O português “só de Portugal” é na realidade uma língua pouco
importante, a nível europeu e mundial, mas em conjunto com o português
dos outros países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)
seria uma das línguas mais importantes do mundo.
Aparecem por vezes na imprensa referências estatísticas referindo a grande importância da língua portuguesa, atribuindo-lhe habitualmente uma classificação de 5ª, 6ª ou 7ª língua mais falada no mundo. Ora isto de números é um tanto complicado, pois estão sempre a mudar e o seu total nunca consegue estar certo por muito tempo. Vamos tentar analisar alguns dos números hoje disponíveis.
No nosso planeta vivem cerca de 7 biliões e 200 milhões de pessoas (número aproximado, pois estão sempre a nascer e a morrer pessoas) e considera-se serem faladas perto de 5.600 línguas (incluindo dialetos e falares locais), das quais só cerca de 150 são consideradas importantes, por terem mais de um milhão de falantes.
O nosso país faz parte desse pelotão da frente, pois Portugal já ultrapassa os 10 milhões de habitantes! Um número impressionante aos nossos olhos, mas diminuto a nível mundial.
Deixemos por agora estes imponentes números em paz e comecemos a nossa análise descendo bem cá em baixo, a nível quase local.
Investiguemos a população de uma pequena vila portuguesa.
Em Manteigas, na Serra da Estrela, vivem hoje 2.800 pessoas (número oficial, possivelmente desatualizado, pois deve ter nascido ou morrido alguém até esta frase ter chegado aos vossos olhos).
Essas pessoas são falantes de português (embora vivam na vila um chinês e várias famílias de ex-emigrantes que falam francês com os filhos pequenos… com o que se dão ares, mas acabam por baralhar as nossas contas). Isto porque o município tem uma população flutuante que no verão poderá rondar as 3.400 pessoas, entre turistas nacionais e estrangeiros e emigrantes que vieram passar férias.
É óbvio que todos os manteiguenses falam português. Mas será que todos os habitantes de Manteigas sabem ler e escrever? E os que forem só falantes deverão figurar na estatística, a par dos que também conhecem a escrita?
A verdade é que há que distinguir entre saber falar uma língua - o que é fácil e acontece a todos nós depois de nascermos - e saber escrever e ler uma língua - o que é muito mais difícil, exige anos de frequência escolar e nem sempre dá bons frutos.
Eu próprio, teoricamente um especialista, tenho frequentes dúvidas e faço muitas vezes erros ao escrever. E não conheço nenhuma pessoa, por mais culta que seja, que escreva em português sem fazer erros.
Mas voltemos aos manteiguenses e aos números.
Acontece que há na vila habitantes que também arranham o espanhol, o francês e até o inglês, pelo menos. Será que esses seus conhecimentos deveriam ser deslocalizados e acabar contabilizados nas estatísticas dessas outras línguas, para engrossar o seu número de falantes?
(Curiosamente isso acontece entre nós, quando dizemos que Paris é a segunda maior cidade em que se fala português…)
Os problemas encontrados na pequena vila de Manteigas repetem-se em todos os outros concelhos e distritos do país. A contabilidade torna-se cada vez mais confusa e muito pouco fiável.
Ora em Portugal há 308 municípios e 18 distritos. Na União Europeia há 28 países e no conjunto da Europa são 50, incluindo o Vaticano.
Nos cinco continentes do mundo existem 196 países, em que vivem mais de 7,2 biliões de pessoas.
Cada uma dessas pessoas fala pelo menos a sua língua-mãe, mas muitos habitantes também dominam uma ou mais línguas estrangeiras e até por vezes um ou mais dialetos.
A contagem torna-se cada vez mais difícil, e com a crescente confusão que estes números demonstram, torna-se impossível estabelecer listas de grandeza, mesmo que só aproximada, das línguas mundiais.
Vendo bem as coisas, até se deveriam considerar duas listas de línguas:
– Uma lista classificando os países pelo número (aproximado) de falantes. Nela a inclusão de Portugal não tem grande valor, pois contando ou não o nosso país (10,6 milhões de habitantes) o lugar da língua portuguesa no mundo manter-se-ia constante. É que graças aos muitos “golos” marcados pelo Brasil, uns meros 10 milhões a mais ou a menos não alteram a posição do português na classificação mundial.
