quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Quadrinistas fazem marcha na França

Manifestação foi organizada durante festival de Angoulême; edição é marcada por forte esquema de segurança

Grande prêmio do evento foi para Katsuhiro Otomo, primeiro japonês a receber o troféu

Por DIOGO BERCITO
enviado especial a ANGOULÊME (FRANÇA)

Na reta final de um festival marcado pelo incremento na segurança, quadrinistas marcham neste sábado (31) para dizer às autoridades francesas que temem não apenas pelo risco de novos atentados, mas também pelas condições de trabalho no setor.

A manifestação é organizada pelo sindicato dos autores e pede, além de quadrinistas caminhando pelas ruas da cidade, uma breve interrupção nos autógrafos e nos debates nesse evento.

O festival de quadrinhos de Angoulême, no oeste francês, é o maior do mercado europeu. O evento foi iniciado na quinta-feira (29) e termina no domingo (1º de fevereiro). O grande prêmio foi entregue no primeiro dia de festival ao japonês Katsuhiro Otomo, 60, pai de "Akira".

Otomo é o primeiro japonês a ganhar o principal troféu de Angoulême. Pelas regras do jogo, ele será o curador da edição do ano que vem do evento. Ele é visto como um dos responsáveis por ter popularizado o gênero do mangá na Europa.

Ao contrário de outras edições acompanhadas pela Folha, a deste ano está marcada pelo aparato de segurança. Cães farejadores conferem, por exemplo, os gibis antes de artistas organizarem seus estandes. Detectores de metal causam filas e atrasos.

A preocupação se deve ao receio de que haja um novo ataque contra quadrinistas, como aquele que deixou 12 mortos em 7 de janeiro. Dois terroristas armados invadiram a redação do satírico "Charlie Hebdo" depois da publicação de desenhos de Maomé, o profeta do islã.

Salvador Perez, prefeito da região de Charente (onde está Angoulême), confirma à Folha que há um sério incremento na segurança. "Temos de tomar muito cuidado, mais do que nunca", afirma.

"Há uma possibilidade real de ataque. Não temos informações de inteligência nesse sentido, mas tomamos precauções com a guarda civil. Pedimos também à organização do festival que contratasse um serviço privado de segurança", ele afirma.

Para além das preocupações com a segurança, os autores que aderem à marcha do sábado reclamam melhores condições de trabalho.

De acordo com o sindicato, há planos de aumentar os impostos cobrados desses autores. "Já é difícil sobreviver na situação atual", diz à reportagem o artista Mathieu Gabella, porta-voz do grupo.

Gabella diz que "todos nós estávamos em Paris", durante a marcha em repúdio ao atentado contra o "Charlie Hebdo". Nesse contexto, diz, as reivindicações dos autores "parecem materiais, triviais".

"Mas os nossos problemas também afetavam, por exemplo, o 'Charlie Hebdo' antes do atentado. Eles tampouco tinham dinheiro."


[Fonte: www.folha.com.br]

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