segunda-feira, 5 de junho de 2017

A jornada de Cícero Dias pelo mundo e pela arte


Escrito por Juliano Mignacca

Cícero Dias viveu 95 anos. Tempo suficiente para ver o mundo. E viu. Mundo que começou no Recife e depois se transferiu para o Rio de Janeiro, Paris, Lisboa e novamente Paris. Realizou uma jornada física e pictórica.

Visão Romântica do Porto de Recife, 1930

Antes que sua infância chegasse ao fim, mudou-se para o Rio, aos 13 anos de idade. A terra vermelha e os canaviais dos engenhos transformaram-se em doce memória durante as noites no dormitório do Colégio de São Bento. Não demorou para que Cícero externasse sua vocação. As primeiras aquarelas dialogavam com os sonhos e o erotismo, algo um tanto original para um jovem, então, com 21 anos. Era o início de uma carreira promissora.

Baile no Campo, 1937

Nos anos de 1930, morando na casa de número 8 da Rua Aprazível, em Santa Teresa (RJ), seu pincel revisita lugares e cores da infância. Criou o painel Eu vi o mundo… Ele começava no Recife (1926 a 1929), sua aclamada obra-prima. Já era dono de um vocabulário pictórico próprio. Mas era preciso ser universal. Foi quando Paris, o centro nevrálgico da arte ocidental, conheceu o Pernambuco de Cícero Dias. Sucesso de venda e crítica, virou compadre de um tal de Pablo Picasso. Alguns anos mais tarde, a amizade ajudaria nos trâmites para que a obra Guernica (1937) desembarcasse na Segunda Bienal de São Paulo (1953).


Cícero Dias, Pablo Picasso e Sylvia, filha do brasileiro e afilhada do espanhol, em Paris. Imagem do filme “Cícero Dias, o Compadre de Picasso”, de Vladimir Carvalho.

Durante a Segunda Guerra Mundial, quando esteve por um tempo em Portugal, a pintura de Cícero toma outra direção. As cores saltam aos olhos. Irreverência nos títulos e ambiguidade nos temas. Era um artista inquieto. De volta a Paris, as cores de Cícero adquirem formas abstratas. Quando veio ao Brasil para um projeto na Secretaria das Finanças do Estado de Pernambuco, sua obra causou polêmica, é claro. Foi o pioneiro da arte abstrata no continente.

O Abismo da Verdura, 1950

Cícero pintou à sua maneira. Não seguiu convenções de escolas ou movimentos. Anos mais tarde, ao retomar a arte figurativa, o pincel carregava a experiência de tudo que testou ao longo da carreira artística. Sua sensibilidade regressa à mesma fonte criadora de origem: as memórias de sua terra natal.

Cicero Dias, no atelier em Paris, 1982. Foto: Carlos Freire

Fechou o ciclo. Morreu em Paris. Foi sepultado no cemitério de Montparnasse – moradia de ilustres do mundo das artes. Mas antes de seu derradeiro dia, Cícero Dias viu o mundo, e ele começava no Recife.

Painel “Eu vi o mundo, ele começava no Recife”, 15X2m, 1929.

Placa na residência do pintor em Paris: 123 Rue de Longchamp.

Em 2016, o cineasta Vladimir Carvalho (hoje com 82 anos) lançou o filme “Cícero Dias, o Compadre de Picasso”, um documentário sobre a vida e obra do pintor. Compensa muito, sobretudo pelo trabalho de Vladimir Carvalho, que percorreu a história de Cícero Dias a partir da amizade com Pablo Picasso, indo e voltando de Recife a Paris, refazendo sua jornada pelo mundo e pela arte.



Em 2011, a editora Cosac Naify publicou as memórias de Cícero Dias na autobiografia “Eu Vi o Mundo”. Para quem quiser conhecer a história contada por ele mesmo.


Acesse o catálogo da exposição de Cícero Dias aqui: https://issuu.com/galeriamultiarte/docs/miolo_cicero_dias_saida_reduzido



[Fonte: www.issocompensa.com]

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