quarta-feira, 30 de abril de 2014

Feira do Livro em Bogotá vai celebrar literatura peruana

Por SYLVIA COLOMBO
enviada especial a BOGOTÁ

Uma homenagem ao colombiano Gabriel García Márquez, morto no dia 17, e uma celebração da literatura peruana marcam a nova edição de Feira do Livro de Bogotá (Filbo) que começa hoje, com a palestra do Nobel Mario Vargas Llosa.

O encontro, um dos mais importantes das letras hispano-americanas, vai até dia 12 de maio. O Brasil participa de forma modesta, com só um autor de peso, o carioca Paulo Lins ("Cidade de Deus").

Mario Vargas Llosa encabeça comitiva de mais de 60 autores peruanos: ficcionistas, não-ficcionistas, poetas, jornalistas e dramaturgos.

O peruano Mario Vargas Llosa (Nobel de Literatura em 2010), na capital colombiana



"Será um modo de marcar o bom momento da literatura peruana. Há anos que vem se consolidando um conjunto com valores de várias áreas, vai ser interessante ver tudo isso junto", diz Jeremías Gamboa à Folha.

Tendo como padrinho literário o autor de "Pantaleão e as Visitadoras", Gamboa é a nova revelação peruana. Seu novo livro, "Contarlo Todo", sairá neste ano no Brasil.

O "boom" peruano explica-se por um lado pela tradição literária, que construiu um contexto propício no país.

Terra de clássicos da literatura e do ensaio, como "Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana" (José Carlos Mariátegui) e "Os Rios Profundos" (José Maria Arguedas), o Peru colaborou para a construção do pensamento político local e a formação de uma literatura regional que questiona a herança colonial, incorpora elementos estrangeiros e traz à luz conflitos ancestrais vividos nos grandes centros latino-americanos.

A outra ponta da explicação do sucesso tem a ver com a economia. Um dos países que mais cresce na América Latina, o Peru vê sua cultura florescer, com destaque para gastronomia e literatura.

"Antes era necessário para qualquer autor peruano buscar o aval e o apoio financeiro do mercado espanhol, hoje não é. Há autores que já constroem sua obra aqui, como o Alonso Cueto ("La Hora Azul"), que é um veterano, ou eu mesmo", diz Gamboa, que escreve na imprensa local e dá aulas de literatura.

Autor de "Abril Rojo", vencedor do prêmio Alfaguara e lançado no Brasil, Santiago Roncagliolo concorda: "Os leitores latino-americanos já são suficientes para sustentar uma indústria literária sem depender da Europa. No caso do Peru, sempre houve uma independência de pensamento e agora trata-se de uma independência também do ponto de vista do financiamento da cultura".

A Filbo também reunirá sete grifes da cozinha peruana no pavilhão de exposições.

A homenagem a García Márquez está sendo construída às pressas. Sua morte apanhou os organizadores já nos trâmites finais da preparação da programação. Ele será lembrado em palestras, shows e lançamentos.

O jornalismo terá um foro especial: "Periodismo, Conflicto y Memoria", que refletirá temas contemporâneos do continente, com atenção para a Colômbia, que enfrenta campanha eleitoral (eleições presidenciais em maio) e a tensão de uma negociação iniciada entre o governo e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

[Foto: Leonardo Muñoz/Efe – fonte: www.folha.com.br]



Sem comentários:

Enviar um comentário