Trocando em Miúdos: Formada por um músico inquieto e, por isso, altamente prolífico, fomos à Argentina conhecer Mariano di Cesare e sua banda El Príncipe Idiota.
Por Alejandro Mercado
A inquietude é uma característica típica aos grandes nomes das artes. É quase uma necessidade inerente à sua existência estar em constante produção. Apesar de não nos faltarem exemplos de gênios da cultura, não chega a ser algo comum encontrarmos estes espécimes a cada esquina, mas acredite, eles estão aí.
E foi procurando entender o que inspirava um dos mais prolíficos músicos argentinos da atualidade que inciei um papo com Mariano di Cesare, a mente, o corpo, o coração e a voz por trás do projeto El Príncipe Idiota – e um dos integrantes da banda Mi Amigo Invencible, de Mendoza, na Argentina.
“Me inspiram os sons e a experimentação com eles, mas sobretudo o que mais me motiva é a impossibilidade e a pesquisa”, conta o músico, que só no ano de 2015 lançou três discos, dois com a El Príncipe Idiota e um com a Mi Amigo Invencible. “Trato de encontrar formas de dar vida às minhas ideias, e ao não chegar nos resultados esperados, sigo buscando e assim sigo gravando”, completa. E se há algo que possa ser pontuado é a habilidade de Mariano em compor de forma tão distinta e com qualidade.
Doméstico, primeiro disco lançado em seu projeto paralelo, a
El Príncipe Idiota, é uma boa síntese de uma geração argentina que vem
fazendo, ano após ano, discos que não apenas a representam, mas que
dialogam com o restante do mundo por sua veia local e seu pulsar
universal. “Sou uma pessoa muito inquieta. Preciso estar gravando
músicas constantemente, se não eu morro”, comenta Mariano, que considera
que a música está mais homogênea universalmente. “A esta altura está
tudo bastante amalgamado. A música global é cada vez mais parecida.
Nossa busca agora não é estética, territorial ou temporal. Tentamos
fazer música que nos reflete como pessoas reais, diferentes do que se vê
na TV ou nas rádios”.
Pois o que se ouve em Doméstico (e também em Diccionario Básico Ilustrado,
o disco com as canções consideradas “lado B” do álbum de estreia) é
justamente como cada vez mais estamos caminhando em uma mesma estrada
sonora. “Dramón en la Tele” e “Héroe de la Madrugada”, por exemplo,
convertem-se facilmente em hits, seja por suas letras e sua
abordagem demasiadamente humana sobre os conflitos de nossa existência,
seja pela urgência que seus riffs (em especial o da primeira) provocam no ouvinte.
Coeso do início ao fim, Doméstico é uma obra em que não se encontram arestas, fornecendo aos fãs riffs
mais dançantes, quase rompantes meteóricos de notas musicais, e baladas
mais reflexivas e contemplativas, passando longe da inércia ou da
letargia que por vezes sobrevoa o universo indie.
Mariano ainda oferece camadas de versatilidade em Diccionario Básico Ilustrado,
um álbum “lado B” que faz jus à terminologia, ousando com suas
paisagens sonoras ambientais e músicas mais curtas, excetuando-se
“Banana”, a única que ultrapassa a marca dos três minutos de duração.
Cesare passeia pela experimentação, buscando uma sonoridade ímpar por
sua raridade abaixo da linha do Equador, fusionando a particularidade
de Sigur Rós e a eloquência introspectiva do Radiohead. Chega a ser até
mais um trabalho novo, um redirecionamento em relação a Doméstico, do que um disco de sobras.
Sobre o futuro, o músico, que é fã de música brasileira, “mas a
maioria de antes dos anos 80”, afirma que pretende seguir gravando. “E
tratando de viajar com ela a lugares onde não estive antes”. Pois se não
esteve ainda em Curitiba, já é nosso convidado.
A música ao sul do mundo
Nesta fase da coluna em que tenho tido a oportunidade de conversar
com os artistas, me interessa especialmente a forma como enxergam o
diálogo de seu trabalho com o restante do mundo e a possibilidade de
compreender as diferentes nuances e dificuldades em ser artista mundo
afora.
No caso de Mariano e da El Príncipe Idiota, ele não faz rodeios ao
contar que optou por viver com pouco dinheiro, trabalhando com algo que
lhe consuma poucas horas de sua vida, de forma a poder dedicar-se à
música. “O dinheiro que recebemos com os shows e outras coisas é
revertido para seguir produzindo. Não ganhamos dinheiro com a música,
mas tampouco perdemos”, afirma.
O fato de não estar na Capital Federal parece não ser muito um
problema para ele. “Sinceramente, há muita gente fazendo música e muitos
músicos fazendo coisas. Há bandas maravilhosas soando para uma ou mil
pessoas, que te mudam o dia, o humor, e te oferecem uma nova forma de
ver o mundo. O mais importante para mim é isso, e acontece”, conta. O
restante, diz o músico, é seguir lutando. “É como sempre: há que buscar
dar a volta [por cima] para não se afrouxar por todo o esforço empregado
e seguir adiante por mais que a coisa não funcione”.
NO RADAR | El Príncipe Idiota
Onde: Mendoza, Argentina.
Quando: 2014
Contatos: Facebook | Bandcamp | SoundCloud
Quando: 2014
Contatos: Facebook | Bandcamp | SoundCloud
[Fonte: www.aescotilha.com.br]
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