A insegurança e a onda de protestos nas ruas também foram lembradas
Por Nelson Barros Neto e Paulo Peixoto
Estrangeiros em visita ao país durante a Copa das Confederações reclamaram da dificuldade de conseguir informações, do transporte público e até do jeito de dirigir dos brasileiros. A insegurança e a onda de protestos nas ruas também foram lembradas.
Problemas elementares de sinalização, como traduções erradas em inglês em placas em aeroportos e ruas, foram outros alvos de crítica.
“Sou venezuelana e isso arranha a imagem da nossa América Latina. Fica parecendo uma coisa que não é”, disse a diplomata Isabel di Carlo, 35, que esteve na Fonte Nova para o jogo Brasil x Itália com outros quatro compatriotas, em Salvador.
Ela foi um dos cerca de 20 mil viajantes internacionais que chegaram ao país nas últimas duas semanas de partidas, de acordo com o Ministério do Turismo - 70% do total de turistas vieram por causa do torneio, diz a pasta.
Para efeito de comparação, a expectativa do governo federal é de 600 mil na Copa do Mundo, ano que vem.
Isabel elogiou bastante as belezas e a hospitalidade da capital baiana. Mas criticou a violência e as manifestações, ainda que justas. “É lamentável que as pessoas não entendam a importância de um evento desses para toda a região. Futebol precisa ser acompanhado só por festa.”
Homura Tadashi, 52, e Kenji Reizawa, 35, que estiveram em Belo Horizonte para assistir ao jogo Japão x México, ficaram encantados com a comida mineira. Dos restaurantes, só se queixaram da falta do cardápio em inglês.
Reizawa disse que os guias impressos não trazem muitas informações sobre a cidade, focam mais nos arredores, como a cidade histórica de Ouro Preto, a 100 km da capital.
Perto dali, o trio mexicano formado pelo desenhista gráfico Juan Pablo Gutierrez, 29, o engenheiro Angel Arciniega, 47, e o empresário Marco Avila, 39, haviam chegado de carro, vindo do Rio. Por isso, estavam espantados com a forma de dirigir das pessoas.
"Os caras são muito loucos", disse Gutierrez, um tanto impressionado com "os riscos" que o excesso de velocidade representa especialmente para os pedestres na área central de Belo Horizonte.
Da comida, reclamaram muito do preço e do atendimento que tiveram. "Os serviços também não são bons", afirmou o engenheiro.
Pela terceira vez na Bahia, a russa Nadezhda Tarasenko, 30, analista de mercado, em um passeio pelo Pelourinho, reclamou da sujeira e da segurança da cidade.
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Análise: Língua é
dificuldade para estrangeiros, mas transporte é mais grave
Por FRANÇOIS COLIN
Nas últimas semanas, visitei três estádios (Maracanã, Castelão e Fonte Nova) e quatro cidades-sedes da Copa (São Paulo, Rio, Fortaleza e Salvador) e estou preocupado com o torneio do ano que vem.
Os novos estádios são bonitos, não se pode negar, mas os milhares de torcedores que virão da Europa só estarão nas arenas por algumas horas, a cada dois ou três dias.
Creio que eles se surpreenderão muito com o que vão encontrar no Brasil.
Mas, acima de tudo, creio que a maior preocupação será o transporte.
O Brasil é grande. A próxima Copa será realizada num continente e não num país.
Tive problema para chegar de Fortaleza a Salvador a tempo para o jogo do dia seguinte. O que acontecerá quando forem 500 mil visitantes?
E viagens aéreas são a única opção, não só por causa das distâncias como por causa das estradas, que são realmente horríveis e perigosas.
Em janeiro deste ano, cobri a Copa Africana de Nações, na África do Sul. Desembarquei em aeroportos esplêndidos e percorri o país de carro em novas e excelentes rodovias. Tudo isso é legado da Copa do Mundo de 2010, e é o que não estou vendo no Brasil.
A Fifa deveria ter dito aos brasileiros que “não queremos elefantes brancos; podemos nos ajeitar com 10, nove ou até mesmo oito estádios”.
O Brasil teria economizado muito dinheiro e ainda assim teria construído diversos estádios novos. Nada contra isso. Um país que ama o futebol precisa de estádios novos e seguros, mas não deveria jogar dinheiro fora em concreto.
FRANÇOIS COLIN, 64, é repórter esportivo chefe do “De Standaard/Het Nieuwsblad”, em Bruxelas, e já cobriu oito Copas
Tradução de PAULO MIGLIACCI
[Fonte: www.folha.com.br]
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