segunda-feira, 25 de março de 2013

Era digital remodela padrões de etiqueta



NICK BILTON

DO "NEW YORK TIMES"

Algumas pessoas são tão rudes. Sério, quem manda um e-mail ou mensagem de texto que diz apenas "Obrigado"? Quem deixa uma mensagem de voz quando você não atende, em vez de mandar um torpedo? Quem pergunta a você sobre um fato facilmente achado no Google?

Essas pessoas não percebem que estão consumindo o seu tempo?

Claro, algumas pessoas podem me achar um cara áspero por não apreciar as pequenas cortesias da vida. Porém, muitas das normas sociais apenas não fazem mais sentido para as pessoas imersas na comunicação digital.

Pegue a mensagem "Obrigado". Daniel Post Senning, trineto da escritora Emily Post e coautor da 18ª. edição de "Etiqueta de Emily Post", perguntou: "em qual momento ter consideração e demonstrar consideração ultrapassam limites?"

O que significa, ele acrescenta, "que isso dá a impressão de que os nativos digitais não podem ser aborrecidos com o cultivo de relacionamentos, e que há um equilíbrio a ser encontrado".

Então há o correio de voz, outra maneira impolida de tentar se conectar com outras pessoas. Pense sobre quanto tempo se leva para acessar o serviço e ouvir uma daquelas imensas mensagens resfolegantes. "Oi, aqui é Fulano..." Em mensagens de texto, você não tem que declarar quem você é, nem mesmo dizer olá. E-mails, também, deixam algo a desejar com assuntos como "oi" e "tchau", porque a comunicação pode acontecer mais rápida via texto.


E então existem os piores transgressores de todos: aqueles que deixam uma mensagem de voz e então mandam um e-mail para dizer que deixaram a tal mensagem no seu correio de voz.


Meu pai me ensinou esta lição no ano passado, depois de me deixar dezenas de mensagens de voz, nenhuma das quais eu sequer ouvi. Exasperado, ele ligou para a minha irmã a fim de se queixar que eu jamais retornara as suas ligações. "Por que você deixou essas mensagens de voz para ele", perguntou minha irmã. "Ninguém mais ouve mensagens de voz. Mande só torpedo para ele."


Minha mãe percebeu isto tempos atrás. Agora nós nos comunicamos principalmente por intermédio do Twitter.

Tom Boellstorff, professor de antropologia digital da Universidade da Califórnia, diz que parte do problema é que comunicações on-line e off-line se apropriam uma da outra. Por exemplo, o e-mail com o termo CC quer dizer cópia em carbono, tal como o papel carbono era usado para copiar uma carta. No entanto, alguns gestos como abrir um e-mail com "olá" ou terminá-lo com "sinceramente" estão desaparecendo desse meio.

Isso não significa a primeira charada com uma nova tecnologia de comunicação. No final dos anos 1870, quando o telefone foi inventado, pessoas não sabiam como saudar um interlocutor. Frequentemente, havia só silêncio. Alexander Graham Bell, o inventor, sugeriu que pessoas dissessem "olá!". Outros propuseram: "o que deseja?". Eventualmente "alô" ganhou, e isso acelerou seu uso nas comunicações cara-a-cara.

Agora, com o Google e mapas on-line ante nossos dedos, o que antes fora normal pode ser considerado incivilizado - como perguntar a alguém sobre direções para casa, restaurante ou escritório, quando isso pode ser facilmente encontrado no Google Maps.

Certa vez, perguntei a um amigo algo facilmente descoberto na internet, e ele me respondeu com um link para http://lmgtfy.com, que me levava ao Let Me a Google For You [deixe-me googlar isso para você, em tradução; o site serve para esse tipo de questão que irrita muitos].

Na era do smartphone, não há motivo para perguntar questões outrora aceitáveis: a previsão do tempo, um telefone comercial, o horário de uma loja. Mas algumas pessoas ainda as fazem. E, quando você as responde, elas redarguem com um e-mail de obrigado.

"Tenho declinado de boa parte da tolerância para comunicações desnecessárias porque isso é um fardo e um custo", diz Baratunde Thurston, cofundador do Cultivated Wit, companhia de criatividade cômica. "É quase tão fácil não pensar antes de nos expressarmos porque a expressão é tão barata, ainda mais quando isso oferece custos maiores ao receptor."

Thurston disse que ele se deparou com outro tipo de comunicação enfadonha quando um amigo perguntou, via torpedo, sobre a sua programação para o festival South by Southwest. "Não sabia nem como responder aquilo", diz. "A resposta poderia ser enorme. Não tem jeito de eu digitar a minha programação em um SMS."

Ele disse que pessoas frequentemente lhe perguntam em mídias sociais sobre onde comprar o seu livro, em vez de simplesmente "googlar" a questão. Você já está num computador, ele exclama. "Você está numa coisa que dá a resposta para a coisa que você quer saber!"

Como controlar estes diferentes padrões? Fácil: pense no seu público. Algumas pessoas, especialmente as mais velhas, apreciam uma mensagem de obrigado. Outras, como eu, não querem resposta. "É importante pensar sobre quem é a pessoa do relacionamento", afirma Senning.

A antropóloga Margaret Mead disse, certa vez, que nas sociedades tradicionais, o jovem aprende com o antigo. Mas, nas sociedades contemporâneas, o antigo também pode aprender com o mais novo. Existe aqui uma esperança de que a polidez nunca saiu de moda, mas formas antigas de desperdício de comunicação sim.

Tradução de MARINA LANG

[Fonte: www.folha.com.br]

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