sábado, 12 de abril de 2014

Jovens emigrantes portugueses qualificados lançam manifesto para que emigração seja tema de debate nas eleições europeias

“Esse país também é nosso” é o nome de um manifesto lançado por jovens emigrantes portugueses qualificados, que pretendem que “a realidade avassaladora da emigração” seja tema de debate nas eleições europeias.

A ideia de lançar o manifesto surgiu da vontade de jovens emigrados “à força” de “fazerem alguma coisa” pelo seu país, numa altura em que se aproximam as eleições europeias (25 de maio), informou hoje à agência Lusa Rodrigo Rivera.

“Achamos que se está a falar muito pouco da nossa situação enquanto portugueses emigrados à força” e, por isso, considerámos “importante pautar as eleições europeias” com esta temática, adiantou o jovem, que emigrou com a mulher para o Brasil em setembro. Para Rodrigo Rivera, é preciso discutir as razões que levam “centenas de milhares de pessoas” a saírem por ano de Portugal. “O último número oficial foi 120 mil. Acho que é uma situação bastante gravosa”, lamentou o jovem com formação em Relações Internacionais.

O manifesto é assinado por uma jovem escritora, por arquitectos, economistas, investigadores, designers, entre outros, emigrados em vários países europeus, no Brasil e no Camboja.

“Somos todos jovens qualificados, nalguns casos ainda estudantes, e não encontramos nenhuma saída profissional em Portugal que seja digna”, disse Rodrigo Rivera.

Há muitos jovens com mestrados, doutoramentos e que “não conseguem encontrar um trabalho que pague mais de 500 ou 600 euros e, provavelmente, não é na área deles”, lamentou.

Rodrigo Rivera contou o seu caso: “Saí de Portugal com uma formação em Relações Internacionais, falo quatro idiomas, e não tinha nenhuma ‘chance’ em Portugal de ganhar um salário com que pudesse sustentar-me dignamente”.

No Brasil, encontrou trabalho numa multinacional no espaço de um mês e ainda “teve oportunidade de rejeitar algumas ofertas de trabalho”, contou, adiantando que a mulher, que é arquitecta, arranjou emprego numa semana.

“Em Portugal a situação dela [da mulher] e de muitos outros jovens seria de saltar de estágio não remunerado em estágio não remunerado”, frisou.

No manifesto, os jovens afirmam que encontraram fora de Portugal “a oportunidade” que o país lhes negou.

“Muitos de nós pertencem à geração mais qualificada de sempre, uma formação conseguida com muitos sacrifícios pessoais e familiares, mas também com o investimento de todos nos serviços públicos de educação. Um percurso que chocou contra a parede do desemprego e da precariedade”, acrescentam.

Rodrigo Rivera adiantou que o manifesto tem “alguns dias” e já reuniu cerca de duas dezenas de assinaturas.

O objectivo é “chegar a muito mais gente”, porque “a realidade da emigração em Portugal é avassaladora neste momento” e “tem que haver uma reposta política séria a esta situação”.

Para estes jovens, o PSD e PS estão a “apresentar propostas que não são dignas de momento”.

“Simplesmente ignoram a nossa situação de portugueses emigrados contra a sua própria vontade e ignoram também que queremos voltar para Portugal”, justificam.

Rodrigo Rivera frisou que estes jovens querem “mesmo voltar” para Portugal: “Temos saudades do nosso país, queremos contribuir para o seu desenvolvimento e vemo-nos obrigados a viver fora do país.”

“Nós rejeitamos completamente este modelo de desenvolvimento do país, que tem tudo menos pés para andar”, acrescentou.

Sobre a intenção do Governo de incentivar “jovens cérebros” estrangeiros a virem estudar para Portugal, Rodrigo Rivera disse que “é uma grande falácia”.

“Ao mesmo tempo que dizem que querem fazer isso, estão a expulsar jovens mais do que qualificados, formados em Portugal, e criaram um estatuto especial de estudante estrangeiro que vai reduzir a diversidade internacional das nossas universidades com propinas exorbitantes para estes estudantes”, considerou.


Lusa/SOL

[Publicado por Graciano Coutinho em blog.opovo.com.br/portugalsempassaporte]

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