segunda-feira, 7 de julho de 2025

«Mon Inséparable»: há vida além do ser mãe?

Se há uma coisa bem presente na nossa mente é que Laure Calamy é uma das atrizes mais interessantes do panorama do cinema francês atual, daquelas por si só consegue “carregar um filme às costas”.  


Escrito por Jorge Pereira Rosa

Antoinette dans les Cévennes“, que lhe valeu o Cesar de melhor atriz, pode ser considerado o filme que a trouxe para a ribalta, mas a sua presença em objetos cinematográficos como “Une femme du monde“, “Annie colère” e, principalmente, “À plein temps”, configuram-na como atriz-chave da sua geração, sem termos de ir buscar terminologias, entretanto banalizadas, como “diva” ou “estrela”. 

Sempre intensa, repleta de tanta força como fragilidades, como se viu no filme de Eric Gravel, onde as correrias desenfreadas fazem paralelo com os turbilhões internos, Calamy volta a transportar para o grande ecrã mulheres contemporâneas, ou à frente do seu tempo, que procuram balancear a sua vida, entre os desejos e “obrigações”, sem qualquer apoio no seio do núcleo familiar. 

Em “Mon Inséparable”, de Anne-Sophie Bailly, ela volta a carregar o peso de uma vida cheia de obstáculos e em permanente crise, desta vez atuando como Mona, a mãe de Joël (Charles Peccia-Galletto), um rapaz já adulto, mas com necessidades especiais, que engravida a namorada Océane, que conheceu no trabalho. A dupla de pombinhos deseja ter a criança, mas quer a família de Océane, quer a mãe de Joël, sentem que a situação apenas as vai sobrecarregar mais.

Aquilo que poderia ser um filme sobre pessoas com necessidades especiais, bem como a forma como uma mãe extremosa tem de viver com um filho que não consegue completamente ser independente, desenvolve-se mais na perspetiva de como esta vida, entregue à educação do filho, impede Mona de viver a sua além do papel de mãe. Mulher com responsabilidades, mas também desejos difíceis de concretizar, dada a dedicação quase exclusiva ao acompanhamento do descendente, Mona envolve-se com um belga que conheceu num bar, numa busca de algo mais que uma vida de “cuidadora”.

É quando começa a viver a sua própria vida, em função desses mesmos desejos, que a culpa começa a entupir a sua mente, particularmente quando o rapaz desaparece e a polícia é acionada para o encontrar. Vai ela desistir mais uma vez das suas ambições pessoais, ou assumi-las, enfraquecendo a atenção à dependência do filho e do futuro neto, que certamente também terá de criar? É egoísta em querer ter a sua vida individual, independentemente do filho?

Já com algumas curtas na bagagem, Anne-Sophie Bailly coloca em cima da mesa os dilemas desta mulher, as pressões vindas do exterior, e o amor maternal que condiciona todas as suas escolhas. E fá-lo com ternura, sem julgamentos prévios, mas num discurso elaborado a partir de uma desconstrução da personagem de Mona, interpretada com maestria por Calamy.


[Fonte: www.c7nema.net] 

 




 

 

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