Por FELIPE GUTIERREZ
Em um discurso recente, a presidente Cristina Kirchner
deu uma pausa nas falas sobre política para tecer algumas considerações sobre
cinema. Elogiou o filme paraguaio "Sete Caixas" e perguntou se a
plateia havia visto "esse filme fantástico que é 'Relatos Selvagens'".
Ver "Relatos
Selvagens" em Buenos Aires não é tarefa fácil.
As sessões do começo da noite
ou dos fins de semana esgotam com muita antecedência -foram necessárias três
idas à bilheteria até conseguir uma entrada. Trata-se da estreia com melhor desempenho
na história do cinema argentino: já se aproxima da marca de 500 mil
espectadores. Nos jornais, projeta-se um dos maiores sucessos comerciais da
história.
A intensa campanha
publicitária que antecedeu a estreia certamente contribuiu para isso, mas o
filme tem seus méritos. É uma comédia dividida em seis episódios, sem conexão
narrativa entre eles, e mostra situações em que as pessoas reagem de maneira
exacerbada a chateações comuns (carro guinchado, briga de trânsito, decepções
amorosas etc.).
E trata-se de uma
superprodução, bem filmada, com explosões aparentemente impecáveis na técnica.
Se não fosse isso, "Relatos Selvagens" estaria mais para um bom
programa de esquetes do que para um longa-metragem -o diretor Damián Szifrón
tem uma carreira mais vinculada à televisão do que ao cinema.
Ah, sim: tem o Ricardo Darín.
O OUTRO CENTENÁRIO
O escritor Julio Cortázar completou cem anos, e a
Argentina comemorou com nada menos do que 13 mesas-redondas e eventos durante a
Feira do Livro de Buenos Aires. No jardim da Biblioteca Nacional -que se chama
"Rayuela" (nome original de "O Jogo da Amarelinha")-
ergueu-se ainda um novo monumento em sua homenagem.
A cidade celebra agora, de modo mais discreto, o
centenário de Adolfo Bioy Casares.
Um dos destaques é o lançamento do livro "Bioy
Casares Va al Cine", parte de uma série da editora Libraria Ediciones que
narra a relação de diferentes escritores (como Roberto Arlt e Jorge Luis
Borges) com essa arte.
No novo volume, assinado por Adriana Mancini, o leitor
acompanha como, em salas como a do velho cinema Hindú, nos anos 1920, Bioy
Casares, ainda adolescente, se apaixonou pela primeira vez: pela imagem da
atriz norte-americana Louise Brooks.
MARINA POETA
Os jornais argentinos estão escolhendo seu lado na
campanha eleitoral brasileira. A grande novidade é a presença de Marina Silva e
o seu desempenho nas pesquisas. Mais noticiosos nesta cobertura,
"Clarín" e "La Nación", por enquanto, tratam de descrever
os movimentos das pesquisas eleitorais e os debates.
O "Perfil", que sai aos finais de semana, a
descreve como um "furacão". Ela já apareceu na capa acompanhada de um
poema de sua autoria. Na semana seguinte, o jornal publicou um outro poema de
Marina. A publicação também fez uma reportagem sobre o argentino Diego Brandy,
que trabalha com a candidata.
O "Página 12" optou por um tom diferente. Já
publicou que a ex-senadora aceitou compor a chapa com Beto Albuquerque,
"um dirigente vinculado ao agronegócio", e afirma que ela construiu
sua credibilidade junto "às elites" combinando uma guinada neoliberal
com "boa relação com as embaixadas dos EUA e da Alemanha (ambas com os
olhos na Amazônia)".
CHIQUE E ILEGAL
Restaurantes a portas fechadas são uma pequena febre.
Estima-se que existam cerca de cem na cidade. Eles funcionam na casa dos chefs,
é preciso fazer reservas e só se descobre o endereço depois de confirmar
presença.
Os "portas fechadas" são um mercado pirata
gastronômico: fogem dos impostos de 21% sobre cada refeição, contratam sem
pagar direitos trabalhistas e não tiram licença para poder funcionar ou vender
álcool. O fisco não tem dado muita atenção a eles, mas, com problemas
financeiros, especula-se que o governo começará a esticar os olhos para o
segmento.
[Fonte: www.folha.com.br]
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