Tradução simultânea que permitiu mesa-redonda em quatro
idiomas no SporTV deve se repetir em curto prazo
Por Cristina Padiglione
Não será preciso esperar pela Olimpíada ou pela Copa de 2018
para se deliciar com a magia de uma mesa redonda ao vivo em que quatro idiomas
diferentes se entendem entre si e se fazem entender pelo telespectador. Diretor
executivo do canal SporTV, Raul Costa Jr. não revela o nome do santo, ainda,
por razões contratuais, mas adianta ao Estado que planeja repetir muito em breve a
experiência adquirida no É Campeão, programa realizado ao
vivo durante o mundial no Brasil, com ex-capitães de quatro países distintos.
“Deu muito trabalho, mas valeu a pena”, diz Costa Jr. “No
início estava até um pouco engessado, mas logo foi ganhando ritmo”, avalia
Costa Jr. Antes que os verdadeiros protagonistas entrassem em cena, conta ele,
cerca de vinte testes foram feitos com atores que estudaram o ritmo de falar de
cada participante: o italiano Fábio Canavarro, o argentino Daniel Passarella, o
alemão Lothar Matthäus e Carlos Alberto Torres – embora o brasileiro não
demandasse intérprete para o público, teria de ser entendido pelos demais
participantes, que usavam fones para entender o que os outros diziam, incluindo
o apresentador, André Rizek.
Responsável pela seleção e pelo treinamento dos intérpretes
que trabalharam para o SporTV durante a Copa, o francês Yves Bergougnoux dá uma
dimensão do expediente. “Tivemos dois desafios. A primeira foi tentar encontrar
as soluções linguísticas para fingir que ali havia quatro pessoas falando em
português, como se estivessem aqui. Pelo fato de um ter de esperar pela
tradução do outro, era difícil conseguir exatamente o mesmo ritmo de conversa
de bar, com interlocuções. Mas a gente achou soluções, sobretudo para o alemão,
em que o verbo ou a partícula que dá sentido à frase fica no final, e isso
atrasava um pouco a interpretação, no início”, conta Bergougnoux.
O segundo desafio foi “formar uma equipe que a priori não
era especializada em futebol e que vinha dos quatro cantos do País, com idades
entre 27 e 76 anos, e integrar todo mundo”, diz. Com 49 anos de vida, ele já
tem mais tempo de Rio de Janeiro do que de terras francesas, e faz questão de
diferenciar o termo “tradutor” de “intérprete”, função que exerce e que
denomina também os profissionais que selecionou. Coube a Bergougnoux ainda a
escolha dos intérpretes responsáveis pela tradução das entrevistas coletivas
dadas pelos atletas durante todo o mundial, o que implicou a contratação de 26
profissionais para 12 idiomas.
O time do É Campeão era formado por George Bernard Sperber
(alemão/português), Juan Hersil (espanhol/português), Martha Moreira
(alemão/espanhol), Ursula Pabst (espanhol/alemão) e Marcello Lino
(italiano/português). Todos deram expediente em cabines montadas em uma sala da
técnica, vizinha ao estúdio onde os ex-capitães faziam o programa, na Ilha
Fiscal, no Rio. “Não podíamos correr riscos de delay ou de ter qualquer
problema de compreensão agravado pela distância”, explica Raul Costa Jr.
Em suma: nunca antes uma mesa de futebol demandou tanta
engenharia e conteúdo intelectual. Que venham outras, no rastro dos “legados da
Copa”.
[Fonte: www.estadao.com.br]
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