Por MARCO RODRIGO ALMEIDA
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
O Itaú Cultural divulgou no fim da tarde desta quarta (dia 3), na
Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), novas pesquisas sobre o
estudo da literatura brasileira, aqui e no exterior.
A doutoranda da Universidade de Brasília (UnB) Laeticia Jensen Eble
mapeou os escritores nacionais mais citados nos trabalhos de doutores em
literatura brasileira no país. A pesquisa teve como base os currículos
disponibilizados na plataforma Lattes, banco de dados mantido pelo CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), de
2.176 pesquisadores.
Como a edição da "Ilustrada" desta quarta já havia antecipado, Machado de Assis lidera a lista com 122 citações.
Depois dele, nos primeiros cinco lugares, surgem Guimarães Rosa (100
citações), Clarice Lispector (63), Graciliano Ramos (54) e Mário de
Andrade (44).
Entre os autores vivos, Milton Hatoum é o mais citado, com 22 menções, à
frente de Rubem Fonseca (20), Manoel de Barros (18) e Chico Buarque
(13).
A pesquisa identificou 477 autores diferentes. As mulheres são uma parte
quase ínfima do grupo --apenas 21%. Depois de Clarice, Cecília Meireles
(16º lugar, com 20 menções) é a segunda mulher mais lembrada.
NO EXTERIOR
O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) João
Cezar de Castro Rocha apresentou uma pesquisa semelhante, só que
realizada com 224 pesquisadores que vivem no exterior.
Também neste grupo Machado lidera, com 135 menções. Depois estão Clarice (117), Rosa (102) e Jorge Amado (82).
Castro Rocha chamou a atenção para as diferentes posições ocupadas por
Amado nas duas listas --ele é o quarto na dos pesquisadores que vivem no
exterior e o 19º na dos brasileiros.
"Isso ocorre porque, nos anos 1940 e 1950, Jorge Amado foi fundamental
para a difusão da literatura brasileira no mundo. Mesmo que aqui no
Brasil não seja mais tão estudado hoje, permanece como um símbolo da
literatura brasileira no exterior", comentou o professor.
Castro Rocha também destacou que, proporcionalmente, pesquisadores
estrangeiros citam mais autores contemporâneos do que os pesquisadores
brasileiros ou residentes no Brasil.
"Para o pesquisador que se encontra fora do Brasil, a atualização é um
valor em si. Já para os pesquisadores daqui, dedicar-se aos cânones é
uma forma mais segura para conseguir fundos de pesquisas", afirmou.
FEIRAS LITERÁRIAS
O jornalista Felipe Lindoso apresentou dados sobre a proliferação de feiras literárias no Brasil nos últimos anos.
O portal da Biblioteca Nacional, comentou, tem 261 feiras registradas país.
Lindoso apontou a mudança de perfil desses eventos. Até o final dos anos
1990, as feiras eram majoritariamente encontros comerciais, voltadas
para a venda de livros.
Nos últimos anos, contudo, ganharam relevo os debates e a troca de ideia entre o público e os escritores.
"E de 2001 em diante, surgiram depois os festivais literários --Flip,
Fliporto, Fórum das letras--- nos quais a venda de livro é secundária",
afirmou.
Luiz Ruffato relacionou esse crescimento das feiras literárias à profissionalização da carreira de escritor.
"O ano da primeira Flip, 2003, é para mim um ano marcante da
profissionalizaçãoda profissão de escritor. Foi quando eu larguei o
jornalismo para me dedicar apenas à literatura", explica.
"Há dez anos vivo como escritor profissional. Vivo de cachê de festival,
júri de concursos literários. Vivemos um momento muito interessante.
Antes eu era um dos poucos casos. Hoje sou só mais um dos casos."
INTERNET
Fábio Malini, professor de jornalismo da Universidade Federal do
Espírito Santo, apresentou uma pesquisa sobre a presença da literatura
brasileira na internet, em especial no Facebook e no Twitter.
Nas redes sociais, Caio Fernando Abreu, Clarice e Carlos Drummond de Andrade são os campeões de popularidade.
Clarice, por exemplo, tem 743 mil "fãs" no Facebook. Caio tem 373 mil e Drummond, 108 mil.
A lista no Twitter é liderada por Paulo Leminski, autor que alcançou a lista de mais vendidos com "Toda Poesia".
O cruzamento dos dados indica que fãs de Clarice tendem a ser fãs de
Caio também. Representam um grupo mais heterogêneo, com usuários de
perfis diferentes "curtindo" os dois autores.
Já os que preferem Leminski e Machado formam um grupo mais homogêneo e
especializado nesses dois escritores, com pouca relação com outros
assuntos das redes sociais.
[Fonte: www.folha.com.br]
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