroz de festa; uma referência à política dos Estados de Minas e São Paulo - Minas entrava com o leite, São Paulo, com o café, e os dois estados dividiam o poder político nacional. Babado seria o equivalente da expressão que se fala hoje "qual é a boa?" Babado tanto podia designar fofoca como novidade. "O babado corria de boca em boca, cada um dando sua opinião, se espantando ou criticando. Não tinha babado que passasse em branco", diz Villas no livro. 

E por que o jornalista garimpou tantas palavras que caíram em desuso? Para mostrar como a língua portuguesa tem um rico vocabulário e sofre mutações ininterruptamente? Talvez. Essa é uma possibilidade. Mas, para Max Gehringer, que assina uma das orelhas do livro, "o que o Villas fez foi garimpar palavras por puro deleite, como quem encontra um empoeirado disco de vinil da Jovem Guarda ('Meu Broto', com Teddy Milton) e aí embarca numa nostálgica viagem no tempo". 

Durante essa viagem, Villas foi escarafunchando seu baú de memórias e desencavou palavras divertidas, como xumbrega. "Diz a lenda que essa palavra tem origem lá por volta de 1600, quando o aventureiro alemão Friedrich Hermann Schönberg, que comandava as tropas de Portugal contra a Espanha, se deu mal. Schönberg acabou virando xumbrega. E xumbrega quer dizer uma coisa ruim, feia, mal-acabada." 

O abecedário formulado por Villas traz algumas milongas (mexericos), mas nada que faça corar sirigaitas (mulheres ousadas, atrevidas) ou mancebos (rapaz novo, que hoje seria o correspondente a "gato"). Pode ser que fãs do cantor Fagner fiquem chateados ao saber que o autor do livro acha a voz dele igual à de taquara rachada: "É só ouvir o primeiro disco dele - 'Manera Fru Fru Manera' - ou o segundo, 'Ave Noturna'. Não que o autor de 'Mucuripe' tenha uma voz irritante, mas é muito particular, de taquara rachada". Mas, para livrar um pouco a barra dele, Villas complementa: "A Desciclopédia tem uma lista enorme de pessoas com voz de taquara rachada. De Tiririca a Xuxa, passando por Sandy Leah, a Sandy do Júnior". 

Exemplos de palavras hilárias pululam no livro. Como manota, aquele fora que, por mais que se queira, não há como remediar: você chega para uma mulher, olha a barriguinha dela e pergunta: "É pra quando?". E ouve a resposta: "Não estou grávida!". Que mancada! Ou que quiproquó! Se você tem vontade de engrossar seu vocabulário, e quer fazer bonito com os seus amigos, pode adotar daqui para frente fuzarca, víspora, palangana. Esse é o melhor jeito de lavar a égua.

[Fonte: /jvanoticias.com.br/]
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Alberto Villas lança “Pequeno dicionário brasileiro da língua morta” sobre palavras que sumiram do nosso mapa

Por Juliana Centini

                                               O escritor Alberto Villas

“Minha radiola escangalhou”. O quê? Embora pareça não é uma frase em língua estrangeira, mas em português e quer dizer ao pé da letra “Meu rádio quebrou”. Foi depois de ouví-la do amigo Joaquim Ferreira dos Santos, e de perceber a estranheza que causava nos mais jovens, que o jornalista Alberto Villas — também autor de “Afinal, o que viemos fazer em Paris” e “Admirável mundo Velho” — deu início ao projeto que renderia a publicação de “Pequeno dicionário brasileiro da língua morta – palavras que sumiram do mapa” (Editora Globo, 304 páginas, R$ 39,90).

Um dicionário pode até soar como algo careta, mas não se trouxer significado e histórias que contextualizam palavras como “cupincha” (amigo, parceiro, comparsa), “mixórdia” (grande bagunça) ou “neurastênico” (pessoa com problemas nervosos). “É um dicionário pra ler, não para consultar. Na verdade vejo como uma seleção de minicrônicas. Não queria uma coisa careta, por isso decidi que para cada palavra contaria uma historinha de como costumava ser usada e no que se tornou, ou se desapareceu por completo”.

Para o Colherada Cultural, o escritor falou sobre a escolha de alguns verbetes e de como juntou “lé com cré” para dar forma a um livro cheio de humor.


Colherada Cultural: Por se tratar de um livro sem enredo, como sugere que seja feita a leitura do dicionário?
Alberto Villas: A melhor coisa é pegar qualquer página e ir lendo. Não vale nem a pena ler de A a Z, é mais divertido abrir e pegar ao acaso e descobrir que antigamente as pessoas só falavam “tamborete”. “Queira me passar o tamborete!” e hoje só se fala banquinho.

C.C.: Sua intenção foi em algum momento a de explicar porque essas palavras sumiram do vocabulário?
A.V.: Não explico porque as palavras caíram em desuso. Acho que isso é uma coisa típica do Brasil, ter muita palavra de moda como “transa”. O Caetano Veloso tem um disco chamado “Transa”, de 1972, a coleção dos primeiros exemplares da revista Rolling Stones que saiu aqui no Brasil, era toda underground, em formato de jornal e tal, e lá está cheio de “transas” que nada têm com o ato sexual.

C.C.: Acha que a palavra uma vez abolida está extinta, ou pode voltar a ser usada?
A.V.: Nunca se sabe. Algumas delas são consideradas hoje politicamente incorretas. Chamar fãs de “macacas de auditório”, ou dizer que você está precisando de uma “escurinha”, como cansei de ouvir a minha mãe e a minha avó dizerem, ou o Cartola que tem uma música chamada “escurinha”, sem nenhuma intenção pejorativa, era tão ingênuo e natural. É capaz de você acabar preso se disser uma coisa dessas a alguém hoje em dia. 

[Fonte: www.colheradacultural.com.br/]




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