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Jogadores da seleção brasileira em amistoso contra o México no Allianz Parque, em 2015 |
Dia desses, referindo-se ao que os jogadores de futebol
chamam de "dor de cabeça boa" (para o treinador, ou melhor,
"professor"), um dos nossos craques concluiu assim o que expunha:
"Aí o professor opita".
O atleta em questão é bom de bola mesmo e bom de conversa
também, dos mais esclarecidos e articulados jogadores brasileiros, mas...
Mas a bendita conjugação dos verbos terminados em
"-ptar" põe em embaraço muita gente, que acaba fazendo o que fez o
nosso craque.
E o que fez ele afinal? Conjugou "optar" como se
houvesse um "i" depois do "p". Cá entre nós, na emissão
efetiva de "optar" e afins ("raptar", "adaptar",
"captar" etc.), temos mesmo a tendência de pronunciar esse
"i". Não é todo mundo que pronuncia esse "p" como
"mudo".
O resultado da pronúncia desse "i" em
"optar" é a emissão das flexões desse verbo como as dos que realmente
terminam em "-pitar", como "decapitar", "apitar",
"palpitar" ou "precipitar", entre outros.
Moral da história: em "apita", "palpita",
"precipita" e "decapita", a sílaba tônica é "pi",
portanto a vogal tônica é o "i" dessa sílaba.
Levando em conta o que ocorre no padrão culto, em
"capta", "opta", "rapta" e "adapta" a
sílaba tônica é a que antecede a sílaba "ta" ("cap",
"op", "rap" e "dap", respectivamente). A vogal
tônica de "capta" é o primeiro "a", a de "opta" é
o "o", a de "rapta" é o primeiro "a", e a de
"adapta" é o segundo "a". A título de treino, leia essas
formas em voz alta, se achar necessário.
Fenômeno semelhante ocorre com verbos terminados em
"-gnar", como "indignar", "estagnar",
"designar", "resignar", "impregnar" etc. Nesses
casos, parece mais frequente ainda a emissão de um "i" (depois do
"g", no caso), a começar pelo próprio infinitivo, como se os verbos
terminassem em "guinar".
O resultado disso é a emissão (errônea) de
"designa", "estagna", "resigna" e, sobretudo,
"impregna" como se essas formas fossem "desiguina",
"estaguina", "resiguina" e "impreguina", sempre
com força no "i" da penúltima "sílaba" ("gui").
Por favor, na última linha do parágrafo anterior, note as
aspas em "sílaba". Com elas eu quis dizer que essa "sílaba"
não existe. A divisão silábica é outra; é "de-sig-na",
"es-tag-na", "re-sig-na" e "im-preg-na",
respectivamente. A verdadeira sílaba tônica de todas essas formas é a
penúltima; a vogal tônica é a que antecede o "g", que é
"mudo".
Em todos os casos vistos, usei como exemplo a terceira pessoa
do singular do presente do indicativo ("ela opta", "isso se
impregna" etc.).
Isso não ocorre só nessa flexão. Para deixar tudo claro,
convém dizer que o fato ocorre em oito flexões de cada um desses verbos e
afins.
Usando uma linguagem bem simples, isso ocorre nas flexões de
"eu", "tu", "ele/a" e "eles/as" do
presente do indicativo e do presente do subjuntivo: "eu opto",
"eles optam"; "que eu opte", "que elas optem";
"eu designo", "que ela designe"; "eu impregno",
"que isso se impregne", "que esses odores se impregnem".
O caro leitor resistiu à tentação de dizer
"impreguínem", certo?
Nas demais formas dos dois presentes e dos outros tempos, a
vogal tônica não é a que vem antes do "p", em "optar" e
afins, e a que vem antes do "g", em "impregnar" e afins,
mas isso não é problema para ninguém. Dizemos tranquilamente
"optaram", "impregnou-se" etc. É isso.
[Foto: Eduardo
Anizelli/Folhapress – fonte: www.folha.com.br]
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