sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

“Entroikado”: a palavra da Língua Portuguesa de 2012


::: A palavra “entroikado” recolheu 32 por cento dos votos dos cibernautas em uma votação organizada pela Porto Editora. “Democracia”, “desemprego” e “solidariedade” foram outras das palavras que reuniram mais votos.

O resultado foi divulgado hoje na Biblioteca José Saramago, em Loures, pelos linguistas da Porto Editora, que publica o seu prestigiado Dicionário da Língua Portuguesa. :::

A “Palavra do Ano” integrava uma lista de dez, escolhidas pela equipa de linguistas do Departamento de Dicionários da Porto Editora, que esteve à votação em linha na Internet desde o início do ano, para a escolha da eleita para marcar 2012.

A lista teve como critérios “a frequência de uso, a relevância assumida ou então, simplesmente, porque se relaciona com algum tema muito marcante”, justificou a editora.

“Entroikado” alcançou 32 por cento dos votos, mais do dobro da palavra “desemprego”, classificada em segundo lugar com 14 por cento das escolhas. Completa o pódio deste ano a palavra “solidariedade”, com 12 por cento das preferências.

Seguiram-se “bosão” de Higgs, com 11 por cento, “manifestação”, com nove, “cortes”, com oito, e, com quatro por cento, as palavras “imposto” e “refundar”.

Na nona posição, com três por cento, ficou “democracia” e, no último lugar, com dois por cento, “TSU”, a sigla de “taxa social única”, à qual a conjuntura atribuiu quase o “estatuto” de acrónimo.

–– “Entroikado” existe? ––
Questionado pela Agência Lusa sobre a palavra escolhida, José Manuel Matias, da Sociedade de Língua Portuguesa (SLP), afirmou tratar-se de um “neologismo”, isto é, a criação de uma nova expressão – “o que é legítimo, porque as línguas são dinâmicas e estão em constante transformação”, acrescentou.

“Não é um vocábulo”, prosseguiu o especialista. “Para o ser, tem de constar no dicionário e, a acontecer – o que duvido –, só daqui a dois ou três anos”, argumentou. “Se há neologismos que vingam e continuam, não será, muito provavelmente, o caso deste”, vaticinou o especialista da SLP.

José Manuel Matias reconhece que a escolha é sugerida pela conjuntura económico-social, mas qualificou-a como “uma brincadeira, ou antes, usando as palavras do [escritor moçambicano] Mia Couto, que cria muitos neologismos, isto será uma ‘brinqueação’”.

A escolha do neologismo “entroikado” reflete a crise económica em Portugal. “Obrigado a viver sob as condições impostas pela ‘troika’” é a principal definição da palavra.

A “troika” é uma equipe de credores internacionais que são membros de três instituições – a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional – responsável por propor as duras condições em troca do resgate financeiro do país, vigente desde maio de 2011.

Em uma segunda definição, a palavra é descrita como um adjetivo que, em seu uso coloquial, serve para descrever algo “que está em uma situação difícil; enrolado, enfastiado”.

–– Sobre a “Palavra do Ano” ––
A iniciativa “Palavra do Ano” é da Porto Editora, que tem uma forte componente de especialização na área dos dicionários e da lexicografia. Em 2009, quando se realizou a eleição pela primeira vez, a “Palavra do Ano” eleita foi “esmiuçar”. No ano seguinte “vuvuzela” foi a eleita, e em 2011 a palavra “austeridade” ficou em primeiro lugar, relegando a “esperança” para o segundo posto.
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–– Extraído da Agência Lusa e da Agência EFE ––

[Fonte: ventosdalusofonia.wordpress.com]

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