Gaúcho é homenageado com exposição em Porto Alegre sobre sua vida e obra; montagem em outras cidades depende de patrocínio
Por MARIA FERNANDA
RODRIGUES
Moacyr Scliar (1937-2011) foi um dos mais prolíficos
escritores brasileiros e ao longo de quase meio século publicou, aqui e em
outros 14 países, mais de 130 livros. É dele, aliás, a ideia original de A Vida de
Pi, plagiada e
ampliada por Yann Martel e adaptada para o cinema por Ang Lee – que virou
best-seller e blockbuster. Uma das figuras mais queridas do meio literário, ele
foi, antes e durante sua carreira de escritor, médico sanitarista. Seu vasto e
rico universo está sendo contado na exposição Moacyr Scliar – O Centauro do Bom Fim, em cartaz entre esta quinta-feira, dia 17, e o
dia 16 de novembro no Santander Cultural, em Porto Alegre. E para compreender
esse universo é preciso, antes, refazer os passos de seus pais, judeus russos
que chegaram ao Brasil em 1904.
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A infância no Bom Fim marcaria para sempre o escritor
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Um longo túnel de 20 metros imitando a rampa de acesso de
um navio leva o visitante, ao som do mar e da madeira estalando sob os pés, ao
Bom Fim, bairro judeu de Porto Alegre, onde Scliar nasceu e cresceu. Pelo
caminho, fotos de outros tantos imigrantes que deixaram a Bessarábia e outros
países em busca de melhores condições.
Chegando à instalação do Bom
Fim, conhecemos, por fotos reproduzidas em totens e mapas cobrindo o chão e a
parede, lugares como o Cine Baltimore, a Escola Iídiche, o Bar do Serafim, a
Associação Israelita Hebraica e, claro, a Rua Fernandes Vieira, onde ficava a
casa dos Scliar, representada na instalação seguinte. Uma casa modesta, na qual
a água do banho era aquecida em lata de óleo no fogão, mas onde, dizia o
escritor, não faltavam livros.
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Móveis cenográficos dão uma ideia de como era a casa de sua infância
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Sua extinta biblioteca infantil, formada por obras como Tarzan, As Aventuras de Pinóquio e Os 12 Trabalhos de
Hércules, foi reconstruída pelo cineasta Carlos Gerbase, o curador.
Entre um livro e outro, estão fotos do menino Scliar: a formatura no Colégio
Rosário – onde ganhou seu primeiro prêmio como escritor – e um banho de mar.
Nas paredes, móveis cenográficos para dar uma ideia de como era a casa da
infância do autor.
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Originais de "A Guerra no Bom Fim" podem ser vistos na exposição
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Há, ainda, documentos, manuscritos, datiloscritos e fotos
originais, a máquina de escrever, o discurso de formatura da faculdade de
Medicina, o fardão da Academia Brasileira de Letras, as estatuetas do Jabuti,
uma estátua dele como jogador de basquete. Quem quiser ler os livros, basta
pegar um dos tablets e sentar numa das poltronas espalhadas pela exposição –
com eles, também é possível acessar o site dedicado ao autor. Os infantojuvenis
estão ali, em papel, para serem manuseados pela criançada. Pelas paredes,
reproduções de capas e de textos do autor.
Originais de "A Guerra no Bom Fim" podem ser vistos na exposição
O documentário Caminhos de Scliar, de Claudia Dreyer, o curta No Amor, de 1982, e uma instalação com atores lendo
diálogos dos livros completam a mostra, que não tem previsão de ser montada em
outros lugares.
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Diálogos dos livros são reproduzidos por atores em instalações
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Moacyr Scliar morreu em decorrência de um AVC, e a ideia da
exposição surgiu logo em seguida – uma tentativa de elaborar o luto. “Fomos
todos privados de sua companhia e histórias muito subitamente”, comenta a viúva
Judith Scliar, idealizadora da exposição, ao lado de Gabriel Oliven. Ela diz
que o processo de pesquisa foi doloroso: “Busquei fotos de toda uma vida e isso
mexe, faz reviver uma série de coisas. Mas vale a pena porque é importante
compartilhar isso com o público e os amigos”.
[Fonte: www.estadao.com.br]
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