O alemão está mais presente no nosso cotidiano do que se
imagina. Além de palavras reconhecidamente alemãs como blitz, kitsch ou
diesel, outras como encrenca, chique, chope e bulevar também têm origem
germânica.
Chope não significa cerveja em alemão
Boa parte das palavras alemãs no nosso cotidiano está ligada à
vida militar ou aos elementos químicos, fato explicado pela autoridade
que a Alemanha, durante muito tempo, exerceu nestas áreas. Assim
surgiram termos como bulevar, níquel ou cobalto.
O que nem todos sabem é que na língua portuguesa, entretanto,
palavras que nada têm a ver com química ou guerra e não soam como
alemão, também têm origem germânica.
Pesquisando a etimologia de termos como encrenca, chique, chope,
valsa ou do refrigerante Fanta, acompanharemos uma interessante viagem
que tais palavras realizaram da Alemanha diretamente para o Brasil ou
passando, às vezes, por Portugal.
Encrenca no mangue
O iídiche é muito próximo do alemão
Através da competição Migração de Palavras organizada, recentemente,
pelo Conselho da Língua Alemã (Deutscher Sprachrat) pessoas de 70 países
puderam sugerir as palavras alemãs que "viajaram" para outros idiomas.
Das seis mil palavras apresentadas, o termo mais sugerido foi a versão francesa para clarabóia vasistas, do alemão was ist das?, literalmente, "o que é isto?".
Se todos soubessem, entretanto, que "encrenca" tem origem alemã, a
nossa versão de "problema" também teria sido um grande sucesso. Tudo
começou com as prostitutas judias que vieram para o Brasil no final do
século 19 e começo do século 20, explica a historiadora Beatriz Kushnir,
igualmente de origem judaica, que escreveu o livro Baile de Máscaras: Mulheres Judias e Prostituição.
Elas falavam iídiche, a língua dos judeus da Europa Central. Quando achavam que um cliente tinha doença venérea, falavam ein krenke (krank
significa "doente" em alemão). Nascia assim a palavra "encrenca", usada
desde então no português do Brasil para designar uma situação difícil.
Os duendes da montanha
A moeda do euro é feita de níquel
Como explica, acertadamente, o Ministério das Minas e Energia brasileiro, Níquel e Cobalto, do alemão Nickel e Kobalt,
eram gnomos que habitavam, na crença dos mineiros da Idade Média, as
montanhas alemãs. Os mineiros medievais acreditavam que estes espíritos
maus eram responsáveis pelas impurezas na prata, ferro e cobre, minérios
encontrados juntos ao níquel e cobalto.
Chope não é cerveja
O nosso chope de cada dia não tem a ver, na sua etimologia, com a
palavra cerveja, tratando-se de uma unidade de medida originada do
alemão Schoppen, equivalente a
cerca de meio litro. A palavra entrou para o português através do
francês, sendo introduzida no Brasil pela corte portuguesa, que veio
para o Rio de Janeiro, fugida de Napoleão, no início do século 19.
Schick, chic e chique
Os alemães já usavam o chique antes dos franceses
Já a palavra chique, considerada por muitos um patrimônio da língua
francesa, é na verdade uma palavra alemã que chegou ao português através
do francês. Como explica a revista alemã Der Spiegel, muito antes de os costureiros franceses "arrasarem" nas passarelas, os alemães usavam termos como schicklich ou sich schickt para designar apropriado ou bem arrumado. No alemão medieval, a palavra schick designa forma, costume.
É fantástico
O nome do refrigerante também é alemão
Devido à escassez de matéria-prima, a Coca-cola da Alemanha não pôde
mais produzir seu principal produto durante a Segunda Guerra Mundial.
Para garantir a subsistência da companhia, foi desenvolvido então um
novo refrigerante feito, na época, à base de soro de leite.
Um concurso entre os empregados da companhia levou ao nome "Fanta", pois o novo desenvolvimento era fantástico, do alemão fantastisch.
As árvores voltaram aos bulevares
Muralhas deram origens ao bulevar
Quando Luís 14 mandou derrubar os muros de Paris, aproveitou para
fazer um anel viário ou bulevar ao redor da cidade, já que as muralhas
se tornaram obsoletas para fins de defesa.
A origem do nome destes baluartes é o alemão Bollwerk, literalmente, "paliçada". Estas primeiras fortificações eram feitas de troncos de madeira (Bohlen) e boulevard era a forma como os franceses pronunciavam Bollwerk. Com a modificação do uso, o nome ficou e as árvores voltaram.
"Blitz" e "hamster" sim, "gás" não
Ainda muitas outras palavras são de origem germânica, como blitz, kombi ou hamster, do alemão hamstern (juntar, acumular), devido às polpudas bochechas do ratinho capazes de acumular grande quantidade de alimentos.
Para infelicidade dos amantes do alemão, entretanto, a palavra "gás",
que muitos crêem ser de origem alemã, é na verdade holandesa e foi
cunhada a partir da palavra "caos", no começo do século 17, pelo químico
flamengo Jan Baptista van Helmont.
[Fonte: www.dw.de ]
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