Em comemoração ao ano Alemanha + Brasil 2013-2014 e com apoio do
Instituto Goethe, o maior prêmio brasileiro de literatura cria categoria
especial para melhor tradução de obra de ficção alemão-português.
"Conheço a minha sina." Assim desabafou o filósofo alemão Friedrich
Nietzsche em sua autobiografia e última obra literária. "Um dia, meu
nome será ligado à lembrança de algo tremendo, de uma crise como jamais
houve sobre a Terra, da mais profunda colisão de consciências, de uma
decisão conjurada contra tudo o que até então foi acreditado,
santificado, requerido. Eu não sou homem, sou dinamite." O trecho faz
parte da tradução de Ecce Homo, feita por Paulo César de Souza e laureada com o Prêmio Jabuti em 1996.
Em 2013, em sua 55ª edição, o Prêmio Jabuti escreve um trecho diferente
na história. Uma categoria especial foi criada para premiar –
exclusivamente – a melhor tradução de obra de ficção do alemão para o
português. Além da estatueta e dos 3,5 mil reais – já tradicionais ao
ganhador de cada categoria – o vencedor será premiado com uma estada de
quatro semanas na Casa do Colóquio em Berlim, na Alemanha, além de uma
participação na Academia de Verão de Tradutores, que acontece em agosto
do ano que vem, também na capital alemã.
As inscrições do Prêmio Jabuti 2013 vão até o dia 15 de junho. |
O Prêmio Jabuti é a premiação mais tradicional e prestigiada do Brasil.
As inscrições podem ser feitas até o dia 15 de junho e valem apenas para
publicações inéditas, editadas no Brasil durante o ano de 2012. A
cerimônia de premiação será em novembro.
De acordo com a diretora do Serviço de Informação e Biblioteca para a
América do Sul do Instituto Goethe, Stefanie Kastner, a ideia surgiu
durante um evento organizado pelo Instituto Goethe para as editoras
brasileiras em outubro de 2012. A gerente de marketing e eventos da
Câmara Brasileira do Livro, Cristina Lima, em conjunto com o Wolfgang
Bader, diretor do Instituto Goethe São Paulo e da regional da América do
Sul, trabalharam juntos na elaboração da categoria.
Em entrevista à DW Brasil, tradutores brasileiros que atuam há vários
anos no mercado, como Marcelo Backes e Paulo César de Souza, disseram
ver o prêmio como boa oportunidade para difundir a literatura alemã.
"Acho que a iniciativa é bem-vinda. Qualquer prêmio, sobretudo sendo
também monetário, sempre é um incentivo à produção literária, ainda que
talvez seu efeito primordial seja apenas quantitativo. Mas da quantidade
é mais fácil surgir qualidade. Que o digam os dois mil prêmios
literários existentes na Alemanha", comenta Backes.
A estatueta e o nome do Prêmio Jabuti homenageiam um personagem clássico da literatura de Monteiro Lobato. |
Fomento à literatura alemã
O Instituto Goethe é um dos principais responsáveis pela difusão da
literatura alemã em diversos países, inclusive no Brasil. Há 35 anos, o
instituto apoia as publicações arcando com grande parte dos custos das
traduções. Em 2012, 14 obras alemãs receberam o apoio do Instituto
Goethe e este ano, em função do ano Alemanha no Brasil, foi elaborado um
programa especial para fomentar a tradução de 40 obras. O objetivo é
também, de acordo com Stefanie, que obras muito importantes da
literatura alemã cheguem às livrarias brasileiras.
Backes participou do júri que escolheu os 40 títulos e acredita que o
novo programa ajude a sanar parte do déficit da literatura alemã no
Brasil, que ainda não tem, por exemplo, obras completas de Goethe, além
de alavancar a tradução de obras alemãs no mercado brasileiro. "Alguns
clássicos que já deveriam ter sido publicados há tempo, enfim, chegarão
às mãos dos leitores brasileiros, e a literatura alemã provavelmente não
ficará mais atrás das outras grandes literaturas europeias."
Barreiras da língua
O crescente interesse mundial pela língua alemã interfere positivamente
na difusão da literatura alemã no Brasil. Apesar de não ter uma
estatística exata, no Instituto Goethe, o número de solicitações de
fomento à tradução aumenta a cada ano. Na opinião de Stefanie Kastner,
os tradutores têm um papel importante na difusão da literatura alemã no
Brasil. "Existem poucas editoras com pessoas que falam alemão. Os
tradutores são importantes porque, muitas vezes, sugerem os livros que
acham interessantes. Então, eles atuam como editores."
Para Backes, obras importantes de Theodor Fontane, Jean Paul e Gottfried Keller ainda são inéditas no Brasil. |
O "preconceito" com a literatura alemã diminuiu, porém, ainda existe,
complementa Backes. "Ela continua sendo vítima de alguns preconceitos
que a acusam de ser hermética, metafísica demais, pouco narrativa e
muito próxima de uma elaboração mais filosófica", diz o tradutor. "Uma
vez que o acesso mais amplo à literatura sempre começa com um foco no
entretenimento, os alemães acabam penando."
Autoria: Fernanda Azzolini
Edição: Roselaine Wandscheer
Edição: Roselaine Wandscheer
[Fonte: www.dw.de]
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