:: A Associação Além Guadiana elaborará um banco de dados sonoro com registos dos habitantes que falam a Língua Portuguesa. :::
Feira de Antiguidades diante da igreja de Santa Maria do Castelo:
iniciativas para preservar a Língua Portuguesa na cidade de fronteira entre Espanha e Portugal.
“Olivença é um tesouro. Não há um só lugar na Península Ibérica que tenha a história e as particularidades da localidade, que conta com um passado comum que é necessário projetar para o futuro”, diz Joaquín Fuentes Becerra, presidente da Associação Cultural Além Guadiana.
O português é uma das línguas próprias da cidade, que até hoje é falada pelos mais idosos e que foi usada ininterruptamente desde a Idade Média. No entanto, esta língua materna – e a memória de muitos oliventinos – tem uma data de expiração. Atualmente, os lusofalantes têm mais de 60 anos.
Portanto, para que Olivença – no que lhe faz esta dualidade cultural como única – converta-se em ponta de lança para liderar as políticas de promoção da Língua Portuguesa, e para que esse património intangível perdure ao longo do tempo, foi assinada na Associação Além Guadiana uma convenção-quadro de colaboração com a Universidade da Estremadura e com a Câmara Municipal de Olivença.
Pretende-se, com isso, que as gerações futuras tenham acesso ao português oliventino no futuro, ao mesmo tempo em que se incrementa o valor cultural e patrimonial da cidade.
Entre as ações a efetuar, destaca-se a elaboração de um banco de dados sonoro que permita a recolha da fala do português. O objetivo é que ela possa ser salvaguardada, a fim de evitar o seu desaparecimento junto com as pessoas que ainda hoje a praticam.
– Banco de dados do português oliventino –
Dois membros da Associação ao lado de
um morador de Olivença que fala
a Língua Portuguesa. (Foto: Hoy)
um morador de Olivença que fala
a Língua Portuguesa. (Foto: Hoy)
A partir da Associação, considera-se necessário que as pessoas adquiram consciência do valor da Língua Portuguesa na cidade; por isso, é “urgente e necessária” a sua recuperação.
Para isso, será elaborado um banco de dados sonoro criado a partir dos relatos dos últimos lusofalantes, geralmente pessoas com mais de 65 anos, do sexo feminino e que mantenham a melhor conservação de sua dentição, para que possam contribuir com suas experiências, provérbios, canções ou orações.
A Associação Além Guadiana pede aos vizinhos de Olivença e de suas aldeias, bem como àqueles que viveram na cidade e por algum motivo tiveram de sair dela, para que abram suas portas para oferecer relatos de velhas experiências e questões sociológicas desde o início do século, para ajudar a formar uma história recente da cidade. A pesquisa começará em agosto.
Numa fase posterior, será realizado um estudo linguístico com transcrições fonéticas com a finalidade de obter os traços distintivos do português oliventino, tendo-se em conta a influência da “castelhanização”, e a partir daí, a associação prevê editar uma publicação que irá coletar os registos, para facilitar seu acesso à população.
O trabalho será realizado por Eduardo Naharro, um membro da Associação Além Guadiana. A assinatura desta convenção-quadro está no âmbito do projeto Circuito Turístico por Tierras Rayanas (Circuito Turístico por Terras de Fronteira), enquadrado na Iniciativa Comunitária POCTEP [Programa de Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal] e cofinanciado por fundos FEDER [Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional], que tem uma ajuda de 6.600 euros para cobrir os custos de material e de publicações.
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ANDRADE, Laura Gómez. El portugués oliventino en conserva.
Do jornal Hoy, seção Más Actualidad – Badajoz, Espanha.
Publicado em: 23 jul. 2012.
ANDRADE, Laura Gómez. El portugués oliventino en conserva.
Do jornal Hoy, seção Más Actualidad – Badajoz, Espanha.
Publicado em: 23 jul. 2012.
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– Olivença e a Língua Portuguesa –
Com cerca de 12 mil habitantes, Olivença é cidade que é até hoje motivo de litígio entre Portugal e Espanha, localizada na comunidade autónoma espanhola da Estremadura. Fundada em meados do século XIII, ficou sob administração do então Reino de Portugal entre 1297 e 1801, quando foi anexada à Espanha pelo Tratado de Badajoz. O Congresso de Viena de 1815 determinou a devolução de Olivença a Portugal, mas até hoje isso não aconteceu.
Apesar das questões envolvendo o litígio de fronteira entre os dois grandes países ibéricos, o facto é que não chegaram a abalar as relações entre Portugal e Espanha. Tanto que, com a integração à União Europeia, cidades da parte portuguesa e espanhola da Estremadura, incluindo Olivença, decidiram pela criação de uma “eurorregião” de livre trânsito e cooperação mútua.
Outra iniciativa: a preservação dos antigos nomes portugueses das ruas,
junto aos atuais nomes em espanhol.
Até à década de 1940, Olivença era de maioria de população lusófona. No entanto, por pressões políticas do então Estado Espanhol, a geração nascida nessa época começou a ensinar os seus filhos, nascidos depois de 1950 ou 1960, segundo os casos, a falar o espanhol.
O português oliventino era amplamente falado nos concelhos de Olivença e de Táliga, ambos hoje parte da Espanha. Nas aldeias, onde até o final do século XIX, por estudos à época feitos pelo filólogo e linguista Leite de Vasconcelos, era utilizado unicamente o português para a comunicação do dia a dia, também já houve forte adoção do bilinguismo na década de 1960.
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Hoje, o português oliventino somente é falado entre a população mais idosa. Nas palavras da investigadora Maria de Fátima Matias, da Universidade de Aveiro, em Olivença, o português está “linguística e socialmente desprestigiado”, identificado com “a ruralidade e o analfabetismo, como se fosse o eco do passado”, considerado uma “forma corrupta de falar, uma linguagem desajeitada”.
Hoje, o português oliventino somente é falado entre a população mais idosa. Nas palavras da investigadora Maria de Fátima Matias, da Universidade de Aveiro, em Olivença, o português está “linguística e socialmente desprestigiado”, identificado com “a ruralidade e o analfabetismo, como se fosse o eco do passado”, considerado uma “forma corrupta de falar, uma linguagem desajeitada”.
O último relatório do comité de peritos do Conselho da Europa faz um balanço negativo da aplicação da Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias em Olivença, defendendo uma maior proteção e promoção do português e recomendando que os oliventinos tenham mais acesso à aprendizagem da Língua. Atualmente, o português é ensinado, como opção, nas escolas públicas e privadas do município, leccionado por professores portugueses.
Daí a importância da iniciativa da Associação Além Guadiana de Cultura Portuguesa, fundada em 2008 por cidadãos oliventinos preocupados com a promoção e difusão da Língua Portuguesa de Olivença e com a integração cultural da região à Lusofonia. Mais que a meta de garantir o legado ibérico da “Cidade das Duas Culturas”, existe a meta de manter vivos o património e a memória portuguesa de Olivença.
(Postado por Ronaldo Santos Soares.)
[Fonte: ventosdalusofonia.wordpress.com]
da Associação Além Guadiana em Olivença, em 16 de julho.
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