«(...) Uma reforma do regime ortográfico em vigor não pode ser levada a cabo pela ACL, unilateralmente, mas deverá forçosamente ser elaborada em parceria com a Academia Brasileira de Letras, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.»

Foi, pois, deveras surpreendente a última iniciativa do senhor presidente da Academia, ao convocar um plenário de académicos efetivos, no passado dia 26 de janeiro, para, após uma pesada sessão da Classe de Letras, com a duração de três horas, levar a cabo, a partir das 17h30, aquele plenário, com sete pontos na ordem de trabalhos, transferindo, de forma arbitrária, para o final da reunião, o 3.º ponto: «Votação da proposta com "Sugestões para o aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa"». A discussão deste ponto, ao fim de quase duas horas de reunião plenária, foi atabalhoada e feita à pressa. Dos 68 académicos efetivos, estavam presentes apenas 23, que votaram, favoravelmente, por maioria, a proposta.
Tendo consciência de que o documento apresentado para fins de votação nunca tinha sido objeto de discussão nas sessões da Classe de Letras e atendendo aos graves problemas inerentes a este projeto de retrocesso ortográfico, os dois linguistas, académicos efetivos presentes, votaram contra e entregaram uma declaração de voto, também subscrita por outro linguista, sócio correspondente, da qual se destaca o essencial das conclusões: «Organizados de forma caótica, os subsídios não evidenciam o rigor científico indispensável a um empreendimento académico desta natureza. (...) A pretensão de apressar a introdução de mais uma reforma nesta altura é vã e inoportuna, não tendo sido oferecida qualquer razão convincente para justificar a mudança de regime ortográfico nesta conjuntura, quer dentro quer fora da Academia das Ciências de Lisboa. Uma reforma do regime ortográfico em vigor não pode ser levada a cabo pela ACL, unilateralmente, mas deverá forçosamente ser elaborada em parceria com a Academia Brasileira de Letras, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Qualquer reforma ortográfica deve, enfim, incluir pelo menos todos os académicos especialistas na matéria.»
[Fonte: ciberduvidas.iscte-iul.pt]
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