quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Os portugueses usam cada vez menos palavras?


Escrito por MARCO NEVES 
Há quem insista que usamos cada vez menos palavras. Aliás, há quem insista que já só usamos 800 palavras. Noutros dias, atiram com outro valor: 500 palavras! 100 palavras! Quem dá menos?
São estes ou outros números quaisquer, inventados na hora. Quem assim fala nunca se dá ao trabalho de contar, bem a sério, as palavras que usamos. Compreendo: o trabalho não é fácil — mas, na verdade, os linguistas que se atrevem a contar encontram sempre larguíssimos milhares de termos no vocabulário de todas as gerações.
Pois não há-de ser assim? Se até o meu filho de 3 anos tem hoje bem mais que as 100 palavras que muitos dizem ser o vocabulário dos portugueses? Não é que o meu filho seja um génio: fala como os colegas — e fala que se desunha. Os que para aí se queixam do vocabulário diminuto dos portugueses é que não sabem escapar aos lugares-comuns da língua.
Vá, não andem por aí a insultar o vocabulário dos portugueses. Sim, não andamos a usar milhares de palavras diferentes em todas as conversas: somos mais inteligentes do que isso — mas quando é preciso, temos milhares de palavras ao nosso dispor.
(Por outro lado, sim, o vocabulário de quem lê muito e está atento será bem maior do que o vocabulário de quem não lê nada. Mas sempre assim foi: nunca houve uma época em que os portugueses falavam todos da mesma maneira, com um vocabulário gigantesco e comum a todos, escribas e camponeses. Aliás, é bem provável que a população portuguesa, no seu conjunto, tenha hoje um vocabulário mais rico e unificado do que antes, por via da escola, da televisão, dos contactos sociais… Mas como isso contraria uma certa ingenuidade, há quem tape os olhos e continue a acreditar num passado de portugueses bem-falantes e de dicionário na ponta da língua.)
[Fonte: www.certaspalavras.net]

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