terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Editora rebate decisão do MP-RJ: ‘Edição de ‘Minha luta’ é antinazista’

Geração Editorial e Centauro, além da livraria Saraiva, serão investigadas por racismo

Edição alemã do livro de Hitler 

Antes mesmo de as versões impressas do livro “Minha luta”, de Adolf Hitler, chegarem às prateleiras brasileiras, uma batalha judicial está configurada. Nesta sexta-feira, o procurador-geral do Ministério Público do Estado do Rio, Marfan Martins Vieira, determinou que as editoras Geração Editorial e Centauro, além da livraria Saraiva, sejam investigadas pela 1ª Promotoria de Investigação Penal por racismo. A informação foi revelada pelo colunista do GLOBO Merval Pereira em seu blog.

A notícia crime sobre a reedição da obra foi enviada a Marfan pelos advogados Ary Bergher, Raphael Mattos e João Bernardo Kappen. No texto, eles alegaram que a obra é preconceituosa. Os advogados incluíram no pedido uma nota fiscal da compra do e-book na Saraiva. Eles pediram ainda que a possibilidade de retirar exemplares das livrarias não seja excluída:

"O livro escrito por Hitler é um incentivo ao extermínio de seres humanos, das minorias — judeus, ciganos negros, homossexuais — e por isso sua publicação, edição e comercialização vem sendo proibida ao longo dos anos. As ideias nazistas apresentadas por Hitler em seu livro falam de uma 'raça humana ariana' superior a toda as outras e única merecedora da sobrevivência. Um claro incentivo, portanto, ao extermínio dos que não são considerados pertencentes à linhagem ariana".

A obra, publicada pelo ditador alemão antes de sua ascensão ao poder, entrou em domínio público este ano

Procurada pelo GLOBO, a editora Geração Editorial informou, em nota oficial, que pretende lutar pelo direito de publicar a obra. “Trata-se de decisão equivocada do Ministério Público do Rio de Janeiro a partir de petição histérica de advogados desinformados”, diz o texto. O publisher da empresa, Luiz Fernando Emediato, rebateu as acusações:

— Caso o procurador insista, e isso acabe na Justiça, invocaremos nossos direitos constitucionais, pura e simplesmente. Demonstraremos que nossa edição é, pelo contrário, antinazista. Sua proibição teria repercussão mundial.



Nesta semana, escritores e professores brasileiros lançaram um abaixo-assinado contra a publicação do livro pelas editoras. Organizado por Daniela Lima, Giovanna Dealtry, Laura Erber e Ricardo Lísias, o manifesto critica o tratamento gráfico dado pela Geração Editorial à edição. O texto questiona se o livro realmente apresentará um panorama crítico do texto de Hitler: “Se a capa do livro for semelhante ou idêntica àquela apresentada no cartaz, mimetiza a estética dos atuais best-sellers direcionados ao público adolescente. Por fim, a editora tem adotado o procedimento de agredir pessoalmente aqueles que vêm se manifestando contra a edição comercial do livro".


[Foto: Matthias Balk / AP – fonte: www.oglobo.globo.com]

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