quinta-feira, 28 de junho de 2012

Brasil: dialeto do baixo-alemão torna-se segunda língua oficial de cidade gaúcha

No Brasil, quase dois milhões de pessoas falam o hunsriquiano rio-grandense, especialmente nas cidades que foram fundadas por imigrantes alemães. O dialeto é ensinado nas escolas e é parcialmente reconhecido como segunda língua oficial. Mas aí já vai um longo caminho. 

 – A língua dos montes Hunsrück –

“Hunsrickisch wód de énsiche chprooch, wo ich wust chpreche bis ich in di chuhl gang sinn“, disse um jovem do Brasil. Ele chamou seu dialeto de Riograndenser Hunsrückisch (hunsriquiano rio-grandense), que é composto de partes do chamado Hunsrück Platt – o baixo-alemão dos montes Hünsruck –, derivado do baixo-alemão de Morbach, Idar-Oberstein, Rheinböllen, Simmern e Kastellaun – cidades do Estado da Renânia-Palatinado, sudoeste da Alemanha.

No entanto, esse dialeto tornou-se uma língua de ortografia baseada no português, é ensinado nas escolas e às vezes até reconhecido como um segunda língua oficial. Mas até aí, foi preciso que passasse o tempo.

– A iniciativa tem sucesso –
 
Para muitas crianças, o hunsriquiano é a primeira língua que aprendem em casa com seus pais ou avós. No entanto, na escolam eles devem falar português, que lhes parece como uma língua estrangeira.
O apoio ao hunsriquiano formou-se em 2004, com a iniciativa “Opção pelo Hunsrik”, de Solange Hamester Johann, autora do manual Mayn Eyerste 100 Hunsrik Werter (Minhas Primeiras 100 Palavras em Hunsriquiano). Juntamente com o professor Mabel Dewes, em 2004, eles convidaram cientistas alemães e especialistas ao Brasil para trabalhar em uma nova ortografia do dialeto. Isto deve ser mais adaptado à pronúncia do português para ajustar a ortografia do hunsriquiano rio-grandense ao tipo de escrita na região da América Latina.

Assim, a linguagem deve ser fortalecida e preservada para as futuras gerações para que permaneça, diz Dewes. A nova ortografia é usada agora nos jornais locais, nas revistas e nas histórias em quadrinhos para crianças.

– Ensino da língua materna –

Em 2009, sucedeu-se a iniciativa de aplicar o ensino do hunsriquiano nas escolas primárias do município de Santa Maria do Herval, no Rio Grande do Sul. A professora Ursula Wiesemann, que tem trabalhado como especialista na nova ortografia, explica que é direito dos filhos de imigrantes alemães o de ser alfabetizado em sua língua nativa. Metade das classes e uma parte da alfabetização passou a ser agora realizada no hunsriquiano rio-grandense. Isso reforça a confiança das crianças que falam, principalmente na área de recreação, no dialeto local.

O sucesso da iniciativa pode ser visto também em outras áreas: em diversos jornais locais, Solange Hamester Johann escreve agora uma página própria de Hunsrück, três estações de rádio locais colocaram mais programas em hunsriquiano, e o padre católico da igreja prega no dialeto e, com isso, motiva até mesmo os coirmãos doutras igrejas.

Linguistas, como Solange Hamester Johann, Ursula Wiesemann e Cléo Altenhofen,
estão à frente do trabalho de ensino e preservação do hunsriquiano rio-grandense.

Num Estado vizinho, chega-se mesmo a ir mais longe, para que seja introduzido o hunsriquiano como a segunda língua oficial auxiliar. Lá a língua será agora discutida em sala de aula e será falado nos órgãos públicos o dialeto, juntamente com o português. O próximo passo será entregar as aulas de hunsriquiano para além da quarta série e treinar professores nativos. “Por que o hunsrik é a língua germânica mais falada no Rio Grande do Sul e, mesmo assim, não está incluída no Censo?”, diz Solange Hamester Johann. Isso deve mudar em um futuro próximo.

Uma vez que agora existe, porém, uma ortografia adaptada ao português, o alto-alemão no Brasil vai-se perdendo cada vez mais. Enquanto o português é usado como base para discutir o hunsriquiano rio-grandense, o alto-alemão torna-se supérfluo. Os falantes nativos de alemão terão dificuldades para ler e entender o dialeto.

Assim, o hunsriquiano brasileiro acopla-se acada vez mais ao hunsriquiano falado na Alemanha. Por isso, a resistência vai se formando agora no Brasil: o linguista Cléo Altenhofen, considerado um especialista em hunsriquiano, exige uma ortografia para o hunsriquiano mais orientada para a ortografia da língua alemã.

No entanto, a iniciativa “Opção pelo Hunsrik” alcançou grande sucesso. Enquanto isso, há mesmo no Brasil uma tendência de outras línguas que surgiram a partir da imigração, e que ainda são dificilmente usadas na fala, servirem-se em algumas comunidades como língua cooficial. A tolerância para com os dialetos aumentou após a fase de imigração.

Sob o lema “Das is unsere chprooch!” (“Esta é nossa língua!”), há um blogue para leitura sobre o hunsriquiano rio-grandense, com pequeno texto em hunsriquiano e em português, e exercícios de gramática.

(Tradução de Ronaldo Santos Soares)
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As construções de Santa Maria do Herval, no Rio Grande do Sul, são testemunho da influência cultural dos imigrantes alemães que chegaram à região no século XIX.

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– Um pouco mais sobre o hunsriquiano do Brasil –

O hunsriquiano é falado por aproximadamente um milhão de pessoas, nos Estados do Espírito Santo, do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Nas cidades de Antônio Carlos, em Santa Catarina, e de Santa Maria do Herval, no Rio Grande do Sul, a língua tem caráter cooficial ao lado do português.

A língua foi trazida por imigrantes alemães que vieram à região poucos anos depois da independência do Brasil, ocorrida em 1822. Por isso, a língua, vinda do baixo-alemão, tornou-se praticamente de fala restrita no sul do Brasil, enquanto na Renânia-Palatinado foi cada vez mais tornando-se predominante o alto-alemão, que é a base da língua alemã padrão.

 BOST, Bodo. Brasilien: Hunsrücker Platt wird zweite Amtssprache.
 Do sítio Volksfreund.de – seção Nachrichten, subseção Region – Hochwald.
 Tréveris, Renânia-Palatinado, Alemanha.
 Publicado em 23 maio 2012.


[Fonte: ventosdalusofonia.wordpress.com]

2 comentários:

  1. Caros amigos,

    Muito interessante essa matéria, que copiei em nossa página abaixo. Aqui em Petrópolis, para vieram inúmeros colonos alemães, da região da Renânia-Palatinato, e onde temos, inclusive, os Quarteirões Siméria e Castelânea (Simmern un Kastellaun), nossos bisavós também falavam provavelmente o hunsrikiano. Auf Wiedersehen!

    http://imigrantesalemaesempetropolis.blogspot.com.br/

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  2. Por que escrevem as palavras dessa maneira errônea?

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