Luciano Caetano da Rosa, 68 anos, natural de Beja, doutor em Letras atualmente aposentado, foi leitor de português na Universidade de Humboldt de Berlim, e metodólogo na Escola Europeia de Berlim, tendo sido também, na mesma cidade-estado, coautor dos programas de ensino do português no ensino secundário. É membro fundador das associações internacional e alemã de lusitanistas.
Há um bejense entre os editores da revista “Lusorama”, publicação alemã que se dedica aos estudos de filologia, linguística, literaturas lusófonas e didática do português. É o doutor em Letras Luciano Caetano da Rosa, que aqui nos explica o interesse germânico pela lusofonia, essa “entidade caleidoscópica”, apetecível quer a académicos, quer à comunidade em geral.
A revista alemã “Lusorama” perfaz no seu último número 100 volumes e 30 anos de existência. O que é que este percurso diz sobre o interesse da comunidade académica alemã face ao mundo lusófono?
O interesse vem de longe. O leitor alemão conhece autores lusófonos/lusógrafos através de traduções de grande qualidade e da leitura desses autores em português: Camões, Vieira, Eça, Machado de Assis, Pessoa, José Cardoso Pires, Saramago, João Ubaldo Ribeiro… Na maior feira internacional do livro, em Frankfurt, os pavilhões dos países de língua portuguesa aumentam. O mundo lusófono não se limita, contudo, à língua, à literatura e à cultura dos países da CPLP. A lusofonia é uma identidade complexa, porque assenta numa entidade caleidoscópica, de natureza linguística, literária e cultural, mas toca muitos domínios que a tornam apetecível, não só a académicos, como à sociedade em geral nas vertentes social, económica, política, religiosa, ambiental, geoestratégica, militar, histórica, diplomática… talvez para alguns a lusofonia seja apenas nova forma de neocolonialismo.
Em seu entender, o interesse pelo Brasil é cada vez maior, e também Angola está a despertar cada vez mais as atenções. Portugal surge, assim, muito diluído no imenso universo lusófono?
O Brasil e Angola são países com vocação de grandes potências no Atlântico Sul. São Paulo é, fora da Alemanha, o maior centro industrial alemão. Angola é um país potencialmente riquíssimo. Portugal não surge diluído no imenso universo da lusofonia, mas terá que saber acautelar interesses próprios. Como matriz linguística e uma cultura histórica imensa, Portugal é um país pequeno, mas não é um pequeno país. Só na Torre do Tombo há mais de 100 quilómetros de estantes com documentação. Pondo de parte todo o tipo de dominação nas suas relações, Portugal desempenhará sempre um papel fundamental na lusofonia, através da cooperação, da paz e da amizade entre os povos.
Nas escolas e nas universidades alemãs, quem aprende e estuda a língua portuguesa e por quê?
Na Alemanha, como noutros países de língua alemã, pode-se estudar português em universidades, universidades populares, politécnicos, em liceus e, nos níveis primário e secundário, em escolas europeias (ensino bilíngue), assim como na rede de Ensino do Português no Estrangeiro (EPE). Há ainda muitas escolas de línguas (privadas). As motivações são variadas: gostar da língua, ter estado num país lusófono, ter amigos, namorados portugueses, brasileiros, etc., querer arranjar um emprego, dever realizar trabalhos de qualquer natureza num país lusófono…
A Associação Alemã de Lusitanistas (DLV), qual tem sido, concretamente, a sua ação?
Há associações que defendem os interesses do português no espaço de língua alemã: a AIL- Associação Internacional de Lusitanistas e a DLV. Fui cofundador das duas: a AIL, num congresso em Poitiers, em 1984; e a DLV, em Frankfurt, em 1998. Ambas fomentam estudos de língua portuguesa, organizam congressos na Alemanha e no estrangeiro, publicam atas, colaboram com universidades e outras instituições nacionais e estrangeiras…
Carla Ferreira
[Fonte: www.ambaal.pt]
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