Em ensaio, professor estabelece relações entre
filmes do diretor e diferentes autores
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Jean Seberg e Jean-Paul Belmondo em cena de "Acossado" de Godard
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Por LEONARDO CAZES
Numa
cena de “Acossado”, o longa de estreia de Jean-Luc Godard, Patricia (Jean
Seberg, na foto acima), a namorada do fugitivo Michel Poiccard (Jean-Paul
Belmondo), lê uma passagem do romance “Palmeiras selvagens” de William
Faulkner. O que poderia ser apenas uma citação é localizada por Mauricio Salles
Vasconcelos, professor da Universidade de São Paulo (USP), em uma rica teia de
cruzamentos entre a filmografia do cineasta francês e a literatura. O
mapeamento desses encontros move o ensaio “Jean-Luc Godard — História(s) da
literatura” (Relicário Edições, R$ 48), cujo título faz referência ao filme
“História(s) do cinema”, do próprio Godard.
Mais do que citações ou adaptações, o professor afirma que o cineasta
busca aproximações entre as ficções do cinema e da literatura. A polifonia
característica de Faulkner também aparece em “Acossado”.
Godard não faz “adaptações”. O que acontece sempre em seus filmes são
modos de fabular indissociavelmente lançados de fotograma a fotograma, entre a
citação e a ressituação dos signos da escrita e do regime cinemático, sempre
hibridizado para além do domínio estritamente visual atribuído à produção de
filmes — afirma.
A carreira de Godard no cinema começou como crítico, mas Vasconcelos
ressalta que ele também tinha grande interesse em ser romancista. Todo seu
trabalho, argumenta, é guiado pela máxima de que “escrever é fazer filmes”.
Quando começa a filmar, o seu trabalho de crítico atravessa a sua produção, em
sintonia com o projeto da Nouvelle Vague concebido pelo grupo reunido em torno
da revista “Cahiers du Cinéma”.
O cinema da “falação”, como gostam de expressar os detratores do
diretor, sempre mostrou, desde o primeiro fotograma, sua dimensão mista de
documento e performance no ato de fazer cinema. Narrar não se abstém da
investigação das esferas as mais diversificadas, da literatura moderna à nova história
cultural.
O professor afirma que, com o ensaio, busca produzir uma história da
literatura “no tempo do cinema godardiano, desde os anos 1960”. Por isso,
alguns autores relacionados aos filmes podem surpreender.
Quando estudo Ana Cristina Cesar, W.G Sebald e Lyn Hejinian, entre
outros exemplos de autores não relacionáveis diretamente com o cinema
godardiano, tenho como eixo questões conceptivas de seus projetos escriturais,
permeáveis a encruzilhadas sincrônicas com os filmes que ele realiza no mesmo
decurso de tempo.
[Fonte: www.oglobo.globo.com]
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