quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Desafio para o Português: ser uma língua da tecnologia

Por Ronaldo Santos Soares
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Universidade de São Paulo

O encontro promovido na Universidade de Lisboa, com o apoio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, foi realizado em prol da defesa da afirmação da língua e de sua presença em um mundo globalizado que revaloriza o multilinguismo. E também discutiu os rumos da língua para seus usos nas áreas técnicas, sobretudo as ligadas às tecnologias de ponta e às Ciências da Informação.
Tal iniciativa de planeamento quanto à Língua Portuguesa é necessário para que seja apta a expressar as novas realidades que surgem no mundo a cada dia. Para que seja uma língua apta para a ciência, a Língua Portuguesa deve ser munida de termos próprios para expressar os novos conhecimentos do mundo no futuro – notadamente no vocabulário das áreas técnicas e na sua difusão para o uso na Língua Portuguesa comum.
Muitas vezes, há termos na Língua Portuguesa para expressar esses novos conceitos, mas são muito pouco difundidos fora dos meios técnicos. Em vez disso, aparece um grande afluxo de termos estrangeiros, sobretudo do inglês, que não ganham um tradução adequada ou uma adaptação aos padrões de escrita e de pronúncia do português e que acabam logo migrando para a língua comum, não especializada.
Esse fato já compromete a qualidade lexical da língua para a comunicação de conceitos ligados a ciência e tecnologia, classificada como “fragmentária” em seus recursos linguísticos e orais para expressar as Tecnologias da Comunicação e da Informação, como atestam os dados do Livro Branco A Língua Portuguesa na Era Digital, elaborado pela União Europeia.
O uso das terminologias ganha importância crescente no universo das grandes línguas do mundo, e isto não é diferente para a Língua Portuguesa. Aliás, está em curso a elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa – a cargo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, com base na junção dos Vocabulários Ortográficos Nacionais: será uma das ferramentas de vulto para a dinamização da língua quanto à escrita e também para o registro de seus novos termos técnicos.
Os poderes públicos devem ser a linha de frente para a execução das políticas de planeamento e difusão da Língua Portuguesa, juntamente com os profissionais das áreas técnicas, com os órgãos de padronização e com os canais de mídia ligados às áreas científicas. Os meios de comunicação social dos governos lusófonos devem ser exemplo de bom uso dos termos em português quando fizerem citação das novas tecnologias.
O português pode seguir o exemplo de outras grandes línguas que encararam o desafio de adaptar-se ao mundo do século XXI, como ocorre no francês, no espanhol, e até no norueguês e no galego, este último bem relacionado com a Lusofonia.
Dotar a sexta língua mais falada no mundo de mecanismos e de instrumentos para torná-la uma língua moderna, criativa e capaz de expressar as novas técnicas e os novos conhecimentos da humanidade: esta é a meta do novo Plano de Ação a ser delineado pela Conferência Internacional de Lisboa, que leva no nome a preocupação quanto ao futuro da Língua Portuguesa no mundo.
O português, a língua “filha ilustre do Latim”, é a língua de Camões, de poesias, da saudade, do samba e do fado. Mas também pode ser a língua da modernidade, da inovação, dos avanços das ciências e das tecnologias de ponta. Desta conferência vai surgir uma Língua Portuguesa preparada para o século XXI.  :::
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II Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial
Língua Portuguesa Global – Internacionalização, Ciência e Inovação
29 e 30 de outubro de 2013
Universidade de Lisboa
Lisboa, Portugal

[Fonte: ventosdalusofonia.wordpress.com]

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