Manifestação foi organizada durante festival de Angoulême;
edição é marcada por forte esquema de segurança
Grande prêmio do evento foi para Katsuhiro Otomo,
primeiro japonês a receber o troféu
Por DIOGO BERCITO
enviado especial a ANGOULÊME (FRANÇA)
Na reta final de um
festival marcado pelo incremento na segurança, quadrinistas marcham neste
sábado (31) para dizer às autoridades francesas que temem não apenas pelo risco
de novos atentados, mas também pelas condições de trabalho no setor.
A manifestação é
organizada pelo sindicato dos autores e pede, além de quadrinistas caminhando
pelas ruas da cidade, uma breve interrupção nos autógrafos e nos debates nesse
evento.
O festival de quadrinhos
de Angoulême, no oeste francês, é o maior do mercado europeu. O evento foi
iniciado na quinta-feira (29) e termina no domingo (1º de fevereiro). O grande
prêmio foi entregue no primeiro dia de festival ao japonês Katsuhiro Otomo, 60,
pai de "Akira".
Otomo é o primeiro japonês
a ganhar o principal troféu de Angoulême. Pelas regras do jogo, ele será o
curador da edição do ano que vem do evento. Ele é visto como um dos
responsáveis por ter popularizado o gênero do mangá na Europa.
Ao contrário de outras
edições acompanhadas pela Folha, a deste ano está marcada pelo
aparato de segurança. Cães farejadores conferem, por exemplo, os gibis antes de
artistas organizarem seus estandes. Detectores de metal causam filas e atrasos.
A preocupação se deve ao
receio de que haja um novo ataque contra quadrinistas, como aquele que deixou
12 mortos em 7 de janeiro. Dois terroristas armados invadiram a redação do
satírico "Charlie Hebdo" depois da publicação de desenhos de Maomé, o
profeta do islã.
Salvador Perez, prefeito
da região de Charente (onde está Angoulême), confirma à Folha que
há um sério incremento na segurança. "Temos de tomar muito cuidado, mais
do que nunca", afirma.
"Há uma possibilidade
real de ataque. Não temos informações de inteligência nesse sentido, mas
tomamos precauções com a guarda civil. Pedimos também à organização do festival
que contratasse um serviço privado de segurança", ele afirma.
Para além das preocupações
com a segurança, os autores que aderem à marcha do sábado reclamam melhores
condições de trabalho.
De acordo com o sindicato,
há planos de aumentar os impostos cobrados desses autores. "Já é difícil
sobreviver na situação atual", diz à reportagem o artista Mathieu Gabella,
porta-voz do grupo.
Gabella diz que
"todos nós estávamos em Paris", durante a marcha em repúdio ao
atentado contra o "Charlie Hebdo". Nesse contexto, diz, as
reivindicações dos autores "parecem materiais, triviais".
"Mas os nossos
problemas também afetavam, por exemplo, o 'Charlie Hebdo' antes do atentado.
Eles tampouco tinham dinheiro."
[Fonte: www.folha.com.br]
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