“Esse país também é nosso” é o nome de um manifesto lançado
por jovens emigrantes portugueses qualificados, que pretendem que “a
realidade avassaladora da emigração” seja tema de debate nas eleições europeias.
A ideia de lançar o manifesto surgiu da vontade de jovens emigrados
“à força” de “fazerem alguma coisa” pelo seu país, numa altura em que se
aproximam as eleições europeias (25 de maio), informou hoje à agência
Lusa Rodrigo Rivera.
“Achamos que se está a falar muito pouco da nossa situação enquanto
portugueses emigrados à força” e, por isso, considerámos “importante
pautar as eleições europeias” com esta temática, adiantou o jovem, que
emigrou com a mulher para o Brasil em setembro. Para Rodrigo Rivera, é preciso discutir as razões que levam “centenas de milhares de pessoas” a saírem por ano de Portugal. “O último número oficial foi 120 mil. Acho que é uma situação bastante gravosa”, lamentou o jovem com formação em Relações Internacionais.
O manifesto é assinado por uma jovem escritora, por arquitectos,
economistas, investigadores, designers, entre outros, emigrados em
vários países europeus, no Brasil e no Camboja.
“Somos todos jovens qualificados, nalguns casos ainda estudantes, e
não encontramos nenhuma saída profissional em Portugal que seja digna”,
disse Rodrigo Rivera.
Há muitos jovens com
mestrados, doutoramentos e que “não conseguem encontrar um trabalho que
pague mais de 500 ou 600 euros e, provavelmente, não é na área deles”,
lamentou.
Rodrigo Rivera contou o seu caso: “Saí de Portugal com
uma formação em Relações Internacionais, falo quatro idiomas, e não
tinha nenhuma ‘chance’ em Portugal de ganhar um salário com que pudesse
sustentar-me dignamente”.
No Brasil, encontrou trabalho numa multinacional no espaço de um mês e
ainda “teve oportunidade de rejeitar algumas ofertas de trabalho”,
contou, adiantando que a mulher, que é arquitecta, arranjou emprego numa
semana.
“Em Portugal a situação dela [da mulher] e de muitos outros jovens seria de saltar de estágio não remunerado em estágio não remunerado”, frisou.
No manifesto, os jovens afirmam que encontraram fora de Portugal “a oportunidade” que o país lhes negou.
“Muitos de nós pertencem à geração mais
qualificada de sempre, uma formação conseguida com muitos sacrifícios pessoais e familiares, mas também com o investimento de todos nos
serviços públicos de educação. Um percurso que chocou contra a parede do
desemprego e da precariedade”, acrescentam.
Rodrigo Rivera adiantou que o manifesto tem “alguns dias” e já reuniu cerca de duas dezenas de assinaturas.
O objectivo é “chegar a muito mais gente”, porque “a realidade da
emigração em Portugal é avassaladora neste momento” e “tem que haver uma
reposta política séria a esta situação”.
Para estes jovens, o PSD e PS estão a “apresentar propostas que não são dignas de momento”.
“Simplesmente ignoram a nossa situação de portugueses emigrados
contra a sua própria vontade e ignoram também que queremos voltar para
Portugal”, justificam.
Rodrigo Rivera frisou que estes jovens querem “mesmo voltar” para
Portugal: “Temos saudades do nosso país, queremos contribuir para o seu
desenvolvimento e vemo-nos obrigados a viver fora do país.”
“Nós rejeitamos completamente este modelo de desenvolvimento do país, que tem tudo menos pés para andar”, acrescentou.
Sobre a intenção do Governo de incentivar “jovens cérebros”
estrangeiros a virem estudar para Portugal, Rodrigo Rivera disse que “é
uma grande falácia”.
“Ao mesmo tempo que dizem que querem fazer isso, estão a expulsar
jovens mais do que qualificados, formados em Portugal, e criaram um
estatuto especial de estudante estrangeiro que vai reduzir a diversidade
internacional das nossas universidades com propinas exorbitantes para
estes estudantes”, considerou.
Lusa/SOL
[Publicado por Graciano Coutinho em blog.opovo.com.br/portugalsempassaporte]
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