– Outra lista classificando as línguas pela sua importância económica, cultural e política a nível mundial. Aí o português até sobe alguns lugares, ao contrário do que se verifica, por exemplo, com o mandarim, língua que dentro do país é falada por milhões de chineses, mas fora da China perde muita da sua importância.
Destas duas listas encontrei uma série de tabelas, mais ou menos oficiais, mas com diferentes datas de atualização (entre 2009 e 2014), pelo que é impossível obter conclusões 100% exatas.
Tentei harmonizar as tabelas que me pareciam mais confiáveis, procurando aproximá-las. Mas devo honestamente ressalvar que a versão aqui apresentada pode e deve conter erros e necessitar de urgentes atualizações, que poderão levar a alterações de 1, 2 ou mesmo 3 lugares na classificação.
Estas listas são meramente aproximativas. Para se obterem dados mais corretos seria necessário recorrer a outras fontes, que não parecem estar disponíveis.
Há que referir que nestas listas de nível mundial o português é apresentado como uma única língua, englobando Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Timor etc.
Há, no entanto, uma “pequena batota” nestes números: estas listas têm por base uma língua única, que teoricamente respeitaria o Acordo Ortográfico, com o qual ainda muita gente ainda não concorda.
Para os portugueses que o rejeitam e se recusam a segui-lo, a realidade é infelizmente outra: o português é uma língua pouco importante, de reduzida expansão local, mas (animem-se!) mesmo assim integrada no lote das 150 línguas mais faladas no mundo!
Existem, porém, pelo menos duas outras listas, relativas à importância das principais línguas mundiais, nas quais não há qualquer dúvida ou erro:
Nas Nações Unidas, em que são consideradas as línguas pela sua importância política a nível mundial, são adotadas somente 6 línguas de trabalho.
Por ordem alfabética: árabe, chinês (mandarim), espanhol, francês, inglês e russo.
Na União Europeia estão atualmente 28 países, embora a Europa tenha um total de 50 países, incluindo o Vaticano. Os 28 países da EU têm os seus dados bem analisados e comparados. Dada a grande quantidade de línguas do seu conjunto, tornou-se temporal e economicamente impossível traduzir para todas as línguas da EU todos os discursos e intervenções em tempo real e imprimir depois as respetivas traduções. Foi por isso decidido haver só 3 línguas de trabalho: inglês, francês e alemão. As restantes 25 ficaram de fora e nesse número está obviamente incluído o português.
A conclusão a extrair da análise destes números é que o português “só de Portugal” é na realidade uma língua pouco importante, a nível europeu e mundial, mas em conjunto com o português dos outros países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) seria uma das línguas mais importantes do mundo.
Como não é pela grandeza dos números que se mede o valor de um país, nem a importância de uma língua, podemos todos continuar a viver de acordo com as nossas preferências. Tanto os que preferem manter-se no aconchego da sua casinha como os que se sentem bem viajando por todo o mundo.
Nas Nações Unidas, em que são consideradas as línguas pela sua importância política a nível mundial, são adotadas somente 6 línguas de trabalho.
Por ordem alfabética: árabe, chinês (mandarim), espanhol, francês, inglês e russo.
Na União Europeia estão atualmente 28 países, embora a Europa tenha um total de 50 países, incluindo o Vaticano. Os 28 países da EU têm os seus dados bem analisados e comparados. Dada a grande quantidade de línguas do seu conjunto, tornou-se temporal e economicamente impossível traduzir para todas as línguas da EU todos os discursos e intervenções em tempo real e imprimir depois as respetivas traduções. Foi por isso decidido haver só 3 línguas de trabalho: inglês, francês e alemão. As restantes 25 ficaram de fora e nesse número está obviamente incluído o português.
A conclusão a extrair da análise destes números é que o português “só de Portugal” é na realidade uma língua pouco importante, a nível europeu e mundial, mas em conjunto com o português dos outros países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) seria uma das línguas mais importantes do mundo.
Como não é pela grandeza dos números que se mede o valor de um país, nem a importância de uma língua, podemos todos continuar a viver de acordo com as nossas preferências. Tanto os que preferem manter-se no aconchego da sua casinha como os que se sentem bem viajando por todo o mundo.
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