Ivan Junqueira tornou-se aos poucos uma espécie de cultor lexical elaboradíssimo
Por Marcílio Godoi
"Descansa, ó poeta. Aperto em minha mão
o que me deste: esse íntimo segredo
que me fez teu herdeiro e teu irmão.
E o resto é o vento no áspero rochedo."
(Ivan Junqueira, em Terzinas para Dante Milano)
O semblante casmurro de Ivan representa a personagem elaborada pelo próprio autor para abrigar, não como máscara, mas como construção, seus dublês de ensaísta militante e tradutor, poeta em tempo integral.
Com perfil biográfico ligado tanto ao médico quanto ao enciclopédico, o carioca Ivan Junqueira tornou-se aos poucos uma espécie de cultor lexical elaboradíssimo, escritor capaz de extrair das palavras, em seu jogo semântico, da mais clara à mais sombria, as raras tonalidades e os timbres de uma arquitetura luminosa, comovida pela exatidão rítmica de sua melancolia.
Refratário ao hermetismo na poesia, Ivan era igualmente avesso à superficialidade de se "fazer da poesia um animal sem vísceras", o que o levava, como tradutor de si mesmo, a lograr o soerguimento desse cálculo inventivo, elaboração metafísica de seu autoexatoexaspero:
"É sobre ossos e remorsos
que trabalho".
que trabalho".
Marcílio Godoi é arquiteto e jornalista, autor do Pequeno Dicionário Ilustrado de Palavras Invenetas (Sagui, 2007) www.memoeditorial.com.br
[Fonte: www.revistalingua.uol.com.br]
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