segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fundação José Saramago inaugurada na Casa dos Bicos em Lisboa

 A Fundação José Saramago foi inaugurada em Lisboa, 
em homenagem ao escritor português vencedor do Nobel de Literatura em 1998.

Foi inaugurada, no último dia 13 de junho, a Fundação José Saramago que passa a funcionar na Casa dos Bicos, em Lisboa. A inauguração ocorreu com a presença do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Silva, e da presidente da fundação, Pilar del Río – que é viúva do grande escritor. 
A abertura da sede da nova fundação ocorreu poucos dias antes de se completarem dois anos do falecimento do único escritor de língua portuguesa vencedor do Prêmio Nobel de Literatura.
José Saramago nasceu em Azinhaga, no Ribatejo, em 1922. Viveu seus últimos anos na ilha de Lanzarote, nas Canárias (Espanha), onde faleceu em 18 de junho de 2010.
A Câmara Municipal de Lisboa cedeu a Casa dos Bicos para as instalações da Fundação José Saramago. “A Câmara de Lisboa teve a coragem de ceder esta magnífica casa. Houve dois arquitetos que trataram do edifício de uma forma maravilhosa. Está uma obra-prima. Foi um esforço extraordinário, e fica para Portugal uma obra muito importante”, falou durante a inauguração o ex-presidente da República Portuguesa Mário Soares, amigo pessoal do escritor.

A jornalista espanhola Pilar del Río casou-se com Saramago em 1988 e, desde então, era a tradutora oficial das obras do escritor para o espanhol. A agora presidente da fundação afirmou que os que ficaram com “a responsabilidade de gerir a Casa dos Bicos e o legado de José Saramago vão procurar ser dignos de tamanho compromisso”. “Neste espaço maravilhoso, tão cheio de história, de arte e literatura, há uma palavra que está banida: o cansaço”, assegurou Pilar del Río. “A Fundação José Saramago foi criada para cuidar do mundo, do meio ambiente e da literatura portuguesa.”
A fundação estará aberta nos dias úteis, entre as 10 e as 18 horas, e aos sábados, das 10 às 14 horas.
Até o fim do mês de junho, a visitação será gratuita. Porém, a partir de julho, os portugueses pagarão três euros de ingresso – entre cinco e seis euros para os visitantes estrangeiros.
Haverá ainda na Casa dos Bicos uma loja com livros de José Saramago em diversas línguas, além de produtos com a logomarca da fundação.
“Vamos viver dos direitos de autor e do nosso trabalho aqui dentro. Não temos qualquer outro apoio oficial e os tempos estão difíceis para conseguir mecenato. Por isso, o público vai ter de pagar entrada”, justificou Pilar del Río.


 Pilar del Río depositou as cinzas de Saramago sob a oliveira no Campo das Cebolas em junho de 2011. (Foto: France-Presse)

Exposição permanente

A Casa dos Bicos hospedará, no segundo andar, uma exposição permanente – A Semente e os Frutos – que mostrará ao público livros traduzidos por Saramago, cartas e textos manuscritos, notas pessoais, agendas e recortes de jornais, além das primeiras edições dos livros do autor em português e em outros 70 idiomas.
As paredes estão recobertas de poesias, trechos de romances e fotos das amizades, da intimidade, do ativismo político – foi militante do Partido Comunista – e da família do autor – como as dos “avós de Azinhaga” que citou no discurso de recebimento do Prêmio Nobel em Estocolmo em 1998.
No espaço da mostra, estão disponíveis recursos audiovisuais com entrevistas, discursos e vídeos documentais.
No fim da exposição, há um espaço que reconstitui o primeiro escritório usado por Saramago onde o autor escrevia suas poesias e romances, com a secretária e objetos pessoais, como os óculos e a máquina de escrever.
O curador da mostra é o poeta e professor Fernando Gómez Aguilera, presidente da Fundação César Manrique, com sede em Lanzarote e que organizou em 2007 a exposição José Saramago: a Consistência dos Sonhos. Essa exposição das Canárias passou por Lisboa e fez um giro pela América do Sul. 


A Casa dos Bicos: parte da história de Lisboa

A Casa dos Bicos abriga a sede da Fundação José Saramago em Lisboa.

Erguida em 1523, perto da Sé de Lisboa, a Casa dos Bicos situava-se num espaço contíguo à muralha da Lisboa medieval, erguida durante o reinado de D. Fernando, no século XIV. Foi a moradia de D. Brás de Albuquerque, filho de Afonso de Albuquerque – governador das Índias, que conquistou Goa em 1510.
Foi recentemente reformada e seu desenho de interiores e remodelação ficaram a cargo dos arquitetos João Santa-Rita e Manuel Vicente. Durante a reforma, que durou quatro anos, houve descobertas arqueológicas no local – como um tanque para salgar peixes da época do Império Romano e trechos da muralha medieval. Os objetos encontrados ficarão agora expostos no andar térreo da casa.
No Campo das Cebolas, em frente à Casa dos Bicos e voltado para o rio Tejo, há uma oliveira, trazida de Azinhaga há exatamente um ano. Sob a oliveira, foram depositadas as cinzas do grande escritor, cobertas por terra de Lanzarote. Ao lado, um banco para leitura e, próximo, uma placa com a frase que encerra Memorial do Convento, publicado em 1982: “Mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia”.


– Extraído da Agência Lusa e da Agence France-Presse –

[Fonte: ventosdalusofonia.wordpress.com]

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