Por SYLVIA COLOMBO
enviada especial a BOGOTÁ
Uma homenagem ao colombiano Gabriel García Márquez,
morto no dia 17, e uma celebração da literatura peruana marcam a nova edição de
Feira do Livro de Bogotá (Filbo) que começa hoje, com a palestra do Nobel Mario
Vargas Llosa.
O encontro, um dos mais importantes das letras
hispano-americanas, vai até dia 12 de maio. O Brasil participa de forma
modesta, com só um autor de peso, o carioca Paulo Lins ("Cidade de
Deus").
Mario Vargas Llosa encabeça comitiva de mais de 60
autores peruanos: ficcionistas, não-ficcionistas, poetas, jornalistas e
dramaturgos.
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"Será um modo de marcar o bom momento da
literatura peruana. Há anos que vem se consolidando um conjunto com valores de
várias áreas, vai ser interessante ver tudo isso junto", diz Jeremías
Gamboa à Folha.
Tendo como padrinho literário o autor de
"Pantaleão e as Visitadoras", Gamboa é a nova revelação peruana. Seu novo
livro, "Contarlo Todo", sairá neste ano no Brasil.
O "boom" peruano explica-se por um lado
pela tradição literária, que construiu um contexto propício no país.
Terra de clássicos da literatura e do ensaio, como
"Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana" (José Carlos
Mariátegui) e "Os Rios Profundos" (José Maria Arguedas), o Peru
colaborou para a construção do pensamento político local e a formação de uma
literatura regional que questiona a herança colonial, incorpora elementos
estrangeiros e traz à luz conflitos ancestrais vividos nos grandes centros
latino-americanos.
A outra ponta da explicação do sucesso tem a ver
com a economia. Um dos países que mais cresce na América Latina, o Peru vê sua
cultura florescer, com destaque para gastronomia e literatura.
"Antes era necessário para qualquer autor
peruano buscar o aval e o apoio financeiro do mercado espanhol, hoje não é. Há
autores que já constroem sua obra aqui, como o Alonso Cueto ("La Hora Azul"),
que é um veterano, ou eu mesmo", diz Gamboa, que escreve na imprensa local
e dá aulas de literatura.
Autor de "Abril Rojo", vencedor do prêmio
Alfaguara e lançado no Brasil, Santiago Roncagliolo concorda: "Os leitores
latino-americanos já são suficientes para sustentar uma indústria literária sem
depender da Europa. No caso do Peru, sempre houve uma independência de pensamento
e agora trata-se de uma independência também do ponto de vista do financiamento
da cultura".
A Filbo também reunirá sete grifes da cozinha
peruana no pavilhão de exposições.
A homenagem a García Márquez está sendo construída
às pressas. Sua morte apanhou os organizadores já nos trâmites finais da
preparação da programação. Ele será lembrado em palestras, shows e lançamentos.
O jornalismo terá um foro especial:
"Periodismo, Conflicto y Memoria", que refletirá temas contemporâneos
do continente, com atenção para a Colômbia, que enfrenta campanha eleitoral
(eleições presidenciais em maio) e a tensão de uma negociação iniciada entre o
governo e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
[Foto: Leonardo
Muñoz/Efe – fonte: www.folha.com.br]
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