Por GABRIELA SÁ PESSOA
A empresária Simone Félix, 29, tem na ponta da língua o
calendário de lançamentos de romances eróticos no Brasil. Ela não perde um
evento do gênero.
De lápis no olho e batom pink,
uma pulseira dourada com uma miniatura da torre Eiffel se destaca no visual de
Simone. "É igual à que o Christian Grey deu para a Anastasia no
livro", explica, mostrando os detalhes da bijuteria que mandou fazer.
O título em questão é o
best-seller "Cinquenta Tons de Cinza", de E.L.James.
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Leitoras se reúnem em lançamento de romance erótico 'Easy', de Tammara Webber,
na Livraria Cultura em São Paulo
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"Chega a ser assustador, elas leem muito", diz Quézia
Cleto, editora da Paralela, selo da Companhia das Letras que tem eróticos no
catálogo. Publicado pela Intrínseca em 2012, a trilogia de romances
classificada como "soft porn" (pornô leve) vendeu 5,5 milhões de
exemplares no país e é uma espécie de fetiche para leitoras que, como Simone,
transformaram-se em consumidoras vorazes do gênero.
Atendendo a pedidos de fãs, a casa comprou os direitos de tradução
da série "Sinners on Tour", de Olivia Cunning. "Dentro da
ficção, é o gênero que mais vende e, ao mesmo tempo, sofre um certo preconceito
por não ser tão resenhado", comenta Cleto.
HOMEM NÃO ENTRA
A divulgação do que há de novo na literatura erótica depende do boca a boca entre leitoras, que se organizam em comunidades online.
Em fóruns como o grupo do Facebook "Romances e Livros Hot", com quase 38 mil membros, elas trocam impressões sobre leituras, tiram dúvidas afetivas e combinam encontros para falar de erotismo e literatura. Homem não entra: o papo é só entre garotas, que em geral têm entre 20 e 30 anos.
"A gente se torna amiga e quebra alguns tabus. Algumas se descobrem sexualmente [nas conversas]", diz Patrícia Lima, 25, criadora do "Romances e Livros Hot".
A união das leitoras também faz a força de autoras nacionais, como
a professora capixaba Nana Pauvolih, 40 anos, que publica seu primeiro romance
erótico, "Redenção de Um Cafajeste", em março pela Rocco.
Com mais de 20 mil exemplares de livros digitais vendidos de
maneira independente pela Amazon, ela triplicou sua renda e deixou o emprego
como professora.
A editora de Pauvolih, Karina Pinno, da Rocco, explica a aposta
nesse novo perfil de leitora: "Ela busca livros eróticos em plataformas
digitais. São românticos como um novelão, mas abriram a porta do quarto".
"É como no cinema: você mostra o amasso do casal na cama. A
leitora passou a ver isso na literatura", completa.
CHICOTES
Entre quatro paredes, a paixão por "Cinquenta Tons"
ampliou a clientela de artigos eróticos. Segundo pesquisa da Associação
Brasileira de Mercado Erótico, divulgada em fevereiro, o mercado desses
produtos cresceu 35% desde que a trilogia de E.L.James chegou às livrarias.
As cenas de dominação e sadomasoquismo, que caracterizam a relação
entre Grey e Anastasia, aumentaram a oferta desse fetiche em 60% nas
prateleiras do país, e "brinquedos" como algemas e chicotes venderam
28% mais.
Simone Félix dispensa o "sado", mas conta que a leitura
de eróticos inspirou a relação com o marido. "'Cinquenta Tons' salvou
relacionamentos, viu? Abriu a mente de algumas mulheres."
[Foto: Ernesto Rodrigues - fonte: www.folha.com.br]
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