Trocando em Miúdos: Gaúchos-milaneses-barceloneses, banda Selton trabalha referências nacionais e internacionais sem pedantismo ou cacofonia, fazendo músicas coesas e belas. Banda está na coluna "Radar" desta semana.
Por Alejandro Mercado
Montar uma banda com seus amigos, gravar discos, cair na estrada para fazer shows, conquistar fãs, conhecer todo o país, ouvir sua música nas rádios, aparecer na TV e, com muita sorte e esforço, viajar o mundo mostrando sua música. Dez em cada dez artistas sonham com isso. E se eu te dissesse que tudo isso aconteceu com uma banda brasileira, porém, que foi fora de nossos limites territoriais, lá no Velho Continente? Pois é justamente muito próxima desse relato a história da banda gaúcha Selton.
Ramiro Levy, Daniel Plentz, Ricardo Fischmann e Eduardo Stein foram colegas de colégio em Porto Alegre. Já no período da faculdade, resolveram desbravar o mundo em um intercâmbio. Combinaram, então, de se encontrarem em Barcelona e, para conseguir bancar o aluguel, decidiram montar uma banda.
Foi tocando covers no Parque Güell, em Barcelona, que o som dos rapazes de Porto Alegre agradou os ouvidos de um produtor da MTV italiana. Foi nessa época em que surgiu o convite de Gaetano Cappa, produtor musical, radialista e compositor italiano, para que se mudassem para Milão. Pouco tempo depois saiu o primeiro disco da Selton, Banana à Milanesa (2008), um álbum que fusionava rock, samba e MPB com clássicos italianos dos anos 60.
Dois anos depois veio Selton, disco homônimo com 13 novas canções. O novo trabalho teve produção de Tommaso Colliva, que já havia trabalhado com nomes como Muse, Franz Ferdinand e Phoenix. Em 2013 chegou Saudade, novamente com produção de Colliva, um disco muito bem trabalhado, dando oportunidade para que observássemos como o indie rock passava a abraçar de vez a Selton, ainda que muitas referências brasileiras extrapolassem essa definição – como uma singela homenagem a Luíz Gonzaga, o Rei do Baião, em “Qui nem giló (Saudade)”.
E se 2016 a música mundial teve perdas irreparáveis, ao menos o ano tem nos presenteado com lançamentos marcantes. Um desses é Loreto Paradiso, o quarto (e melhor!) álbum da Selton. Trazendo de volta a incrível habilidade do grupo em criar refrões que grudam na cabeça do ouvinte, Loreto Paradiso ainda reafirma a maestria do grupo “gaúcho-brasileiro-italiano” em criar misturas coesas a partir da heterogeneidade de suas referências. Sem pedantismo ou cacofonia, a banda mescla idiomas, ritmos, harmonias, arranjos, fazendo tudo soar de forma caprichada. Ouvi-los em inglês (como em “Be My Life”), em italiano (como em “Qualcuno mi ascolta?”), ou em português reverbera qualidades, como controle artístico, e um tanto de ousadia.
Consolidados na cena alternativa de Milão, a banda presta um interessante serviço aos fãs de música. Primeiro, o de exigir que o brasileiro fã de música redescubra seu país, musicalmente falando, seja ao conhecer a obra da Selton, seja ao procurar compreender suas referências; segundo, o de que lancemos nossos olhos, também, à cena musical italiana. Imperdível.
NO RADAR | Selton
[Foto: Rafael de Farias Forte - fonte: www.aescotilha.com.br]
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